Por Felipe Amorim.
Com a aprovação da lei que define juridicamente Israel como um “Estado judaico”, o mais recente passo do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu coloca no cenário político nacional a possibilidade de ruptura da coalizão que sustenta seu governo, com posições cada vez mais radicais.Em uma sessão turbulenta, o gabinete ministerial israelense aprovou no domingo (23/11) por 14 votos a 6 uma lei que modifica o status legal de Israel, ao fixá-lo como “Estado-nacional” do povo judeu. Segundo os críticos, o novo dispositivo é polêmico pois reserva “direitos nacionais” apenas à população judia, excluindo as minorias — árabes-muçulmanos e cristãos são atualmente 20% dos cidadãos israelenses.
Agência Efe
Netanyahu conseguiu que projeto alterando status jurídico do Estado de Israel fosse aprovado por 14 votos a 6 entre seu gabinete ministerial
A votação, com bate-boca entre o premiê e alguns de seus ministros, elucidou a existência de rachas políticos na coalizão governista. Já corre a notícia de uma eventual antecipação das eleições gerais, previstas para 2017; neste novo cenário, segundo analisa um colunista do jornal Haaretz, Netanyahu levaria a cabo uma reacomodação política, deixando-o mais próximo dos “parceiros naturais”: a direita e os ultra-ortodoxos.
Ao mesmo jornal Haaretz, um dos membros do gabinete chegou a descrever a sessão do conselho como “uma erupção de pus que inundou a sala depois que alguém cutucou com força a ferida”. As principais dissidências da equipe de Netanyahu foram os ministros da Finança, Yair Lapid (do partido centrista Yesh Atid), e a ministra da Justiça, Tzipi Livni (do também centrista Hatnua).
“O elefante na sala de estar é que você [Netanyahu] quer que nós [partidos Hatnua e Yesh Atid] votemos contra a lei para que você possa nos demitir”, disse Livni, citada pelo jornal local Jerusalem Post. Em resposta, o premiê acusou a ministra da Justiça de ser “fraca”; Livni afirmou que Netanyahu “está destruindo o país”. O ministro das Finanças, por sua vez, afirmou que a proposta é “eleitoreira”.
Para entrar em vigor, a lei ainda precisa ser aprovada pelo Knesset, o Parlamento israelense. Inicialmente, a votação estava prevista para a próxima quarta (26/11), mas um acordo político entre lideranças partidárias resolveu adiar a sessão para a próxima semana, mostrando a preocupação das legendas em lidar com o tema.
Na mesma sessão, Netanyahu também conseguiu fazer passar uma peça que permite a cassação de uma série de direitos civis — como o de propriedade sobre residência — em caso de palestinos que tenham relações de parentesco com autores de ataques contra Israel.
Meses após o fim da Operação Margem Protetora, que durou 50 dias e matou mais de 2 mil palestinos na Faixa de Gaza (maioria civis) e 72 israelenses (66 soldados), a tensão em Israel voltou a subir em um conflito recentemente acirrado por questões religiosas — cujo foco principal é o acesso e o controle da região da Esplanada das Mesquitas, em Jerusalém, local sagrado para o islã e também para o judaísmo [clique aqui para entender o que está em disputa no local].
Netanyahu: “há direitos só para judeus”
“Israel é um Estado judeu e democrático. Existem aqueles que querem que a democracia tenha precedência sobre o judaísmo, e aqueles que acham o contrário. Na lei que estou apresentando, os dois princípios são equivalentes e devem ser considerados igualmente”, disse o premiê, respondendo às críticas de que a alteração era desnecessária após 66 anos de criado o Estado de Israel.
Agência Efe
Após ataques contra mesquitas e sinagogas na semana passada, sheik árabe e rabino apertam as mãos em Jerusalém
Para Netanyahu, Israel é a terra natal para todos os judeus do mundo, onde, insiste o premiê, há direitos iguais entre todos os cidadãos. “Mas há direitos nacionais apenas para a população judia. A bandeira, o hino, o direito que todo judeu tem de emigrar para Israel, além de outros símbolos nacionais”, afirmou.
A aprovação da medida é necessária, segundo Netanyahu, pois muitos têm questionado o caráter de Israel como Estado-Nacional para o povo judeu. “Os palestinos se recusam a reconhecê-lo”, diz o premiê.
Fonte: Ópera Mundi.