Livraria Cultura começa a ser desmontada. ‘É de chorar’, comenta funcionária

Justiça decretou falência após considerar que plano de recuperação não vinha sendo cumprido

Espaço no Conjunto Nacional, com 3.500 metros quadrados, chegou a ser descrito por José Saramago como “catedral de livros”

RBA.- Marco da cidade de São Paulo, a Livraria Cultura instalada no Conjunto Nacional, região da avenida Paulista, começou a ter livros retirados depois da decretação judicial de falência. “É de chorar”, comentou uma funcionária. A rigor, as prateleiras já estavam desabastecidas há algum tempo no espaço de 3.500 metros quadrados, que chegou a ser descrito por José Saramago como “catedral de livros”. Existe outra unidade física, em Porto Alegre.

Em outubro de 2018, a Cultura entrou com pedido de recuperação judicial e pretendia, segundo divulgou na ocasião, “normalizar, em curto espaço de tempo, compromissos firmados com nossos fornecedores, preservando a saúde da empresa criada por Eva Herz em 1947, a manutenção de empregos e gerando mais estímulo para crescer”. O plano não foi cumprido, e a falência passou a ser uma possibilidade desde 2020.

Tristeza e descaso

O complexo inclui um teatro, justamente com o nome da fundadora, e café. Ali sempre eram realizados lançamentos disputados. Um deles, por sinal, está previsto para amanhã (11) à tarde: a escritora Paula Savone está publicando o livro A fazedora de nuvens.

Ontem (9), o juiz Ralpho Waldo De Barros Monteiro Filho, da 2ª Vara de Falências e Recuperações Judiciais de São Paulo, decidiu pela falência da Livraria Cultura. Admitiu tristeza e disse que o papel da empresa é notório. “E não apenas para a economia, mas para as pessoas, para a sociedade, para a comunidade não apenas de leitores, mas de consumidores em geral”, acrescentou. Em relação ao processo de recuperação, ele chegou a falar em “descaso”. E apontou várias pendências, como falta de quitação de débitos trabalhistas, o que deveria ter ocorrido até meados de 2021.

Mudanças de mercado

Em 2015, durante sabatina com o então prefeito paulistano Fernando Haddad, o secretário municipal de Recursos Humanos, Eduardo Suplicy, foi hostilizado por manifestantes antipetistas. O fato de o episódio ter ocorrido dentro da Livraria Cultura causou indignação e até proposta de boicote ao local. Na época, o próprio Suplicy isentou a livraria de responsabilidade. E o diretor Fábio Herz lamentou o fato e acrescentou que a Cultura “é um espaço democrático, suprapartidário e de acesso irrestrito a todo e qualquer tipo de público”.

As causas podem ser várias, desde o modelo de gestão até o crescimento do mercado on-line e o surgimento de várias livrarias de pequeno porte. Assim, em 2021, último dado disponível na Câmara Brasileira do Livro (CBL), foram produzidos 391 milhões de exemplares no país, com 48 mil títulos, sendo 24% novos e 76% reimpressões. Os dados mostram tendência de queda nas vendas ao mercado (e alta ao governo, pelo menos em 2021). As vendas em livrarias e nas exclusivamente virtuais praticamente se equivaliam (30% e 29,9%, respectivamente).

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