Expressar arte e política através da rima, dos beats, dos movimentos do corpo ou dos sprays nos muros é um dos desafios do Hip Hop, movimento cultural que tem origem na comunidade negra das periferias urbanas. Na Bahia, embora as principais contradições sociais se concentrem na capital, o interior do estado também vive a efervescência da juventude negra que alia o rap, o break e o grafite para expressar sua arte e refletir sobre os problemas que vive.
Em Guanambi, município com cerca de 85 mil habitantes no Alto Sertão, o grupo Trilha Atômica traz em seus versos contradições comuns às grandes periferias dos centros urbanos. Em “Falhas no Crime”, por exemplo, MC Zinho narra a guerra às drogas e a falta de oportunidade para a juventude negra: “De cima do morro vê o brilho da cidade/mente cheia de ódio, dezesseis anos de idade”. Formada em 2012 pelo MC Zinho Marques, Maicon Stroke e com auxílio do DJ Marcim, o Trilha Atômica busca “fazer letras direcionadas às comunidades menos favorecidas com conscientização”, como afirma o MC. Embora desde os anos 90 existam grupos de Hip Hop em Guanambi, muitos desistiram por falta de apoio. Apesar dos poucos recursos, o grupo resiste e está na ativa até hoje mandando seu recado.
Arte que ecoa nas ruas e praças
Quem também resiste, apesar do pouco apoio, são os artistas da Sexta Lírica, em Feira de Santana, evento que desde 2011 ocupa a Praça de Alimentação da Av. Getúlio Vargas, no centro, com rap e break. Wu Paka, MC que participa da Sexta Lírica, destaca a importância dela não apenas como um evento artístico, mas também como saída para a juventude.“Se tem uma palavra que representa a Sexta Lírica é salvação. Hoje, ela funciona como uma porta de entrada pra muito menor que tá largado por aí pra uma nova realidade que eles nunca tinha dado oportunidade”. O artista também salienta a importância da batalha para o amadurecimento da cena cultural na cidade. “A batalha tem um time de organização muito comprometido com o fortalecimento da cena Hip Hop, sempre dando oportunidades com o microfone aberto para os MCs fazerem divulgação dos seus trampos”.
Rosas do gueto e mulheres da luta
As batalhas de rap também movimentam a cena em Vitória da Conquista, no sudoeste do estado. Todas as quintas-feiras na praça central da cidade, coletivos e artistas do município e região mostram sua arte na Batalha Chapahalls. Katielli Moreira, a Kath, é MC e participa da batalha junto com o Rosas do Guetto, grupo do qual faz parte. Kath começou a militar no movimento feminista e em 2017 formou o Rosas do Guetto com mais três mulheres, quando conquistaram o 1º lugar no campeonato Vozes. “De lá pra cá estamos na construção do nosso EP e dialogando com as mulheres dentro e fora do movimento Hip Hop. Somos quatro mulheres resistência! Do movimento Hip Hop , de mulheres, negros e negras e LGBTs.”
A artista, que traz influências que vão desde Dandara, Elza Soares, até Nessyta, importante MC da cidade, reflete sobre os desafios de ser mulher na cultura Hip Hop. “É resistência dupla, por ser mulher negra na realidade, por ser mulher negra MC dentro de um movimento completamente movido por homens, onde estamos invadindo e quebrando esses paradigmas”. Mas Kath manda o seu recado: “Tem quem desacredita, quem tenta atrasar o lado, mas, talento e língua afiada é o que não falta”, finaliza.