Khomeini, a Revolução e a Palestina. Por Sayid Marcos Tenório.

Foto: Stig Nillson/AFP

Por Sayid Marcos Tenório.

A data de 3 de junho tem um significado muito importante para todos os povos livres do mundo. Nesta data, em 1989, faleceu aos 83 anos o Imam Ayatollah Ruhollah (Espírito de Deus) Khomeini, um líder sem afinidades com a vida mundana, de fé inabalável, um sábio dedicado, que guiou seu povo à Revolução patriótica e popular e fundou a República Islâmica do Irã sobre as ruinas do Governo tirano e arrogante da dinastia Palhevi. Um líder totalmente dedicado à Deus, que deixou a profunda mensagem do Despertar Islâmico na mente de milhões de pessoas em todo o mundo.

Nasceu em 1902, no seio de duas famílias religiosas de muito conhecimento, no dia 17 de maio, mesma data de nascimento da filha do Profeta Muhammad, Fátima Azzahrá. Seu pai, o mártir Ayatollah Assayed Mustafá Al-Mousawi, foi um grande sábio islâmico e líder político de causas justas. Sua mãe, Hajar Agha Khanum, era filha do Ayatollah Al-Mirza Ahmad, um membro da autoridade máxima religiosa de sua época. Foi casado com Khadijeh Saqafi, com quem teve sete filhos. Seu filho mais velho, Sayyed Mustafá Khomeini, foi martirizado na cidade iraquiana de Najaf pelos agentes da SAVAK, a polícia política do Xá, em cooperação com as forças de Saddam Hossein.

Khomeini foi firme na sua fé e obediência a Deus, amava verdadeiramente sua pátria, as pessoas, os pobres e oprimidos. Esse amor e convicção por justiça e direitos, o tornou líder opositor da dinastia Palhevi por suas políticas pró imperialistas, em detrimento dos interesses da nação iraniana, e das falsas reformas que tinham como objetivo atingir o Islã e os muçulmanos persas.

Após o golpe militar de 1953 que depôs e prendeu o primeiro-ministro que nacionalizou o petróleo iraniano, Mohamed Mossadeg, houve uma brutal e aberta interferência dos Estados Unidos e do Reino Unido em todos os assuntos econômicos e políticos do Irã, tornando o país numa base protetora dos interesses do imperialismo na região. O Imam Khomeini foi um dos líderes mais destacados das mobilizações em oposição às forças externas e ao regime do Xá Palhevi.

Em decorrência da sua liderança, as forças de segurança invadiram sua casa e o levaram para a Prisão do Castelo, um centro de torturas em Teerã. Milhares de pessoas realizaram protestos em todo o país, nos quais várias foram mortas pelos agentes do regime, que foi obrigado a libertar o Imam Khomeini.

Khomeini foi preso diversas vezes por confrontar o regime do Xá Reza Palhevi, sempre com uma postura firme diante dos seus algozes, até ser exilado para a Turquia, em 1964, e depois para o Iraque, onde se instalou na cidade de Najaf por 16 anos, prosseguindo sua vida religiosa e de lutas. Nesse período, ele escreveu o livro “O Governo Islâmico”, que foi traduzido para o árabe e distribuído em toda região.

Devido as perseguições sofridas no Iraque, coordenadas pelas polícias políticas do Iraque e do Irã, Khomeini resolveu mudar para o Kwait, mas foi proibido de entrar no país. Decidiu então se exilar na França e se estabeleceu na cidade de Luchat, de onde enviava seus discursos por escrito e em fitas K7 ao Irã, estimulando manifestações, passeatas e greves contra o regime que aumentava a opressão, prisões e barbáries.

Khomeini retornou do exílio ao Irã em 1º de fevereiro de 1979 e foi recebido por uma multidão de milhões de iranianos, que o saudavam como líder e guia da Revolução vitoriosa que proclamou a República Islâmica em 11 de fevereiro, confirmando que o Imam Khomeini não era apenas o homem da Revolução, mas também o homem do primeiro governo islâmico do mundo, baseado no Alcorão, a revelação de Deus ao seu Mensageiro.

Vitoriosa a revolução, o imperialismo estadunidense impôs através do regime de Saddam Hussein, uma guerra por procuração que durou 7 anos, 10 meses, 4 semanas e 1 dia, com o objetivo de enfraquecer a Revolução e levar o caos à jovem República Islâmica do Irã. A guerra provocou milhares de mártires e um custo ao redor de 1 bilhão de dólares.

Khomeini tinha presente os problemas da Nação Islâmica, especialmente a questão palestina. Uma das suas primeiras mensagens foi sobre o compromisso da Revolução com a libertação da Palestina, de toda Palestina, e com a criação resistência islâmica do Líbano para libertar seus territórios ocupados pelos sionistas.

A Embaixada de “Israel” em Teerã foi substituída pela Embaixada da Palestina. E a última sexta-feira do sagrado mês do Ramadã foi declarado por Khomeini como o Dia Mundial de Al-Quds (Jerusalém), como o despertar da consciência de que a causa palestina é uma questão internacional, de soberania e de direitos humanos, o dia simbólico em que todo oprimido confronta seu opressor.

Enfatizava que a manutenção da unidade das forças da resistência para a libertação da Palestina, era o caminho mais importante para alcançar a vitória. Ele não acreditava que a intenção das grandes potências coloniais (Império Britânico e os EUA) ao criar o “Estado de Israel”, fosse meramente ocupar a Palestina.

Khomeini acreditava que se o caminho estivesse aberto para o colonialismo de “Israel”, todos os países muçulmanos acabariam por sofrer o mesmo destino que a Palestina, ou seja, a ocupação, destruição, colonização e limpeza étnica, para o ressurgimento da teoria do “Grande Israel”. Não foi por acaso que o Imam Khomeini comparou “Israel” e o seu regime sionista a um tumor cancerígeno e disse que a sua derrota e erradicação era obrigatória para se alcançar a paz na região.

Há 40 anos atrás, quem poderia imaginar que veríamos tanta oposição ao regime sionista pelo mundo. Aquelas gerações não imaginavam que em 2024, o regime que ocupou a Palestina e que representa os interesses do imperialismo na região, seria tão repudiado pelos povos. Que milhões de pessoas livres ao redor do mundo, na própria Europa e nos EUA, se tornariam opositoras do regime sionista e das potências que patrocinam crimes contra a humanidade e o genocídio em Gaza.

O mundo deu adeus a um grande líder digno do seu povo. Khomeini faleceu no seu corpo, mas sua mensagem continua viva no coração, nos sonhos e na luta dos crentes e dos resistentes do Irã e do mundo, que hoje em dia se traduz na resistência palestina, que com sua notável resiliência e heroísmo, prosseguirá a luta até que toda a terra histórica, com a abençoada Jerusalém no seu núcleo, seja libertada.

Sayid Marcos Tenório é historiador, especialista em Relações Internacionais e vice-presidente do Instituto Brasil-Palestina (Ibraspal). Autor do livro Palestina: do mito da terra prometida à terra da resistência (Anita Garibaldi/Ibraspal). Twitter/X: @soupalestina

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