Líder LGBT Marquinhos Tigresa é morto e tem órgão genital dilacerado no sudoeste baiano

Por Naiana Ribeiro.

Um dos principais líderes do movimento LGBT baiano, Marcos Cruz Santana, 40 anos, o Marquinhos Tigresa, foi morto esquartejado na madrugada desse sábado (18), no município de Itororó, no sudoeste da Bahia.

Além da genitália dilacerada, Marcos tinha vários sinais de golpes de faca no pescoço. O corpo dele foi encontrado por populares na Avenida Joaquim Hortelio, próximo a Rodoviária de Itororó, por volta das 02h30. Uma equipe da polícia militar (PM) esteve no local e acionou o Departamento de Polícia Técnica (DPT) de Itapetinga DPT para remoção do corpo da liderança LGBT.

Morador de Bandeira do Colônia – distrito do município de Itapetinga – Marcos era gay e ficou conhecido também em Itororó e região pelo seu trabalho social, incluindo a divulgação e realização de eventos LGBT, como a Parada Gay de Itororó, em prol do movimento no interior da Bahia.

Muito alegre e comunicativo, o ativista chamava atenção pela irreverência e principalmente pela presteza. “Pense numa bicha prestativa. Marquete era a Irmã Dulce de Bandeira do Colônia, uma pessoa do bem. Mesmo sem te conhecer, ele não hesitaria em te ajudar. Moveria o céu e a terra, não tenho dúvidas. Ela era meio doidinha – não no sentido pejorativo – e isso fazia dela ser o que era em Bandeira do Colônia, Itapetinga e Itororó. Não dá para entender porque ela foi assassinada dessa maneira. Ele era um de nós”, lamenta o presidente do Grupo Gay da Bahia (GGB), Marcelo Cerqueira.

Amigo íntimo de Marcos, Marcelo o considerava como um filho. Foi também seu professor no projeto Somos, que capacita lideranças para o gerenciamento de organizações não governamentais e elaboração de projetos de prevenção do HIV e promoção dos direitos humanos para atuarem junto à população de homossexuais. “Fico muito triste de ter perdido uma pessoa como ela. O trabalho social e de direitos humanos que desenvolvia era de extrema importância”, completa.

Crime de ódio
Segundo o GGB, o que aconteceu com Marcos pode ser considerado um crime de ódio. Só nesse mês, foram cinco casos do tipo na Bahia. “Pelo que soube, por trás da morte dela estão três vagabundos, que a dilaceraram. Não foi um crime ligado à sexo. Os três possivelmente se divertiram enquanto cometeram tamanha brutalidade. É inconcebível viver em um país em que matar viado, travesti e sapatão é divertimento popular. É um crime que revela a LGBTfobia do nosso país”, pontua Cerqueira.

“Isso infelizmente acontece nesse momento de eleição, de mudança. A gente espera que a nossa dor reflita em propostas dos candidatos, nessas eleições. Peço que o delegado e a secretário de segurança pública mandem uma equipe pra fazer investigar e acompanhar o caso.

A promotora de Justiça Márcia Teixeira, que coordena o Centro de Apoio Operacional dos Direitos Humanos do Ministério Público da Bahia, lamentou a morte de Marcos. “O Brasil é o ‘líder’ mundial de assassinatos LGBT e a Bahia é um dos estados que mais mata essa população. Essa madrugada com requintes de crueldade mais um crime de ódio foi praticado agora em Itororó – Bahia contra o homossexual ativista do movimento LGBT Marcos Cruz Santana, Marquinhos Tigrezza, na cidade de Itororó/BA no dia de hoje. É preciso uma atuação firme e rápida da Secretaria de Segurança Pública. Quantos vão precisar morrer para que possamos viver em PAZ! Marcos, presente! Marcos Cruz Tigrezza presente!!! (sic)”, afirmou Márcia, através das redes sociais.

o Fórum Baiano LGBT lamentou, em nota, morte brutal do homossexual ativista do movimento. “O Fórum Baiano LGBT e seus 84 grupos filiados exigem rigorosa apuração das circunstâncias desse assassinato tendo em vista os requintes de crueldade e brutalidade que assustou a comunidade de Itororó e região. O Brasil é o campeão mundial de assassinatos de LGBTs e a Bahia um dos estados que mais matam! Solicitamos da SSP, Secretaria de Segurança Pública dê resposta à comunidade LGBT baiana e a população”, afirmou a entidade.

O Me Salte tentou contato com o delegado Roberto Junior, coordenador da 21ª COORPIN (Coordenadoria Regional de Polícia de Itapetinga), responsável pela investigação do crime, e até a publicação desta matéria não obteve retorno. A Polícia Civil informou, através da assessoria de comunicação, que a delegacia de Itororó já iniciou a investigação. “Autoria e motivação ainda não foram identificadas”, disse a PC.

Em nota ao CORREIO, a PM da Bahia informou que policiais militares da 8ª CIPM foram acionados na madrugada deste sábado “com informações de populares de que havia o corpo de um indivíduo ferido e já sem vida, na Avenida Joaquim Hortélio, em Itororó”: “No local, a guarnição constatou o fato, isolou a área e acionou o Departamento de Polícia Técnica (DPT) para proceder com a perícia e remoção do corpo. A Polícia Civil investigará o caso”, disse a PM.

O corpo de Marcos será sepultado neste domingo (19) na cidade de Bandeira do Colônia, na Bahia.

LGBTfobia mata um a cada 19h
A cada 19 horas um LGBT é assassinado ou se suicida vítima da LGBTfobia, o que faz do Brasil o campeão mundial desse tipo de crime. De acordo com o GGB esses dados têm cara, nome e sobrenome. Até abril, foram 126 crimes violentos praticados contra LGBTs no Brasil. São 47 gays, 26 lésbicas, 3 bissexuais, 31 travestis, 17 mulheres trans, 1 homem trans, 2 bissexuais todos vítimas do ódio que é a homofobia que mata indistintamente.

O levantamento mais recente do GGB registrou um aumento de 30% nos homicídios de LGBTs em 2017 em relação ao ano anterior, passando de 343 para 445. Das 445 vítimas de homotransfobia registradas em 2017, 194 eram gays (43,6%), 191 trans (42,9%), 43 lésbicas (9,7%), 5 bissexuais (1,1%) e 12 heterossexuais (2,7%).

A causa das mortes registradas em 2017 segue a mesma tendência dos anos anteriores, predominando o uso de armas de fogo (30,8%), seguida por armas brancas cortantes, como facas (25,2%). Segundo agências internacionais de direitos humanos, matam-se mais homossexuais no Brasil do que nos 13 países do Oriente e África onde há pena de morte contra os LGBTs.

O maior número dos assassinatos (56%) ocorreu em via pública, mas também é grande o número de crimes que foram registrado dentro da casa das vítimas: 37%, segundo o levantamento. A pesquisa mostra, ainda, que em geral esses crimes ficam sem punição. A cada quatro homicídios o criminoso foi identificado em menos de 25% das vezes. Além disso, menos de 10% das ocorrências resultaram em abertura de processo e punição dos assassinos. Houve ainda significativo aumento de 6% nos óbitos de pessoas trans.

Naiana Ribeiro

Naiana Ribeiro

A jornalista ama Beyoncé, música pop, e é editora da PLUS, a primeira revista para gordas do país. Segue no Insta: @itsnaiana

1 COMENTÁRIO

  1. Triste.
    Mas sobre a colocação “(…) matam-se mais homossexuais no Brasil do que nos 13 países do Oriente e África onde há pena de morte contra os LGBTs.”, eu fico me indagando: acho que, apesar do Brasil ser um país hiper homotransfóbico, nós temos um movimento LGBT forte. I.e, temos organizações que levantam esses dados de assassinato contra nós. Nestes países onde há pena de morte, o movimento é criminalizado, ou semi-criminalizado, o que impede o levantamento de dados de crime de ódio. Talvez lá seja realmente mais difícil ser LGBT; somos mais silenciad@s.

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