Por Lorena Carneiro.
O distanciamento social provocado pela pandemia de covid-19 tem possibilitado, para uma parte da população, um tempo maior em casa e a necessidade de ampliar e reinventar as formas de lazer durante esses dias. Livros, filmes e séries são algumas das formas de se entreter e, ao mesmo tempo, aumentar o nosso universo cultural e de aprendizado. Pensando nisso, o Brasil de Fato Bahia pediu aos jovens do Levante Popular da Juventude algumas dicas culturais para aproveitar durante a quarentena.
:: BdF Indica | 15 livros para ler durante a quarentena ::
Filme
A primeira dica é o filme Queen & Slim (2019), dirigido por Melina Matsoukas. O filme narra a trajetória de um casal de afro-americanos que, após se defenderem de uma abordagem policial truculenta e acidentalmente matarem um policial branco, passam a ser perseguidos pelo Estado. “O caso não se transforma apenas num espelho da experie?ncia negra, mas um espelho da experie?ncia de comunidade negra. Uma rede de apoio, um elo, um quilombo que se forma na sua trajetória de fuga e que incide na disputa das relações de poder”, afirma Atailon Matos, de Conceição da Feira, que indicou a obra. “É uma narrativa além do ato e da perpetuação da violência do racismo, mas que nos permite olhar para dentro da nossa comunidade e ver a solidariedade como estratégia política de sobrevivência. Queen & Slim é sobre nós por nós”, salienta.
Livro
Ainda sobre o tema de resistência negra, Diogo Fernandes, que é do Rio de Janeiro e atualmente reside em Salvador, indica o livro “História dos Candomblés do Rio de Janeiro” (ed. Bertrand Brasil – 2019), de José Beniste. “É um ótimo livro para estudar a formação do Povo Brasileiro a partir da sua religiosidade de matriz africana. Oriunda de tantas etnias, pela presença cultural do povo Yorubá, Fon e Bantu, com suas raízes de resistência, percorreram entre Bahia e Rio de Janeiro na dedicação de formar, por meio do culto às divindades africanas, o que hoje compreendemos como candomblé, uma religião brasileira”, afirma Diogo.
“A leitura do livro nos sensibiliza para reconhecer o valor imaterial dos terreiros de candomblé hoje”, observa Diogo / Divulgação
A história dos Candomblés na metrópole carioca é um ponto de partida para percorrer os muitos caminhos que africanos e afro-brasileiros fizeram em muitas cidades brasileiras, em diferentes estados do nosso país. “É sobre a construção de casas e terreiros para cultuar divindades africanas, e foram historicamente, segundo o livro, espaços de resistência preta, africana e que dariam através do tempo uma religiosidade brasileira própria.
As casas ou os terreiros reuniram escravizados e libertos para traçarem também planos de revoltas ao sistema vigente da época e seguem resistindo até os dias de hoje. A leitura do livro nos sensibiliza para reconhecer o valor imaterial dos terreiros de candomblé hoje, assim como o quanto a religiosidade brasileira se apresenta como um belo rio que percorre pela contribuição africana na nossa formação de identidade nacional”, destaca.
Música
A galera do Rio Grande do Norte indica o trabalho de uma militante do Levante das terras potiguares: Patrícia CZ. Patrícia é atriz e cantora e acabou de lançar o single Salinha 3, cujo clipe foi gravado nas quatro zonas da cidade de Natal. Em tempos de pandemia, é importante apoiar o trabalho dos artistas locais que estão produzindo arte e cultura pro nosso povo. Os clipes de Patrícia CZ podem ser encontrados no seu canal do YouTube.
O rapper MV Bill lançou o clipe da música “Quarentena há três semanas” / Reprodução
E a última dica é de Pan Magaiver, de Fortaleza, Ceará. Ela indica o trabalho do rapper MV Bill, que há cerca de três semanas lançou o clipe da música “Quarentena”. “O cara tá mandando a ideia pra nós, das comunidades, das perifas, pra gente fazer a nossa parte. É nós por nós salvando os nossos, irmão”, ressalta a estudante de Serviço Social.