Dayan, ex-presidente do Conselho da Judea e Samaria: “nós somos a nova vanguarda do sionismo”. Foto: Mikhail Frunze/Opera Mundi.
Após mais de um mês desde que o governo do primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netayahu, anunciou publicamente a indicação extraoficial de Dani Dayan como embaixador no Brasil, judeus e palestinos membros de entidades representativas repudiaram a escolha, em conversa com Opera Mundi, e pediram que Brasília mantenha um posicionamento de rejeição ao ex-líder colono.
“Seria muito constrangedor se o Brasil aceitasse Dayan”, define Soraya Misleh, da Frente em Defesa do Povo Palestino. Para a ativista e filha de refugiados palestinos, a repercussão e a visibilidade do tema, no Brasil e no mundo, foi uma “vitória” para o movimento.
“Achamos super importante essa visibilidade como denúncia da forma mais agressiva da politica israelense: as colônias das quais o nome do Dayan está diretamente vinculado”, diz. “A gente sabe que tem uma pressão grande, mas acho que seria um constrangimento para o governo brasileiro rever essa questão, pois ele é um criminoso contra a humanidade”, acrescenta Misleh.
Aos olhos de Sérgio Storch, membro do Juprog (Judeus Brasileiros Progressistas), a nomeação de Dayan gerou uma queda de braço nos bastidores. “Netanyahu, astutamente, não consultou o governo brasileiro com o pedido de agrément que é convenção na diplomacia. Com isso, o Brasil não pode dizer sim ou não, e ele pode vencer pelo desgaste e pelo cansaço”, argumenta.
“Dani Dayan é pessoa inteligente, habilidosa, respeitada por todos os setores em Israel. Mas representa a política de ocupação dos territórios palestinos e defende explicitamente a sua anexação definitiva”, complementa Storch.
Para Marcel Beer Kremnitzer, membro e ex-coordenador do grupo de jovens judeus Fórum 18, a nomeação de Dayan pode ser vista como um “despertar” para a compreensão do atual governo israelense, encabeçado pelo primeiro-ministro.
EFE
Região do assentamento de Gvaot, próxima a Belém na Cisjordânia: decisão é ilegal, segundo o direito internacional
“Eu acho que seria uma bola dentro o Brasil rejeitá-lo. Talvez seja uma boa oportunidade para a comunidade judaica brasileira e para a sociedade brasileira perceber como o atual ambiente político de Israel é de extrema-direita”, afirma Kremnitzer.
Por sua vez, Pedro Charbel, coordenador latino-americano do Comitê Nacional Palestino de BDS (Boicote, Desinvestimento e Sanções), declarou esperar que a presidente do Brasil, Dilma Rousseff, permaneça crítica à nomeação de Dayan. “Esperamos que a presidenta Dilma mantenha este posicionamento no caso de Israel seguir adiante com a indicação. É fundamental que o governo brasileiro aplique a mesma racionalidade desta negativa a outras empresas, israelenses e internacionais, tão conectadas à ocupação, colonização e apartheid israelenses como Dayan e o conselho de colonos que representava”, afirma.
“Ele [Dayan] era o líder de uma organização cuja essência violava o direito internacional. Se o Brasil aceitá-lo seria uma forma de reconhecer como legítimos esses assentamentos. O Brasil é um dos mais importantes e maiores Estados do mundo. Sua importância também advém do fato de que muitos palestinos e judeus vivem no Brasil”.
Recentemente, a imprensa israelense também especulou que o governo brasileiro havia rejeitado a indicação. Entretanto, o assessor especial da Presidência para Assuntos Internacionais, Marco Aurélio Garcia, já esclarecera que não houve rejeição oficial, pois não ocorreu um pedido oficial de ‘agrément’ para autorizá-lo.
De qualquer modo, o próprio perfil de Dayan vai na contramão da perspectiva diplomática do governo brasileiro perante Israel e Palestina e sua nomeação já havia sido classificada como “inaceitável” para funcionários do Itamaraty, segundo confirmaram Misleh e Charbel.
De origem argentina, Dayan foi durante seis anos (2007-2013) o presidente do Conselho da Judeia e Samaria, uma importante organização de colonos israelenses em territórios palestinos ocupados. Em entrevista em 2013 a Opera Mundi na Cisjordânia, Dayan já havia destacado o seu papel no grupo de colonos que liderava.
“Temos a missão histórica de recuperar a terra da qual fomos expulsos há dois mil anos. Não somos invasores, como insiste a narrativa árabe, mas os retornados. Essa região é estratégica para a defesa e o desenvolvimento de Israel”, argumentara à época.
Há algumas semanas, mais de 30 organizações sociais brasileiras pressionaram o governo brasileiro por meio de um manifesto contra a nomeação de Dayan.
Na abertura da Assembleia Geral da ONU na segunda passada (28/09), Dilma já havia reiteradoque, assim como não se pode postergar a criação de um Estado palestino que coexista pacificamente com Israel, não se poderia mais permitir a expansão de assentamentos israelenses na Cisjordânia.
Roberto Stuckert Filho/PR
Dilma na ONU: “Não se pode postergar a criação de um Estado palestino que coexista pacificamente com Israel”
Fonte: Opera Mundi.