Jovens de classe média são presos e, ao chegarem na delegacia, ofendem homem negro sem saber que era o delegado: “Safado, cabação, analfabeto, não leu livro na vida, estou terminando curso de direito […] queremos falar com quem manda”.
Três jovens (21, 22 e 30 anos) de classe média foram presos no último domingo (11) em Curitiba (PR) por desacatarem guardas municipais no Museu Oscar Niemeyer. Eles consumiam bebida alcoólica após o toque de recolher.
Na delegacia, dois deles acabaram envolvidos em uma nova confusão. Quando o delegado Rodrigo Souza foi ao encontro dos jovens, eles passaram a xingá-lo e exigir a ‘presença do delegado’, sem levar em consideração que poderiam estar falando com o profissional. Diante do ato, Rodrigo começou a filmar a situação.
“Quando cheguei, vi que eles estavam alterados e perguntei o motivo de estarem gritando. Falaram que não iriam falar comigo, porque eu não mandava nada, que só iriam falar com o delegado e aí começaram as agressões verbais”, disse o delegado Rodrigo Souza, da Central de Flagrantes.
“Um deles me chamou de safado, usou um palavrão e me chamou de ‘cabação’. O outro perguntou se eu já tinha lido algum livro na vida, disse que eu tinha cara de analfabeto”.
No momento das agressões verbais, os três jovens esperavam para serem ouvidos após a prisão pela Guarda Municipal. Quando foram chamados, perceberam que o homem que eles ofenderam era o delegado. “Aí pediram desculpas”, afirmou Rodrigo Souza.
Os três jovens vão responder pelo desacato aos guardas municipais. Um deles foi liberado imediatamente, enquanto os outros dois só foram soltos sob fiança na manhã de segunda-feira (12). “Como somaram os crimes, os dois que me xingaram ficaram presos. Arbitrei fiança de R$ 1 mil e pagaram só em juízo”.
Embora os jovens não tenham utilizado diretamente nenhum xingamento racista, o delegado entendeu a situação como racismo estrutural. “Eles não falaram nada racista, portanto nenhuma injúria racial, mas ficou bem claro. Não cogitaram que eu fosse delegado em razão do racismo estrutural, por eu ser negro não posso ser um delegado?”.
“Como negro, gosto muito de servir como exemplo para aquele moleque pobre que tem intenção de seguir carreira. Torço para que cada vez mais pessoas pretas, negras, ocupem cargos em órgãos públicos. Que isso passe a ser normal e não anormal, como eles deixaram transparecer”, disse.
A polícia não divulgou os nomes dos jovens e o vídeo gravado pelo delegado está com a imagem borrada para preservar a identidade dos agressores.