Por Clarissa Peixoto.
No Dia Internacional de Luta das Mulheres, um coletivo formado por duas jornalistas e uma estudante de ciências sociais irá lançar a campanha de financiamento colaborativo “Catarinas”, em Florianópolis, às 19h. O evento conta ainda com o bate-papo “Vamos falar sobre feminismos?” com participação de Clair Castilhos, secretária executiva da Rede Nacional Feminista de Saúde.
A exemplo de outras iniciativas de interesse público apoiadas por meio desse tipo de financiamento, Catarinas é um projeto para o desenvolvimento de um portal de notícias sobre gênero, feminismos e direitos humanos. A jornalista Clarissa Peixoto acredita que existam iniciativas importantes na área de comunicação e gênero no estado, porém, segundo ela, ainda há uma demanda represada na produção de conteúdo jornalístico especializado. “Temos consciência de que as mulheres ainda precisam avançar para garantir direitos humanos equivalentes ou equânimes aos dos homens e buscamos ampliar o debate para que mais pessoas possam ter acesso às informações relacionadas ao tema”, afirma a jornalista, que entre outros trabalhos, atuou na Campanha Jornalistas dão um ponto final à violência contra mulheres e meninas.
Catarinas vai oferecer periodicamente curadoria de informações relacionadas à temática, produção de conteúdo regional em Santa Catarina e observação dos debates públicos sobre o tema. De acordo com a jornalista Paula Guimarães, Catarinas vai atuar com jornalismo especializado, campanhas educativas e mobilização em rede. “Práticas de ciberativismo e midialivrismo são relatimante novas, porém resgatam e dão fôlego a uma antiga premissa do jornalismo: a defesa dos direitos humanos”, assinala a jornalista integrante da Frente Nacional pela Legalização do Aborto.
Ela recorre ao código de ética para lembrar que é dever do profissional defender os direitos de cidadãs e cidadãos, em especial de quem está em minoria nos espaços públicos e políticos, como as mulheres. “Buscamos construir possibilidades de enfrentamento às desigualdades entre homens e mulheres, através de uma narrativa jornalística que avance sobre estereótipos e aponte para a necessidade de equidade de gênero”, explica.
Kelly Vieira, presidenta do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher em Florianópolis (COMDIM), também integra o projeto. Ela lembra que o único estado em todo território nacional a carregar um nome de uma mulher tem o quinto maior índice de estupro do país e se destaca também quando o assunto é violência doméstica. A cada 12 horas uma mulher é agredida pelo próprio companheiro. Nos espaços políticos e públicos, a desigualdade se mantém, a mulher pode ganhar até 60% menos que um homem, mesmo exercendo a mesma função. Na capital, desde 2004 não é eleita uma vereadora.“Catarinas vai dar voz às mulheres silenciadas, às suas angustias, belezas e subjetividades. Nem todas bruxas, nem todas santas. Somos muitas: catarinas”, afirma.
Participam do Conselho Editorial Clair Castilhos, sanitarista, Guilhermina Ayres do movimento de Mulheres Lésbicas e Bissexuais, Alexandra Peixoto, ativista social, Monica Siqueira, antropóloga, Ana Cláudia Araújo jornalista e Lilia Rossi do Programa Nacional DST/Aids do Ministério da Saúde.
Campanha
A campanha será lançada no site Catarse nos dias posteriores ao lançamento. O financiamento coletivo ou colaborativo pela Internet é umas das principais formas que têm possibilitado novas iniciativas jornalísticas. Entusiastas que se identificam com a ideia podem realizar coletivamente o projeto por meio da contribuição de uma quantia em dinheiro que pode ser paga através de cartão ou boleto bancário. Se a meta for atingida, o projeto é colocado em prática e apoiadores e apoiadoras recebem em casa as recompensas de acordo com o apoio.
Foto: Monique Souza