Por Sérgio Homrich.
A União Internacional dos Trabalhadores em Alimentação (UITA – Regional América Latina) aciona judicialmente a direção da empresa Seara JBS, nos municípios de Nova Veneza e Forquilhinha, no sul do estado, por obrigar os seus trabalhadores no setor de abatedouro de frangos a trabalhar sem o avental plástico, que integra o conjunto de Equipamentos de Proteção Individual (EPI) da categoria. Atuando em áreas com no máximo 12 graus e sobre mesas em inox, os trabalhadores permanecem com frio e banhados em sangue durante toda a jornada extenuante, sem qualquer conforto térmico e mais expostos ao contágio pelo novo coronavírus. A decisão da empresa veio após reclamação de clientes japoneses sobre a presença de um corpo estranho na carne exportada, um pedaço de plástico. “Depois disso, a engenharia da qualidade decidiu retirar o avental, que é o que protege o trabalhador”, critica a diretora de base do Sindicato dos Trabalhadores em Alimentação de Nova Veneza e Forquilhinha e diretora da UITA, Gisele Adão. A página http://rel-uita.org traz matéria sobre o assunto, do repórter Gerardo Iglesias, do dia 6 de julho de 2020.
Veja mais: Julio Rudman, jornalista e escritor argentino hoje, no Instigantes
A UITA exige “que a empresa tome consciência e devolva os aventais para os trabalhadores, porque só se produz com qualidade quando a pessoa está feliz naquilo que faz”, intima a dirigente da UITA. Ela lembra que o mínimo que o médico do trabalho da empresa deveria fazer é estar presente em cada mudança que envolva a saúde do trabalhador. “Simplesmente retiram a proteção que para nós, trabalhadores da linha de produção, é essencial para o ambiente do trabalho”. Praticamente no momento em que os aventais foram retirados, os telefones e correios eletrônicos do Sindicato foram acionados, os trabalhadores enviaram fotos dos uniformes molhados. “Estão desesperados com essa pandemia e a ameaça do desemprego, ficam até com medo de falar, e o Sindicato é a única arma que eles têm para dar voz a essa situação que estão passando”, conta Gisele.
A dirigente da UITA adverte que o consumo consciente deveria vir também de parte da sociedade: “Não podemos permitir que os trabalhadores sejam escravizados ou colocados em um ambiente de trabalho insalubre para que o produto chegue com qualidade na mesa do consumidor”. Gisele lembra que o setor de Alimentação é o que mais está vendendo. “É a única atividade que está contratando e funcionando 100%. O último trimestre foi um dos melhores para a JBS e acho que nem vai se repetir mais, porque as vendas são em dólar e o dólar está lá em cima”. No período, segundo a dirigente, foram 120 novas contratações, somente na unidade de Nova Veneza.
Pandemia na categoria
Embora o setor frigorífico seja propenso à contaminação de trabalhadores pelo novo coronavírus, Gisele considera que na região o contágio é baixo por causa de uma paralisação ocorrida no dia 19 de março pelos trabalhadores, logo no início da pandemia (são aproximadamente 14 afastados na unidade de Nova Veneza e nove em Forquilhinha). “Os trabalhadores daqui foram pioneiros, se existe a proteção a todos os frigoríficos do País, tem que agradecer aos trabalhadores de Nova Veneza e Forquilhinha”, defende, lembrando que o uso de máscaras de proteção facial, álcool em gel nas portas, medição de temperatura, “tudo isso foi exigido logo depois da nossa paralisação, e a proteção foi levada para o Brasil inteiro”. O problema é depois que entra na produção: “Aí as coisas mudam, muita aglomeração, imagina 600 trabalhadores em cada turno, não existe espaço de um metro e meio, fora é todo mundo separado, dentro, é juntinho”, conta, “o pessoal vai trabalhar com medo de contaminar a sua família, mas não tem opção porque precisa do trabalho e do emprego”.
Trabalho precário e LGBTI
Vice-presidente do Comitê Internacional LGBTI da UITA, Gisele Adão estima que 30% dos trabalhadores em frigoríficos são LGBTI. “Frigorífico é um lugar com alta rotatividade, as pessoas não ficam por causa do ambiente insalubre de trabalho e das atividades repetitivas, e os LGBTI ficam, porque às vezes é a única porta de trabalho que tem. Você não vê LGBTI em uma loja, porque as pessoas não dão oportunidade”, relata. “Temos mulheres trans no abatedouro – uma na unidade de Nova Veneza e outra em Forquilhinha -, que têm o nome social trocado, o Sindicato acompanha e dá suporte. A lei criminaliza a homofobia, o racismo, a violência contra a mulher, esse coquetel de lutas é que nos torna representativos de todos e essa representação tem que ser através do Sindicato”, finaliza.