Por Carmen Susana Tornquist.1
Enquanto a OPAS divulga estes dados para a Região das Américas: 2.817.232 casos confirmados (73.439 novos em relação ao dia anterior),160.514 mortes (2.812 novas em relação ao dia anterior);enquanto o Ministério da Saúde divulga o aumento de casos no Brasil: 526477 casos e 29.937 óbitos em 01 de junho;
Enquanto em SC entramos em junho com 9498 casos e 146 mortes, e com casos em 218 dos 295 municípios; enquanto autoridades sanitárias reconhecem a subnotificação dos dados e o crescimento da chamada “curva” do COVID 19 no âmbito da América do Sul; enquanto estimativas apontam o Brasil como o epicentro da pandemia; mais ainda: enquanto cientistas e epidemiólogos reiteram fortemente medidas drásticas de isolamento social como forma de enfrentamento ao COVID 19, a exemplo da recente manifestação da Sociedade Gaúcha de Infectologia, a UDESC, nas figuras de seu reitor e vice-reitor, decide pelo retorno das aulas na chamada forma remota para a pós-graduação desde 25 de maio, e em junho nos cursos de graduação, e isto apesar do alto índice de que 30 % dos estudantes NÃO responderam às enquetes enviadas, no mês passado, tratando desta questão. “Instrumento de consulta”, aliás, eivado de bias e totalmente alheio ao peso dos trabalhos adicionais (objetivos e psíquicos) que envolvem o “viver” em contexto de pandemia.
As medidas são tomadas de forma apressada, sob o bordão de “a universidade não pode parar” e exaltações típicas do discurso neoliberal apelando para a “criatividade durante a crise” atendendo a uma suposta “pressão da sociedade”. O slogan “A universidade não pode parar” passa a acompanhar uma série de normativas internas e deliberações feitas em fóruns paralelos aos que compõe a estrutura da Universidade.
E para não perder a chance de dar a sua tradicional contribuição ao ataque à educação pública, a mídia local cumpre seu papel de classe, e reforça suas tropas para dar curso à histórica guerra aberta contra ao serviço público, e à Universidade pública. Ataca a UDESC – e a UFSC – com o mesmo bordão. “A universidade não pode parar” é o lema da atual, faz eco com o bordão empresarial “ a economia não pode parar”, escutado “lá” fora. Não é apenas a democracia interna da Universidade que está sendo atacada – e ela está, veja-se notas da APRUDESC neste sentido. São golpeados de uma só feita a ciência, o bom senso, a saúde, a universalidade do acesso, a dignidade profissional, a vida, em ultima instância (estamos em uma Pandemia!).
A UDESC, que deveria pautar sua conduta pela razão científica, além dos demais princípios que constam em seus estatutos, vai na contracorrente das demais universidades, submetidas ao mesmo estado de calamidade, mas que estão discutindo e planejando com calma a volta às aulas, respeitando as diversas instâncias existentes e reiterando a importância da não exclusão de alunos, um dos pontos mais nevrálgicos do retorno.
É triste ver uma universidade pública, como a nossa, hoje, reconhecida nacionalmente, atravessar um momento tão degradante como este. Por isto, não podemos apenas “retornar às aulas”.
A UDESC é uma construção coletiva e laboriosa de várias gerações; sua qualificação é obra conjunta, síntese do esforço de toda a comunidade acadêmica. Por isto, estamos tentando deter, sobretudo via associações sindicais, estas medidas apressadas, que tanto estranham ao bom senso que deve nortear o planejamento em tempos de calamidade. Assim, é forçoso reconhecer que, no momento, a UDESC tem se constituído num verdadeiro anti-exemplo.
Foram muitos passos equivocados e volteios insensatos dados até agora, mas, quem sabe ainda há tempo de estes apressados senhores no comando da Reitoria, acertarem os seus passos. Com seus colegas, com a ciência, com o corpo estudantil. Seria um bom exemplo a ser dado à tal “sociedade” , que está lutando para não morrer.
1Professora da UDESC, filiada à Aprudesc/ANDES – Sindicato Nacional
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