Três líderes camponeses colombianos foram presos arbitrariamente entre terça (15) e quarta-feira (16). Teófilo Acuña, Adelso Gallo e Robert Daza fazem parte do Congresso dos Povos e da Coordenação Nacional Agrária.
As detenções são consideradas injustas por organizações sociais e em defesa dos direitos humanos, que denunciam a tentativa de criminalização das lutas populares no país.
As ordens de prisão desta semana baseiam-se na suspeita de crime de rebelião, que o código penal colombiano define como “pegar em armas para suprimir ou modificar o regime vigente.” Em caso de condenação, eles podem pegar até 13 anos de prisão.
Antes da confirmação da prisão de Daza, na madrugada, o Congresso dos Povos divulgou uma nota sobre as detenções de Acuña e Gallo, nos departamentos de Bolívar e Meta, respectivamente.
“Rechaçamos o uso político dos órgãos de investigação e justiça, que não protegem a vida dos líderes sociais, mas se mostram ativos para privá-los da liberdade. Enfrentaremos de pé cada tentativa de atacar o movimento social e popular e seguiremos buscando vida digna para nosso país”, diz o texto.
A organização lembra, na mesma nota, que casos semelhantes de judicialização arbitrária ocorreram nos últimos anos e, em vários deles, houve absolvição sumária por falta de provas após anos de fraude, perseguição e encarceramento.
O Movimento Político de Massas Social e Popular do Centro Oriente da Colômbia também se posicionou, convocando a comunidade internacional a denunciar a “grave crise social e humanitária” que vive o país.
“À lista extensa de companheiros e companheiras assassinados em diferentes territórios do país, se somam outros tantos que, por seu trabalho social, por pensar e agir de forma distinta aos ditames do regime, têm sido processados e presos”, diz a nota do movimento, que pede o fim do “genocídio” contra militantes de movimentos sociais.
O Congresso dos Povos convocou manifestações de rua pela liberdade dos camponeses e contra o governo do presidente Iván Duque, aliado do presidente brasileiro Jair Bolsonaro e do estadunidense Donald Trump, que deixa a Casa Branca em 2021.
A Colômbia é um dos países mais perigosos para líderes sociais e organizações populares, devido ao conflito armado que se prolonga há mais de 60 anos pela disputa de terras. Por um lado, as guerrilhas lutam pelo direito à terra aos camponeses e à classe trabalhadora; por outro, o narcotráfico precisa do terreno fértil para manter a produção de cocaína e outras drogas ilícitas.
Só em 2020, mais de 255 líderes sociais e defensores de direitos humanos foram assassinados, assim como 57 ex-combatentes da Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) que assinaram os acordos de paz, segundo os relatórios apresentados pelo Instituto de Estudos para o Desenvolvimento da Paz (Indepaz).
Quem é quem
Robert Daza é membro do Comitê de Integração do Maciço Colombiano (CIMA) e da Coordenação Nacional Agrária. Reconhecido por suas atividades sociais e organização comunitária, ele ajudou a implementar projetos de transição agroecológica e exercício de economia solidária com as comunidades camponesas, no âmbito da proposta de territórios agroalimentares e governos camponeses.
Adelso José Gallo Tozcano é membro da Associação Nacional Camponesa José Antonio Galán Zorro (ASONALCA) e da Coordenação Nacional Agrária. Participou de diferentes lutas do movimento camponês na região e a nível nacional, como porta-voz em mesas de diálogo entre o movimento social e o governo nacional, no âmbito da Cúpula Nacional, Agrária, Camponesa, Étnica e Popular, após a greve nacional de 2014. É uma figura proeminente da luta contra as empresas petrolíferas em Arauca, denunciando a Repsol, OXY e BP em nível internacional no Tribunal Permanente dos Povos.
Teófilo Acuña é líder sindical da Federação Agrícola Bolívar do Sul (FEDEAGROMISBOL) e da Coordenação Nacional Agrária. Conhecido como Teo, ele é militante pelos direitos humanos e representante de milhares de camponeses que dependem da mineração e da agricultura em pequena escala. Ele defendeu os territórios do impacto de empresas transnacionais, como a AngloGold Ashanti, e ajudou a criar formas alternativas de desenvolvimento nas comunidades da região.
Edição: Leandro Melito
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