Por Leandro Fortes.*
Antes da posse, ela fez elogios rasgados a Gilmar Mendes, o ministro da farsa do grampo sem áudio, “um dos mais sérios juristas deste país, cuja obra ultrapassa nossas fronteiras”.
Empossada, deu-se ao cinismo de afirmar que, no Brasil, não existe latifúndio. E mais: não haveria problema com os índios se os referidos aborígenes, ao invés de descer para as plantações, permanecessem nas florestas – caçando e pescando, alegres e nus dando graças a Tupã.
Eu sei, há um enorme e comovente esforço, mesmo entre históricos eleitores do PT, em aceitar a presença de Kátia Abreu no Ministério da Agricultura como parte do inevitável esforço da presidenta Dilma Rousseff para garantir a governabilidade do segundo mandato.
Muitos entraram em tal estado de euforia que, nas redes sociais, perseguem implacavelmente os que ousam contestar a presença de Kátia – representação nacional simbólica das relações feudais no campo – em um governo popular e de esquerda.
Surgiu, agora, a tese de que a entrevista da ministra à Folha de S.Paulo, esta na qual ela lançou o Brasil Sem Latifúndio, teria sido um ardil do jornal dos Frias. Ora, por que perguntar uma coisa dessas a Kátia Abreu? Para colocar petistas contra ela e, assim, desestabilizar o governo Dilma, claro!
Fui atrás dos dados sobre latifúndio no Brasil, disponíveis no cadastro de imóveis do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), segundo me indicou o jornalista Igor Felippe, da coordenação nacional do setor de Comunicação Social do Movimento Nacional dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, o MST.
Curiosamente, os dados do Incra apontam um nítido aumento da concentração e da improdutividade da terra no País.
Os números mais recentes, de 2010, apontam que 130 mil proprietários de terras concentram 318 milhões de hectares. Em 2003, eram 112 mil proprietários com 215 milhões de hectares.
Logo, mais de 100 milhões de hectares passaram para o controle de latifundiários.
De acordo com Incra, o registro de áreas improdutivas cresceu mais do que das áreas produtivas. Ou seja, houve ampliação das áreas que descumprem a função social da terra, prevista na Constituição Federal.
Portanto, temos, sim, muitos e improdutivos latifúndios, quando o ideal era não termos latifúndio algum.
O que não temos, ainda, é a noção exata de quanto trabalho Kátia Abreu ainda dará ao governo Dilma.
*Leandro Fortes é jornalista, professor e escritor. Trabalhou para o Jornal do Brasil, O Globo, Correio Braziliense, Estadão, Revista Época e Carta Capital.
Fonte: Diario do Centro do Mundo