Por Paula Guimarães.
“Minha atenção era integral/mas teu amor refinado/não do fino significado/mas da ausência de fibra/era amor farinha/banal”. Esse é um dos pedaços do cotidiano que Fêre Rocha compartilha conosco em seu primeiro livro “Cotidiano Horizonte”, com lançamento previsto para a próxima quinta-feira, dia 9 de julho, às 20h, na Fundação Badesc. O Sarau Musical e Literário terá presença dos músicos Alexandre Green, Juliano Malinverni e da Sonora Parceria de Tatiana Cobbett e Marcoliva.
Com um humor refinado, bem distinto do refino de que trata nesses versos, a jornalista traz em seu primeiro livro uma coletânea de poemas que flertam com o ingênuo – numa sinceridade típica da infância – porém não deixam de serem adultos, com temas que sacodem e levam à reflexão sobre as regras e cobranças que impomos a nós cotidianamente. Ao mesmo tempo em que convida a relaxar, Ferê faz fervilhar o que parecia adormecido e nos inquieta diante das “verdades”, que de repente se tornam tão frágeis e dispersas, vagantes em busca de “liberdades”.
Fêre é alguém que sempre gostou de arte em suas diversas formas, ela escreve sobre o simples, a melancolia e “trabalha a síntese contra a pomposidade”, como analisou o prefaciador do livro, Tadeu Sarmento, vencedor do Prêmio Pernambuco de Literatura na categoria Romance. Cotidiano Horizonte traz o registro de diferentes épocas da vida da autora: são cotidianos “em tons ensolarados” que insistem em abordagens positivas e horizontes leves. “Mostra certo amadurecimento da escrita, opções por um estilo ou outro e principalmente a escolha do simples permeando as temáticas”, explica ela.
Fêre com sua avó Silda Carbonera, também poetisa.
A inspiração vem das pessoas “comuns”, dos pássaros, dos fragmentos da infância, e de diversos poetas contemporâneos ou não. A escritora precisa de poesia para viver, porque arte para ela, “é um tipo de bálsamo, de cura, de liberdade”. Embriaga-se em leituras de poetas do Brasil e do mundo e nas variadas situações do cotidiano. “A poesia está em tantos lugares que nos dificulta dizer, não é? No palhaço que está no semáforo, em pássaros, em gente que sorri e gargalha daquele jeito desarmado. Tem poesia na determinação das pessoas em levar a vida sem prejudicar ninguém. E muita poesia tem a música, a variedade de sons.”
Ela não sabe ao certo quando se descobriu poetisa, mas se lembra que gostava muito de ler e ouvir poemas. Ao final da adolescência, todas as linhas escritas passaram a fazer sentido. Aos poucos, o exercício tornou-se frequente e abriu caminho para o Blog da Fêre, criado há seis anos. “Escrever me permitiu gritar, amar, chorar e outros tantos sentimentos, só que de forma escrita”, revela.
Na caixa de lembranças, a artista guarda com carinho as parcerias musicais. “É bom ver um poema se tornar uma música ou fazer uma letra. Nos últimos anos aconteceram parcerias assim com Alexandre Green, Tatiana Cobbett e Marcoliva e Carlinhos Antunes”, relata.
A poetisa espera que a vida traga mais leveza que o contrário. Acredita que todos os seres humanos precisam de alguma dose de poesia. “Como costumava dizer, a poesia tem o poder de resgatar a beleza onde muitos não notam, permitir o grito onde muitos não ousam”, afirma.
Fêre é natural de Lages e recebeu apoio da Fundação Cultural da cidade para realizar seu projeto. Foi membro da oficina literária Letras no Jardim, em Florianópolis e em janeiro de 2015 realizou uma exposição de seus poemas na Casa do Sambaqui, espaço artístico-cultural, também em Florianópolis.