Lava Jato e o golpe de Estado: Brasil nas mãos do inimigo. Por José Álvaro de Lima Cardoso.

Foto: SpiritBunny/Pixabay

Por José Álvaro de Lima Cardoso.

No dia 20 de setembro, dirigentes sindicais da microrregião do Vale do Itapocu, de Blumenau, do norte e planalto catarinense participaram do Ato Público em Defesa dos Direitos e do Meio Ambiente, contra a ameaça de privatização da Petrobrás e a destruição do Brasil que vem sendo encaminhada pelo governo federal. Há a ameaça concreta de fechamento do Terminal de Distribuição de Combustíveis da Petrobrás, localizado em Guaramirim, que vai representar a perda de parte significativa do Produto Interno Bruto (PIB) do Município.

O movimento sindical pretende conscientizar lideranças e o povo em geral da Região, da gravidade que representa a política de desmonte da Petrobrás, que está sendo implementada pelos malfeitores que tomaram o poder. Um dirigente sindical, no ato, lembrou que uma das primeiras medidas dos golpistas foi a venda de quatro refinarias, tendo colocado recentemente mais quatro à venda, o que significa que do total de 13 refinarias, está se desfazendo de oito. Além de já estarem vendendo, como lembrou o dirigente, plataformas, oleodutos, terminais, toda a malha de gás, os ativos logísticos interligados, além de já ter vendido, a BR Distribuidora e a Liquigás. Os petroleiros presentes no ato avaliaram que a direção da empresa muito provavelmente irá fechar a unidade de Guaramirim.

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Conforme avaliação de vários dirigentes presentes no evento, o fechamento do Terminal da Petrobrás em Guaramirim terá um impacto dramático sobre a economia e a sociedade do Município. A arrecadação deverá cair significativamente com consequências sobre a educação e saúde públicas, assistência social, e o atendimento à população de forma geral. As possíveis demissões ou transferências de funcionários da Petrobrás trará também grande impacto sobre a economia local em geral, a redução da massa salarial, que levará a queda do consumo de bens no comércio local.

Desde fevereiro de 2015, quando o DIEESE realizou, em parceria com a Intersindical de Jaraguá do Sul e centrais sindicais, o debate “Conjuntura Econômica Brasileira: Petrobras no olho do Furacão”, no Sindicato dos Trabalhadores da Construção e Mobiliário de Jaraguá do Sul e Região (o primeiro de vários seminários que realizaríamos nos meses seguintes, sobre o assunto), já afirmávamos, de forma genérica, que a operação Lava Jato era um Cavalo de Troia que estava vindo para acabar com o que restou de soberania no Brasil e destruir o setor de engenharia nacional. Da realização deste seminário para cá, os fatos só reforçaram a nossa intuição. Desde o início da operação ficaram muito fortes os indícios de que um dos objetivos da Lava Jato era o de quebrar a Petrobrás, abrindo caminho para mudar a lei de Partilha: a) denúncias do Wikileaks de que os estadunidenses estavam preocupados com o crescimento da Odebrecht; b) grande contrariedade das multinacionais com a Lei de Partilha; c) financiamento, por parte dos bilionários do petróleo, irmãos Kock, dos movimentos de direita no Brasil que tentavam desestabilizar o governo; d) visita do então Procurador Geral da República aos EUA com equipe de procuradores para coletar informações que serviriam de munição para abrir processos contra a Petrobrás.

Em 2016, por exemplo, ainda antes do impeachment, já sabíamos que Sérgio Moro e o então procurador-geral da República Rodrigo Janot atuavam em parceria com órgãos dos Estados Unidos contra empresas brasileiras. E que Sergio Moro, em 2016, autorizou o compartilhamento da delação premiada do ex-diretor da Petrobrás, Nestor Cerveró, com investigadores de Londres em processo contra a Petrobrás. O juiz autorizou também conversas feitas diretamente com cada delator da Lava Jato e o Departamento de Justiça dos EUA, sem passar pelo Estado brasileiro, como prevê a lei. Ou seja, os responsáveis pela operação Lava Jato permitem a órgãos do Estado norte-americano o acesso a informações sigilosas que foram utilizadas para atacar e processar judicialmente a Petrobrás e outras empresas brasileiras. A prisão do Vice-almirante Othon Luiz Pinheiro da Silva, principal responsável pela conquista da independência na tecnologia do ciclo de combustível, que colocou o Brasil em posição de destaque na matéria, no mundo, estava também no script de construção do golpe de Estado. O governo que assumiu com o golpe em 2016, e não poderia ser diferente, passou a ser, até então, o mais subserviente e entreguista da história (claro, hoje já foi superado pelo governo Bolsonaro, imbatível nesse quesito).

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Quando afirmávamos, em 2015, que a Lava Jato nada tinha a ver com corrupção e que era uma operação do governo estadunidense para meter a mão em petróleo, água, recursos naturais em geral, biodiversidade da Amazônia, e também pelo interesse de abortar um incipiente e limitado processo de construção de um projeto nacional de desenvolvimento, nos diziam, nos debates, que estávamos desenvolvendo uma “teoria da conspiração”. Esses seis anos, desde a construção do golpe, mostraram que a conspiração era muito mais grave do que a sua teoria. Especialmente a partir das “confissões” dos criminosos, trazidas em larga escala pela Vaza Jato. O fato é que somente um processo sofisticado de manipulação sobre a população poderia possibilitar o apoio a uma operação entreguista como a Lava Jato e aceitar com naturalidade o repasse, ao Império do Norte, de petróleo, água, minerais e território para instalação de bases militares.

Durante o desenrolar dos acontecimentos os golpistas perderam completamente a vergonha. Ficou-se sabendo, por exemplo, que membros do Ministério Público envolvidos na Lava Jato, explodiam de orgulho por trabalharem em conjunto com os policiais do Departamento de Justiça dos Estados Unidos, considerados muito eficientes. Ou seja, aquilo que deveria ser motivo de vergonha nacional, que é nutrir de informações uma potência estrangeira, para prejudicar e processar a maior empresa nacional, motor da economia brasileira, era motivo de orgulho para esse pessoal.

Na ocasião, pensávamos que estes funcionários públicos, eram apenas idiotas úteis, deslumbrados com a chance de se arrastar ao poder imperial. No entanto, as surpreendentes informações do The Intercept Brasil, revelaram que a história não era bem essa. O chefe da operação, por exemplo, estava ganhando um bom dinheiro, como palestrante e vendedor de livros, inclusive em reuniões secretas com banqueiros, que ajudaram a financiar o golpe. Traído pelo excesso de confiança, Dallagnol foi, possivelmente, o mais imprudente de todos: em algumas conversas comentou ter faturado com palestras e livros R$ 400 mil, somente em alguns meses de 2018. Num dos diálogos com seus colegas, tratando do risco de sentarem secretamente com banqueiros, o chefe da força-tarefa, concluiu cinicamente: “Achamos que há risco sim, mas que o risco tá bem pago rs”. Outros envolvidos ganharam também bastante dinheiro com a destruição do país, como foi o caso de Sérgio Moro.

Numa reunião clandestina para palestra do chefe da Lava Jato estavam presentes grupos como JP Morgan, Stanley Barclays, Nomura Goldman Sacha, Merrill Lynch, Cresit Suisse, Deutsche Bank, Citibank, BNP, Paribas, Natixis, Societe Generale, Standard Chartered, State Street Macquarie, Capital UBS, Toronto Dominion Bank, Royal Bank of Scotland, Itaú, Bradesco, Santander. Somente grandes capitais, a maioria grupos multinacionais. Alguns dos grupos presentes, inclusive, arremataram recentemente, na bacia das almas, a BR Distribuidora, uma subsidiária estratégica da Petrobrás, muito cobiçada porque negocia derivados energéticos fundamentais, e gera muito dinheiro (à vista, e na veia). Esses diálogos vazados pelo The Intercept, que mostram que Sérgio Moro e Deltan Dallagnol vinham ganhando dinheiro (de forma ilegal) com o suposto “combate à corrupção”, são importantes porque desmascaram a natureza sórdida da Lava Jato.

O Brasil sofreu um golpe de Estado, coordenado pelos EUA, cujo objetivo econômico principal é a pilhagem das riquezas do país (matérias primas e outras). A entrega, de mão beijada, de reservas petrolíferas para as petroleiras, assim como das instalações da Petrobrás, é um dos custos em meio ao incalculável preço do golpe de Estado contra a democracia no Brasil, milhões de vezes mais alto do que o suposto custo da corrupção. Para atingir esses objetivos, rasgaram a constituição de 1988, montaram a grande farsa do impeachment, colocaram no poder uma extrema direita, através de eleições fraudadas e nos encontramos sob ameaça de golpe militar. Além disso, destruíram a economia, e estão levando o país, no que se refere aos direitos sociais e trabalhistas, de volta para o século XIX.

 

José Álvaro Cardoso é economista e supervisor técnico do DIEESE em Santa Catarina.

 

 

A opinião do autor/a não necessariamente representa a opinião de Desacato.info.

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