A pandemia do novo coronavírus ainda tem muitas perguntas sem respostas. No começo, muitos acreditavam que só pessoas idosas ou com doenças crônicas poderiam ter a forma mais grave da doença. Hoje, a realidade se mostra diferente. Pessoas jovens e sem nenhuma comorbidade, ou seja, fora do chamado grupo de risco, também tiveram a covid-19 mais severa e até mesmo faleceram.
A intensivista e chefe da UTI de covid-19 do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (HCFMRP) da USP, Maria Auxiliadora Martins, diz que a forma grave da doença acontece mais em pacientes com comorbidades, “o que não significa que pacientes sem fator de risco não vão desenvolver” a doença. A médica admite que o motivo ainda é desconhecido, mas que existem hipóteses, como a questão do tipo sanguíneo. “Tem estudos mostrando que há uma predisposição do paciente tipo A ter a forma mais grave, com relação ao paciente de tipo O.”
Como uma das medidas mais efetivas de prevenção ao novo coronavírus, o isolamento social também pode ter efeito colateral. Com as pessoas em casa, a prática de atividades físicas e até mesmo a alimentação ficam comprometidas. Por isso, Maria Auxiliadora alerta para o aumento da obesidade como “um fator de risco muito presente nos pacientes com a forma mais grave da doença”. A obesidade como complicador da covid-19 é condição anterior à pandemia, já que “o sedentarismo e a má alimentação estão ligados a doenças cardiovasculares e neurológicas”, completa a médica.
Por ser uma doença recente, teorias que supostamente explicam o motivo dos jovens terem a forma grave da covid-19 acabam surgindo. Uma delas é a possibilidade de o paciente já ter tido contato com outro tipo de coronavírus, o que prejudicaria sua resposta imunológica. Para Maria Auxiliadora, caso isso acontecesse, o efeito seria o inverso e “o paciente até poderia ter algum anticorpo com atividade contra o novo vírus”.
A médica ainda afirma que os jovens, por se sentirem fora de perigo, “ficam tranquilos, se aglomerando e deixando de se cuidar”. Mas ela destaca que, além de se protegerem, os jovens precisam pensar que estão prevenindo que outras pessoas adoeçam. “Ele vai colocar pessoas que têm comorbidades e mais chances de ter a forma grave da doença em risco.” Para ela, em um momento como este, é preciso empatia. “É uma conscientização que a população tem que ter. A prevenção é para todos.”
Edição de entrevista ao Jornal da USP no Ar, Edição Regional.