Um turista ucraniano foi preso na segunda-feira 30/XII suspeito de tentar furtar uma bolsa e um perfume em uma loja do Shopping Leblon, no Rio de Janeiro. O homem, que não fala português, foi levado a uma audiência de custódia quatro dias depois. Eis que a juíza de plantão requisita um “intérprete de língua oficial na União Soviética”, que deixou de existir há quase trinta anos.
“Não sendo possível, solicite-se intérprete ao Consulado da Rússia”, concluiu a magistrada. Vale lembrar, também, que a Ucrânia (onde se fala ucraniano) se tornou um país independente e que está em conflito diplomático justamente com a Rússia.
O Consulado da Rússia chegou a responder que, devido a “problemas diplomáticos”, “seria inviável o envio de um intérprete para um cidadão ucraniano”.
Cinco dias após a prisão do ucraniano, um desembargador acatou pedido da Defensoria Pública do Rio e soltou o homem, que responderá em liberdade. Em seu ofício, o magistrado criticou a “inépcia estatal”, que não só foi incapaz de conseguir um intérprete como “equivocadamente” pediu ajuda à Rússia, “país que mantém atual notório estado de beligerância” com a Ucrânia, ignorando a “diversidade linguística” entre os dois países.
O caso foi revelado pelo jornalista Tiago Rogero, do jornal O Globo, no Twitter e na coluna de Ancelmo Gois.
Um turista ucraniano foi preso por tentativa de furto na Zara do Leblon.
Como ele não fala português, a juíza pediu intérprete da “União Soviética” ou “da Rússia”.
A URSS deixou de existir em 1991.
E a Ucrânia (onde fala-se ucraniano) está há 5 anos em conflito com a… Rússia pic.twitter.com/VStGYXQrzr
— Tiago Rogero (@TiagoRogero) January 6, 2020