Em vídeo compartilhado nas redes sociais pelo ministro de “assuntos da diáspora” de “israel”, Amichai Chikli, na quarta-feira (08), o ex-presidente Jair Bolsonaro revelou que atuou para favorecer a fugo do soldado “israelense” Yuval Vagdani, procurado pela Polícia Federal a mando da Justiça por acusações de crimes de guerra durante o atual genocídio em Gaza. Vagdani estava de férias no Brasil e conseguiu fugir, em uma operação que envolveu o governo “israelense”, sua embaixada e seus agentes no Brasil.
“Juntamente com meu filho”, disse Bolsonaro no vídeo, “fizemos a nossa parte, contamos com o apoio de vocês, com dados sobre o episódio em si, e acredito que foi afastada essa possibilidade” (de prisão do soldado no Brasil).
Logo depois, Eduardo Bolsonaro, com quem o ex-presidente apareceu no vídeo, fez declarações ainda mais reveladoras à imprensa “israelense”.
“Lançamos um contra-ataque virtual e a Polícia Federal brasileira pediu a um juiz que reconsiderasse o caso”, revelou o deputado ao jornal Maariv, sugerindo uma ação coordenada com os agentes “israelenses” no Brasil para interferir nas investigações contra o soldado acusado de crimes de guerra.
No domingo (05), Vagdani escapou do Brasil às pressas, procurado pela Justiça brasileira. A Justiça Federal brasileira havia determinado que a PF investigasse Vagdani. A decisão, emitida em 30 de dezembro de 2024 pela juíza Raquel Soares Charelli, da Seção Judiciária do Distrito Federal, atende a um pedido da Fundação Hind Rajab (HRF), organização internacional que defende os direitos palestinos.
O militar é acusado de participar da demolição de um quarteirão residencial em Gaza, no final de 2024, utilizando explosivos fora de situações de combate. As residências serviam de abrigo para palestinos deslocados internamente após o início da agressão genocida em 7 de outubro de 2023. A HRF apresentou evidências coletadas por meio de inteligência de fontes abertas, incluindo vídeos e dados de geolocalização, que comprovam o envolvimento do soldado nas ações denunciadas.
A investigação se concentra no período em que Vagdani atuou no batalhão Givati, uma unidade das Forças Armadas de “israel”. A denúncia ainda destaca a destruição de um corredor em Gaza, que gerou expulsão forçada de civis e profundas consequências humanitárias.
Além da investigação, a HRF solicitou a prisão provisória do militar, alegando risco de fuga ou destruição de provas. A decisão judicial baseia-se no artigo 88 do Código de Processo Penal Brasileiro, que permite a aplicação da jurisdição universal para crimes de guerra, crimes contra a humanidade e genocídio, conforme previsto no Estatuto de Roma, do qual o Brasil é signatário.
No sábado, o Ministério das Relações Exteriores de Tel Aviv emitiu uma declaração observando que o ministro Gideon Sa’ar havia agido para garantir que o criminoso não estivesse em perigo: “o Departamento de Assuntos Consulares do Ministério das Relações Exteriores e a Embaixada de Israel no Brasil contataram o cidadão israelense e sua família, fornecendo apoio durante todo o incidente até sua partida rápida e segura do Brasil.”
O deputado “israelense” Dan Illouz, do partido governista de extrema-direita Likud, ameaçou o Brasil por se posicionar em defesa do direito internacional e contra os crimes de guerra de “israel”. “O Brasil se tornou um Estado patrocinador de terroristas”, afirmou, embora o que a justiça brasileira tenha feito foi justamente pedir a investigação de um terrorista. “Israel não ficará de braços cruzados diante da perseguição de seus soldados”, continuou, concluindo que o Brasil “pagará o preço se não mudar sua conduta”.
Apesar da decisão judicial, não houve a retenção do passaporte do criminoso, o que tornou a sua fuga possível. De acordo com a emissora pública “israelense” KAN, citada pelo Jerusalem Post, a família do criminoso observou que o soldado não havia sido detido e que estava recebendo ajuda de “pessoas relevantes”.
Naquele mesmo final de semana, Jair Bolsonaro se pronunciou nas redes sociais afirmando que, fosse ele presidente do Brasil, receberia o criminoso no Palácio do Planalto “com as devidas honras” (talvez prestando continência, como já fez para empregados do governo dos EUA).
“Houve uma ofensa severa à soberania do Estado brasileiro por um Estado investigado por genocídio, crimes de guerra, crime de Apartheid e colonialismo”, afirma Ualid Rabah, presidente da Federação Árabe Palestina do Brasil (Fepal). “Isso tem implicações graves.”
Segundo ele, é fundamental que o Brasil investigue, de uma vez por todas, a ação do regime sionista para desestabilizar a política nacional, diante de ameaças como a do deputado Dan Illouz. “Acho, também, que o Brasil deveria, imediatamente, emitir uma ordem de captura à Interpol e, por fim, investigar os agentes públicos que, por ventura, podem ter vazado para as autoridades israelenses a ordem de captura e, além disso, negligenciarem, no cumprimento da ordem, para facilitar o tempo de fuga do criminoso.”
Por que “israel” bloqueia investigações da ONU sobre “estupros” do Hamas?