Líderes africanos buscam cessar-fogo na República Democrática do Congo

Chefes de Estado da África Oriental apelam por fim imediato das hostilidades enquanto confrontos entre forças congolesas e rebeldes do M23 intensificam deslocamentos

Por Giovanne Ramos, Alma Preta.

Líderes da Comunidade da África Oriental (EAC) realizaram uma reunião virtual na quarta-feira (29) para abordar a escalada do conflito na República Democrática do Congo (RDC).

O encontro, liderado pelo presidente queniano William Ruto, contou com a participação de sete dos oito chefes de Estado do bloco comercial, com a ausência do presidente congolês Félix Tshisekedi.

Em declaração conjunta, os líderes exigiram um cessar-fogo imediato entre as partes em conflito no leste da RDC e solicitaram a facilitação de acesso humanitário às áreas afetadas.

Além disso, pediram ao governo congolês a proteção de  missões diplomáticas no país, após ataques recentes a embaixadas na capital, Kinshasa, por manifestantes que acusam certas nações de simpatizarem com o grupo rebelde M23. A Embaixada do Brasil foi uma das atingidas.

Conflito e acusações mútuas

O governo da RDC acusa Ruanda de apoiar o M23, grupo que recentemente assumiu o controle de Goma, capital da província de Kivu do Norte. Testemunhas relataram a presença de corpos nas ruas, embora as autoridades locais ainda não tenham divulgado um número oficial de vítimas.

Analistas apontam que a animosidade entre Tshisekedi e o presidente ruandês Paul Kagame pode dificultar as negociações de cessar-fogo.

Edgar Githua, especialista em relações internacionais em Nairóbi, observa que “ainda há muita animosidade entre RDC e Ruanda sobre como abordar essa questão, porque a RDC acredita que esses são ruandeses, e Kagame categoricamente continua dizendo que o M23 não são ruandeses, são tutsis étnicos que são congoleses por cidadania”.

Crise humanitária em agravamento

Agências humanitárias alertam que os confrontos recentes intensificaram a já grave crise humanitária na RDC. Milhares de residentes de Goma, muitos dos quais já estavam deslocados devido a conflitos anteriores, foram forçados a fugir novamente.

Maina King’ori, diretor interino da CARE International na RDC, relatou que “não há fornecimento de eletricidade há vários dias na maior parte de Goma. O sistema de água não está funcionando; foi desligado, embora esteja lentamente voltando em alguns lugares, e não há conectividade com a internet em Goma nos últimos três dias. Isso torna a vida realmente difícil”.

King’ori apelou às partes em conflito para que respeitem o direito humanitário internacional e protejam os civis, enfatizando que “os civis não podem ser alvo. Os civis não são parte deste conflito, mas estão tendo que suportar a carga imensa. Eles são os que estão sentindo a dor de dormir ao relento, de serem realocados várias vezes”.

Contexto histórico do conflito na RDC

O M23, também conhecido como Movimento 23 de Março, é um grupo rebelde composto majoritariamente por tutsis congoleses. O grupo ressurgiu em 2022, após um período de inatividade, e desde então tem travado combates intensos com as forças governamentais congolesas, especialmente nas províncias de Kivu do Norte e Kivu do Sul.

A região leste da RDC é palco de conflitos armados há décadas, envolvendo diversos grupos rebeldes e milícias locais, muitos dos quais disputam o controle de recursos naturais abundantes, como minerais valiosos. A situação é agravada por tensões étnicas e pela presença de grupos armados estrangeiros.

América Latina precisa de unidade para enfrentar o governo Trump. Entrevista com Silvina Romano.

DEIXE UMA RESPOSTA

Please enter your comment!
Please enter your name here


This site uses Akismet to reduce spam. Learn how your comment data is processed.