Por Haroldo Heleno.
A aldeia Serra do Padeiro, Terra Indígena Tupinambá de Olivença, recebeu entre os dias 8 e 11 de dezembro cerca de 150 jovens, oriundos de diversas aldeias, para reflexões, discussões e planejamento de ações sob o tema: “Jovens Guerreiros pela resistência do território Tupinambá”. O encontro contou com a participação e o apoio de representantes do Conselho Indigenista Missionário (Cimi) e da Associação de Advogados dos Trabalhadores Rurais (AATR).
O encontro foi fruto de encaminhamentos tirados no grande encontro realizado entre os dias 03 a 05 de junho de 2016, também na Serra do Padeiro, quando os jovens definiram pela realização de pequenos encontros – ao término, finalizados com uma grande reunião. Após o encontro de junho, a Comissão Organizadora da Juventude Tupinambá promoveu reuniões nas comunidades, contando com as celebrações dos rituais nas noites de lua cheia. O intuito foi envolver aldeias com pouca participação.
Para a Comissão Organizadora do evento, o desafio foi o de estimular as reflexões dos jovens sobre o território tradicional localizado em uma região de grandes disputas econômicas e sociais. Justamente por isso, a estratégia foi a de promover interações entre as diferentes gerações e provocar a troca de conhecimentos, gerando vivências e oferecendo aos jovens presentes quais foram os caminhos até agora percorridos pelos seus antepassados e quais os passos ainda são necessários.
Este encontro mais uma vez foi marcado por intensos processos de rituais e uma atenta e participativa plenária que durante os três dias discutiram assuntos como: “Demarcação de Terras Indígenas e seus Processos”; “Autodemarcação, como fazer?”; “Diferentes processos: Terras tradicionalmente ocupadas e Reservas propostas pelo governo”. Tiveram a oportunidade de ver a situação quantitativa das reservas e terras demarcadas e em processos de demarcação colocando as dificuldades. Outros temas abordados: “Direitos constitucionais e outros direitos dos Povos Indígenas”; “Criminalização e Genocídio”; “Educação e Saúde diferenciada como direito e não como um presente ou favor”; “Organização interna”; “Comunicação interna e externa como instrumento de Luta” e “Protagonismo juvenil”.
Todas as discussões se pautaram por mesas de conversas, debates, exibição de filmes, momentos de descontração e muita responsabilidade dos jovens, além de uma participação propositiva e positiva dos caciques Babau e Luciano, que deram todo o apoio aos jovens. Cacique Luciano já garantiu a realização do Encontrão de 2017 na aldeia Tamandaré, o que foi comemorado pelos jovens.
Leia a Carta Aberta do encontro na íntegra:
Carta Aberta “Jovens Guerreiros pela resistência do Território Indígena Tupinambá”
Nos dias 08 a 11 de dezembro de 2016, nós juventude Indígena Tupinambá de Olivença, representado pelas comunidades, Serra do Padeiro, Serra das Trempes, Mamão, Acuipe do Meio, Acuipe de Baixo, Lagoa do Mabaço, Olivença, Aldeia Itapoã, Parque de Olivença, Aldeia Tucum, Aldeia Tamandaré, viemos por meio desta, apresentar para o Território indígena Tupinambá de Olivença, e a sociedade brasileira, os interesses comuns da juventude bem como da comunidade, levantados e abordados durante todo o evento.
Durante os dias de trabalhos e rituais, falamos e debatemos sobre Demarcação e seus Processos, Auto demarcação e os processos as suas diferenças com terras tradicionalmente ocupadas e Reservas propostas pelo governo, situação quantitativa das reservas e terras demarcadas e em processos de demarcação colocando as dificuldades, bem como, os direitos constitucionais, Educação diferenciada, saúde diferenciada, criminalização e genocídio, organização interna, comunicação interna e externa e protagonismo juvenil.
A partir dessas realidades refletidas, percebemos que nós Indígenas Tupinambá somos criadores de uma grande potência em termos culturais, políticos e ambientais, plena de vitalidade. Segundo dados oficiais somos cerca de 7 mil guerreiros e guerreiras que marcam sua presença com uma pisada forte do litoral ao interior da T.I Tupinambá de Olivença, dentro e fora das aldeias.
Apesar de compormos um conjunto extremamente heterogêneo, possuímos em comum o fato de estarmos situados numas das primeiras áreas colonizada pelos europeus. Devido a este longo histórico de contato marcado por opressões e resistências, nós Tupinambá estamos inseridos em um contexto particular de desigualdade e preconceito em relação a outros povos indígenas e não indígenas. A primeira característica marcante é a situação de extrema invisibilidade: boa parte da população brasileira, incluindo o meio acadêmico, ignora a existência de indígenas no nordeste, onde somos um dos mais preconizados, o que contrasta com a enérgica escalada das lutas indígenas na região, sobretudo nos últimos 30 anos.
A força da retórica de que nós Tupinambá teríamos sido “extintos” cria diversas dificuldades para nossas lutas na construção de novas formas de vida e cultura num país onde as alternativas ao modelo de desenvolvimento atual – que destrói ambientes e aprofunda opressões – muitas vezes parecem escassas.
Ao longo da história foi sendo construída uma narrativa segundo a qual os europeus teriam civilizado o nosso Povo de maneira irreversível e que as comunidades indígenas, aqui, teriam sido absolutamente “aculturadas” pelo processo colonizador, gerando, o que se convencionou chamar: povos misturados – e que portanto já não seriam mais povos indígenas.
As religiões, a igreja católica teve um papel forte no passado com essa ideia de extinção das nossas práticas religiosas e “aculturação” e atualmente as igrejas evangélicas, criminalizam e preconizam as práticas tradicionais de culto dos nossos encantados e das diversas formas e expressões de fortalecer nosso espírito e nossa fé.
Nesse sentido, as retomadas manifestam de forma singular para a defesa de nossas práticas tradicionais, bem como, produção das novas etnopolíticas que fizeram e fazem parte da contínua e difícil escolha de criar outros mundos – outras humanidades e ecologias – para além e contra aqueles da (neo)colonização e da exploração da natureza e dos homens a partir da acumulação privatista.
Buscamos, através deste evento o fortalecimento e aproximação da juventude das diversas aldeias nas 23 comunidades tradicionais, com formação, através das mesas de debates e rodas de conversa que alimentaram a juventude presente, escutando caciques, anciões e lideranças da T.I Tupinambá de Olivença, bem como, discutindo e debatendo questões específicas de nossa luta, nas suas diversas frentes de resistência. No nosso processo de construção do mesmo identificamos que a juventude soma e são frentes nas retomadas, mas percebemos também que existem ainda várias formas de somar.
Com o objetivo de continuarmos organizando a juventude e prevendo a construção do próximo Encontro geral da Juventude que acontecerá na Aldeia Tamandaré, aproximando e fortalecendo a luta, vamos criar duas (2) frentes gerais da juventude uma executiva e outra representativa, para propor novas formas de reunir e juntar a juventude Tupinambá.
Juventude Tupinambá
Fonte: CIMI.