Juan Manuel Santos fala de paz, mas vomita fogo

Colombian Defense Minister Juan Manuel SPor Iván Márquez.*

O presidente da Colômbia, que assume um processo de paz com as FARC em Havana, Cuba, afirmou em recente teleconferência com os chefes militares que “é preciso manter a ofensiva: aqui não vamos deixar de atuar com contundência em toda atuação de nossas forças armadas contra a guerrilha, enquanto não chegar o momento em que assinemos os acordos”.

Torna-se paradoxal e incoerente que um homem que fez da paz a bandeira de sua campanha pela reeleição à presidência, ordene, ao mesmo tempo, seus oficiais a pressionar com mais operações militares a insurreição guerrilheira com a qual dialoga.

Somente em Macondo (aldeia ficticia da obra Cem Anos de Solidão) acontece de um Presidente porta-bandeira da paz ser, ao mesmo tempo, porta-bandeira da guerra. E somente seus governantes, que vem respirando durante décadas a loucura da violência, horrorizam-se quando o anelo de paz se ergue como esperança possível e, então, ordenam, disparar contra ela e bombardeá-la a fim de matá-la. Preferem a paz dos sepulcros à paz com mudanças sociais, econômicas e políticas.

Fazer concessões à guerra, jogando a paz ao fosso dos leões da disputa eleitoral, é um despropósito, um insulto ao sentimento de reconciliação das maiorias nacionais.

E é justamente a esse cenário contaminado de militarismo do regime e em absurdo contraste que nos deve chamar à reflexão, que nos chega o importantíssimo apoio ao processo de paz da Colômbia, apoio enviado por mais de duzentos parlamentares dos Estados Unidos e da Europa, ao qual agradecemos em nome do país que anela a reconciliação.

A confiança e o otimismo que os amigos de paz para a Colômbia têm nos diálogos de Havana, estimula-nos a seguir em frente e, com eles, compartilhamos que a única opção para conseguir uma paz efetiva e duradoura é através da solução política que, sem dúvida, deve ter início ao se tomar as medidas necessárias para reduzir o custo humanitário do conflito. E é a partir desta consideração, exatamente, que deriva a nossa posição constante a favor de um cessar-fogo que alivie as aflições e penúrias do conjunto da população, e nossa disposição de assumir uma trégua bilateral nos termos propostos pelos parlamentares de Washington, Londres, Dublín e Belfast, ao se unirem ao clamor nacional.

É preciso fazer pela paz até o impossível porque ela é a síntese do grande direito, sem o qual nenhum outro direito é viável. A direita guerreirista que impôs a injustiça e a exclusão não vai nos condenar a uma guerra perpétua.

A Colômbia toda, a urbana e a rural, a negra e a indígena, a das camadas médias e dos estratos baixos, deve se levantar e andar para defender o bem sagrado da reconciliação e da paz. Esta oportunidade de paz pertence ao povo e somente o povo é soberano e tem o direito de definir seu rumo.

O sonho de paz dos colombianos não está sozinho. Esperamos o reforço dos povos o mundo para que a reconciliação nesta esquina do norte da América do Sul seja, finalmente, uma realidade para seus habitantes e exerça sua influência benéfica no resto do continente.

* Integrante do Secretariado das FARC.

Foto: infosurhoy.com

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