Fonte: Los Otros Judíos
1 de janeiro de 2014
“Para os palestinos, o direito a voltar aos seus lares e o direito a viver com dignidade e igualdade na sua própria terra não são menos importantes que o direito de viver livres da ocupação militar.” – Prof. Saree Makdisi[1]
Durante mais de um século, os sionistas têm tentado construir um “Estado judeu” por meio da remoção forçada do povo palestino nativo.
Em 1948, este Estado foi estabelecido através da Nakba (Catástrofe):desaparição e ocupação de mais de 500 cidades e aldeias palestinas, o despejo de mais de 750.000 palestinos e uma campanha terrorista da que o massacre de Deir Yassin é o exemplo mais infame.
Desde 1967, Israel também tem ocupado e colonizado o resto da Palestina histórica. Hoje, esta limpeza étnica implacável continua – armada e financiada pelos EUA e seus aliados – nos dois lados da “Linha Verde” de 1948.
Como resultado acumulado, setenta por cento dos palestinos estão no exílio, a maior população de refugiados do mundo.
Em nenhum lugar isto fica mais claro que em Gaza, onde Israel impõe um castigo coletivo particularmente brutal a 1.7 milhões de pessoas – a maioria delas refugiados – por resistir desafiantes à expulsão dos seus lares na Palestina histórica.
“Escolham um ponto, qualquer um, ao longo das 25 milhas da costa de [Gaza’s], “escreve a residente da Cidade de Gaza, Lara Aburamadan, “e a gente está a sete milhas – não mais do que isso – do outro lado. O outro lado é onde nasceram meus avós, numa aldeia que se transformou no país de outros, fora dos meus limites. Chama-se Israel. Eu o chamo o lugar de onde vêm as bombas.” [2]
Para esconder estes crimes e escudar-se de suas consequências, o regime sionista oficialmente nega a Nakba, o equivalente ético da negação do Holocausto. Até autorizou legislação para penalizar àqueles que comemoram a Nakba – um passo prévio a criminalizar completamente sua observância.
Como acontece com todos os povos colonizados, a liberação significa reverter o despojo. “A causa palestina,” escreve o Dr. Haidar Eid em Gaza, “é o direito ao retorno de todos os refugiados e nada menos do que isso.” [3]
Retorno – uma das demandas chave da campanha Boicote, Não investimento e Sanções (BDS em inglês) – se apoia na resolução 194 da ONU, mas, deriva do princípio de direito humano e, como tal, ao qual nenhuma pessoa ou representante pode renunciar; está inalienavelmente unido ao povo palestino, coletiva e individualmente.
Apesar disto, ainda alguns que criticam a ocupação israelense de 1967 dizem que o retorno dos palestinos é “irreal”.
Porém, a solidariedade significa apoio incondicional aos objetivos justos daqueles que resistem à opressão. Como explica o jornalista Maath Musleh: “Se pensas que [o retorno] não é possível então não és realmente solidário com a causa palestina.” [4]
Alguns também têm a objeção de que o retorno dos refugiados significaria o fim do “Estado judeu”. Mas, os apoiadores da justiça social devem perguntar-se como podem defender um Estado cuja própria existência dependa da negação estrutural dos direitos do povo palestino.
Pouco tempo atrás, mais de uma centena de destacados ativistas palestinos reafirmaram sua oposição “a todas as formas de racismo e intolerância, incluindo, mas não limitada ao anti-semitismo, a islamofobia, o sionismo e outras formas de intolerância com quem quer que seja, especialmente aos povos indígenas e os não brancos do mundo. “ [5]
Esse racismo e intolerância se refletem precisamente na tentativa do sionismo de apagar o povo palestino,uma campanha de um século que é uma desonra à memória do sofrimento e resistência dos judeus na Europa.
A resposta moral é clara: “Há uma entidade geopolítica na Palestina histórica,” escreve o jornalista palestino Ali Abunimah. “Não se pode seguir permitindo que Israel siga arraigando seu domínio cultural, racista e de apartheid nesse território.” [6]
Como judeus de consciência, convocamos os partidários da justiça social a se levantar na defesa do Direito ao Retorno do Povo Palestino e de um Estado democrático na Palestina histórica – “Do Rio até o Mar” – com direitos iguais para todos.
A plena medida de justiça da qual depende a esperança de toda a humanidade, requerem não menos do que isso.
Notas
[1] Saree Makdisi, “If Not Two States, Then One,” N.Y. Times, 5 de diciembre de 2012,http://www.nytimes.com/2012/12/06/opinion/global/if-not-two-states-then-one.html?_r=0
[2] Lara Aburamadan, “Trapped in Gaza,” N.Y. Times, 16 de noviembre de 2012,http://www.nytimes.com/2012/11/17/opinion/trapped-in-gaza.html
[3] Haidar Eid, “The Palestinian Left and RoR,” ZMag, 8 de octubre de 2012, http://www.zcommunications.org/the-palestinian-left-and-ror-by-haidar-eid
[4] Maath Musleh, “Communique: Palestine #4 Brief Thoughts on International Solidarity With Our Struggle in Palestine,” 8 de septiembre de 2012, http://internationalsocialist.org.uk/index.php/blog/brief-thoughts-on-international-solidarity-with-our-struggle-in-palestine/
[5] “The struggle for Palestinian rights is incompatible with any form of racism or bigotry: a statement by Palestinians,” Electronic Intifada, 23 de octubre de 2012, http://electronicintifada.net/blogs/ali-abunimah/struggle-palestinian-rights-incompatible-any-form-racism-or-bigotry-statement
[6] Ali Abunimah, “Mahmoud Abbas’ real ‘accomplishment’ was not the UN vote on Palestine,” Aljazeera, 2 de diciembre de 2012, http://www.aljazeera.com/indepth/opinion/2012/12/2012122165114321474.html. Ver también “The Way Forward for Palestine Solidarity, 23 de junio de 2010, http://al-awdany.org/2010/07/statement-the-way-forward-for-palestine-solidarity-please-endorse/