Jornalistas já saem “deformados” das faculdades. Foi isso que identificou uma pesquisa realizada pela Universidade São Paulo (USP) com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP). Foram entrevistados 538 profissionais e os dados podem ser encontrados no e-book As Mudanças no Mundo do Trabalho do Jornalista (Editora Salta).
A pesquisa foi dirigida por Roseli Fígaro, coordenadora do Centro de Pesquisa em Comunicação e Trabalho da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP).
São Paulo abriga cerca de 30% dos profissionais em atividade no jornalismo. E o que se pode constatar é que as faculdades, principalmente as privadas, prevalece na formação do estudante a lógica do mercado. A maioria dos entrevistados se formou em faculdades particulares e veem o jornalismo como um negócio qualquer. Como vender balas ou bebidas em bares.
Ainda segundo a pesquisa, apenas 5% dos entrevistados não concluíram o ensino superior e 65% possuem pós-graduação (especialização). Também se constatou que o jornalista começa a trabalhar ainda antes de terminar a faculdade e segundo a pesquisadora, os estudantes possuem certo desprezo pela faculdade. Vale o que se “aprende” no dia a dia e só.
É comum, pelo menos em Alagoas, vermos redações repletas de estagiários que atuam como se fossem profissionais formados e, como ainda não são jornalistas por formação, recebem entre R$ 200 e R$ 400 para trabalharem mais horas do que o acordo da categoria no estado estipula que são cinco horas diárias.
Ainda segundo a pesquisa, parte dos profissionais possui uma capacidade ruim contextualizar fatos e dados historicamente, social e política. Algo previsível, pois o que orienta os donos dos meios de comunicação em geral é a mesma visão empresarial de um negócio qualquer: lucro.
A pesquisa também constatou que apenas os jornalistas sindicalizados e os freelancers consideram os meios de comunicação como instrumento de cultura e informação. E apenas os primeiros enxergam a informação como um direito. Os demais, entre eles os freelancers, como um produto.
Jornalismo não pode ser tratado como um negócio qualquer. Ele tem toda uma responsabilidade social que o diferencia de outros ramos empresariais. O principal é o fortalecimento da democracia. Não como querem os barões da mídia, quando o tema da democratização dos meios vem à tona, que apenas querem ter liberdade de empresa, sem nenhum compromisso com o jornalismo.
Não se trata de defender a possibilidade da imparcialidade. Isso é um mito e serve apenas para vender cartilha a calouros nos cursos de Jornalismo e que, contraditoriamente, logo são deixados de lado, quando se inicia a busca desenfreada por estágios. Se não se abrir o olho, logo os cursos de jornalismo se tornarão escolas de redação, fotografia e de noções de informática.
Fonte: Blog do Cadu.