Por Mailson Ramos*
Por que um telejornal tradicional da maior emissora de TV do país decaiu em termos de audiência? Quais foram as causas? Quais são os reflexos desta queda? O que se pode interpretar dos baixos níveis de audiência? Será preciso uma revolução na estrutura do Jornal Nacional da TV Globo? Por dois dias seguidos encarei estas questões para tentar elucidar o momento de impopularidade de um dos programas jornalísticos mais assistidos da história da televisão brasileira. Foi possível chegar a algumas conclusões não definitivas sobre a decrescente audiência do Jornal Nacional nos últimos tempos.
A primeira condição a ser analisada é a de que as pessoas encontraram novas maneiras de se informar. A ideia de que o noticiário nas redes nem sempre era tão verdadeiro pelo desconhecimento das fontes caiu por terra. Atualmente, a republicação de notícias de sites nas redes sociais provocam um aumento na percepção de que os telespectadores não podem mais ser simples consumidores da notícia, mas também produtores. E o simples ato de compartilhar, comentar, rebater ou concordar, significa que o navegante tem acesso mais amplo do que aquele sujeito recostado no sofá que recebe e apenas recebe uma informação.
Falta interatividade ao Jornal nacional? Talvez. Mas não apenas isso. Na era da informática, da velocidade da informação e do compartilhamento de dados, não é possível que televisão ainda conceba um projeto de telejornal engessado como é aquele editado e apresentado por William Bonner. A manutenção do padrão, da história e do estilo jornalístico empregado no Jornal Nacional devem ceder lugar a novas concepções que podem agradar mais ao telespectador. Esta história de que as pessoas devem assimilar as notícias sem muita análise acabou.
Mesmo que os responsáveis pelo Jornal Nacional não admitam, grandes erros tem sido cometidos nas coberturas dos escãndalos políticos; suprime-se fatos, aumenta-se o foco sobre outros, define-se um status que molda aos poucos uma parcialidade do jornalismo global. Penso que esta condição é reflexo institucional da emissora e não apenas uma afetação de seu jornalismo, embora seja o jornalismo o principal canal para disseminação das informações da emissora e, portanto, responsável pela produção de sentido e formulação da opinião pública.
Depois da saída de Fátima Bernardes, o Jornal Nacional jamais conseguiu emplacar uma dupla de apresentadores . Patricia Poeta surgiu como a salvação da lavoura: bonita, inteligente, disciplinada, mas não uma grande apresentadora. Acabou frustrando todos aquele que se acostumaram ao estilo e bom-mocismo de Fátima. O posto agora é ocupado por Renata Vasconcelos que migrou do ‘Bom Dia Brasil’ e tem apresentado o telejornal ao lado de Bonner.
E para completar a situação, o Jornal Nacional não pode mais se ancorar, por enquanto, na audiência das novelas que o antecedem. As novelas das 18 e 19 horas não tem conduzido um bom número de telespectadores ao início do jornal. As emissoras concorrentes também têm investido em programações interessantes que de algum modo colaboram para a diminuição da audiência do JN. O desgaste é inevitável. Não é possível prever a dimensão dele ao longo do tempo, mas, mesmo que não admita, a TV Globo passa por algumas crises. A Globo de hoje não é a mesma Globo de vinte anos atrás.
*Mailson Ramos é escritor, profissional de Relações Públicas e autor do blog Nossa Política. Escreve semanalmente para Pragmatismo Político.
Fonte: Pragmatismo Político
Foto: Reprodução