Por Juliana Claudio e Silvia Agostini Pereira*
A possibilidade de retorno às aulas presenciais tem deixado os profissionais de educação apreensivos e os pais receosos. A direção do Sinsej tem recebido com muita preocupação as notícias de que o governo Udo Döhler (MDB) prevê para o dia 20 de outubro o retorno dos alunos para as salas de aula. A posição do Sindicato é muito clara: sem redução drástica da pandemia e sem garantia de segurança sanitária para a comunidade escolar não tem como promover a volta às aulas.
Ainda que a Secretaria de Educação afirme que todas as escolas da rede municipal estão preparadas dentro dos protocolos para recebimento dos alunos, a realidade mostra outra situação. Muitas salas de aula possuem apenas janelas basculantes, o que não garante a ventilação ideal, e a maioria das escolas conta com bebedouros coletivos, contraindicados em tempos de pandemia. Isso para citar apenas alguns dos problemas que impedem um retorno saudável dos alunos às escolas. Segundo a professora de Língua Portuguesa do Ensino fundamental II, Hanelore Bandel Leal, que atua na educação pública de Joinville desde 2008 e integra o Conselho de Representantes por local de trabalho do Sindicato, o retorno às aulas presenciais seria um absurdo total. “Imaginem várias pessoas na mesma sala com janelas basculantes, onde as crianças, numa nova realidade, não poderiam se tocar ou interagir, deveriam manter distanciamento adequado, com o uso de máscaras e consciência de higienização constante, exigindo de cada uma delas uma maturidade que não caracteriza sua idade cronológica”, pondera Hanelore. Segundo ela o retorno sem vacina ou no mínimo condições sanitárias adequadas, como controle do vírus, é genocídio, “uma catástrofe mais do que anunciada”.
Além disso, o governo tenta se eximir de sua responsabilidade obrigando os pais a assinarem um termo em que declaram “ter ciência de todos os problemas causados pela pandemia COVID-19, dos riscos em relação ao contágio do coronavírus” e “do agravamento dos riscos que envolvem o retorno às aulas presenciais”. Pandemia é questão de saúde pública, portanto a responsabilidade é do estado e não dos pais que, em maioria, não têm obrigação de possuir o conhecimento necessário para discernir qual o momento seguro para mandar seus filhos de volta à escola. Joinville se mantém em situação “grave” na matriz de risco e segundo portaria estadual, as aulas só podem ser retomadas nas regiões de “risco alto”. Segundo a Secretaria de Saúde, a definição de retorno para o dia 22 está baseada na garantia de que os indicadores estão melhorando. Porém os números de casos e óbitos nos últimos dias dizem o contrário. As constantes flexibilizações e a falta de fiscalização têm feito com que Joinville se mantenha no sinistro topo do ranking de contaminação e óbitos pela COVID-19 com 22743 casos e 343 mortes.
Modalidade proposta para o retorno é perigosa
A forma como está previsto o retorno também tem causado muita apreensão em toda a comunidade escolar. Segundo divulgado pela Secretaria de Educação, dia 20 de outubro retornam os estudantes do 9º ano e da Educação Jovens e Adultos (EJA), os alunos do Ensino Fundamental II (8º, 7º e 6º anos), os estudantes do Ensino Fundamenta I (1º ao 5º anos), as crianças da Educação Infantil (1º e 2º períodos) e da Educação Infantil (creches) respeitando o limite máximo de 30% de alunos de cada turma. Ou seja, ao contrário do previsto anteriormente onde o retorno seria limitado por séries a cada semana, agora todas receberão alunos que terão que compartilhar os espaços comuns da escola como banheiros e refeitórios. Além disso, serão apenas duas horas de aulas presencias para cada turno, fazendo com que os pais e responsáveis tenham que levar e buscar seus filhos em um pequeno intervalo de tempo, o que não é possível para a maioria deles que trabalham.
Fato é que a decisão do governo em retomar as aulas presenciais no dia 20, se for confirmada, irá expor alunos, servidores da educação e famílias a um alto risco de contágio, o que poderá levar a cidade e a região a um novo pico de casos e mortes pelo coronavírus. Prova disso são os casos de países que promoveram e retorno e tiveram que recuar após poucos dias, mesmo com a adoção de uma série de medidas de proteção sanitária. Na Coreia do Sul, país considerado referência no combate à COVID-19, mais de 200 escolas tiveram de ser fechadas logo após a retomada das aulas devido a surtos da doença na capital Seul.
Esta nova realidade imposta pela pandemia tem exigido um grande esforço dos profissionais da educação. A direção do Sinsej tem recebido constantes denúncias com relação ao assédio que os educadores vêm sofrendo para darem conta das novas demandas. A proposta do governo em promover o ensino híbrido (aulas presenciais e não-presenciais) irá piorar ainda mais esta situação já que exigirá o trabalho dobrado dos professores que terão que adaptar os conteúdos as duas plataformas de ensino. Além disso, o medo causado pela exposição aos riscos de contágio e a responsabilidade em fazer com que as crianças obedeçam disciplinarmente aos protocolos de prevenção elevarão o nível de estresse já altos em decorrência da falta de condições de trabalho imposta pela defasagem de servidores causada pela falta de concurso público.
Direção do Sinsej chama Assembleia para próxima sexta-feira (9)
Preocupada com a exposição e riscos da comunidade escolar e a população em geral frente à doença, a direção do Sinsej está convocando a categoria para uma assembleia geral nesta sexta-feira (9) às 19h para discutir e deliberar sobre o tema e sobre a Reforma Administrativa proposta pelo governo Bolsonaro. Uma paralisação não está descartada.
______________
*Assessoria de Comunicação do Sindicato dos Servidores Públicos Municipais de Joinville e Região (Sinsej)