Vários líderes do Movimento Brasil Livre, que atuaram na mobilização pelo impeachment de Dilma Rousseff, em 2016, vêm ganhando cargos comissionados em grandes cidades neste ano.
O grupo foi um dos principais articuladores dos protestos contra o PT a partir de 2015 e tem milhões de seguidores nas redes sociais. No ano passado, o MBL lançou integrantes pelo país na eleição e, em alguns municípios, apoiou candidatos a prefeito.
A reportagem identificou lideranças do movimento nos protestos nomeados para cargos também em Porto Alegre, Goiânia, Caxias do Sul (RS) e São José dos Campos (SP). Os indicados têm perfil jovem e de início na carreira pública.
Hoje, o ex-candidato derrotado a vereador pelo DEM Ramiro Zinder, 37, está em uma diretoria na Secretaria de Turismo de Florianópolis. Zinder agradeceu ao MBL, no Facebook, por ter ajudado “a se tornar uma liderança política”. Ele fora nomeado, em fevereiro, para outro cargo, na pasta da Educação da gestão de Gean Loureiro (PMDB).
Na capital de Goiás, governada por Iris Rezende (PMDB), a indicação também foi de um candidato derrotado a vereador. Agora na presidência do Instituto de Previdência dos Servidores Municipais, com salário de mais de R$ 10 mil, Sílvio Fernandes (DEM) recebeu apoio dos coordenadores nacionais do MBL em um vídeo na véspera da eleição.
Em São José dos Campos, Sandro Mendes, nomeado assessor da Secretaria de Governança na gestão do tucano Felício Ramuth, chegou a ser acionado pela coligação do PT na Justiça Eleitoral por fazer, nas páginas do MBL local, “propaganda negativa”.
O advogado Lohan Fuly foi indicado para uma coordenadoria da Secretaria da Educação. Os dois fizeram postagens na página do movimento criticando a criação de cargos na Câmara Municipal.
Na capital gaúcha, Ramiro Rosário (PSDB), “candidato oficial” do movimento em 2016, se elegeu para a Câmara, mas hoje é secretário de Serviços Urbanos na administração do tucano Nelson Marchezan Jr. A porta-voz do MBL no Estado foi nomeada para a assessoria da secretaria.
Marchezan tem relação próxima com o movimento desde os protestos de 2015 e recebe apoio do grupo na internet.
Em Caxias do Sul, cidade governada pelo PRB, Rodrigo Ramos, ex-candidato do PR a vereador, assumiu cargo na Secretaria da Cultura.
CRITÉRIOS
O MBL diz que está presente em 170 cidades. O coordenador Kim Kataguiri afirma que as indicações foram “técnicas”, não políticas, e que o movimento quer levar “pessoas com capacidade para a máquina pública”.
Ele diz que o nomeado em Florianópolis é qualificado para a função e que o de Goiânia atua para “reformar a Previdência localmente”, como o movimento defende nacionalmente. “O que a gente critica é o cabide de emprego.”
As prefeituras procuradas pela reportagem negaram critérios políticos nas indicações.
Marchezan disse que “pior era quando o relacionamento do poder público era com as Farc [Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia]”. “O MBL são pessoas que têm fácil comunicação com uma parte da sociedade, que podem ser filiados a partidos que tenho afinidade ou não.”
Paula Cassol, nomeada pelo tucano, disse que já pediu exoneração e que tinha intenção de ficar até seis meses no cargo para auxiliar o secretário de Serviços Urbanos temporariamente.
A Prefeitura de São José dos Campos disse que os currículos são analisados antes da nomeação e que os indicados atendem às necessidades da prefeitura. Afirmou que Sandro Mendes não está mais no movimento e que ele é um publicitário com experiência.
A administração de Goiânia disse que “a participação em movimentos políticos ou sociais não desabona a conduta profissional” do servidor.
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Com informações da Folha.
Fonte: Revista Fórum.