Por Flávio Carvalho, para Desacato.info.
“E pur si muove!” (frase atribuída, lendariamente, a Galileo Galilei)
Barcelona, 25 de janeiro de 2022.
A terra é redonda, tanto quanto o inferno pode ser quadrado.
Falam mais meus sentimentos, sempre.
Primeiro, logo que eu vi a notícia, veio uma alegria de dentro de mim.
Depois eu me contive. E me espantei. Quem é monstro? Eu? Ele?
Depois eu fiquei me perguntando, porque estás se contendo, Flávio, se o teu sentimento inicial era de felicidade? Queres voltar àqueles tempos de reprimir e renegar os sentimentos?
Daí eu respondi a mim mesmo que eu não gosto de morte. De ninguém.
E o que foi isso que eu senti, então, nesta manhã?
Aí eu fiquei pensando (sentindo, melhor dizendo, sempre: SENTINDO! No sentido de inquestionável, o meu sentir, principalmente por MIM MESMO): que eu estava complicando muito os meus sentimentos por um desgraçado que não merece. Não merece nem eu estar aqui falando dele. Mas estou. Estamos. Quase que inevitavelmente.
Então soltei minha franga (cada qual cuida das suas, por favor) e decidi não reprimir meu sentimento: estou alegre, sim, pela morte desse guru de assassinos. Como não fui eu que o matei (jamais!), me permiti até mesmo – a mim mesmo; longe de querer obrigar alguém a sentir o que EU sinto – alegrar-me pela forma que meus amigos estão comemorando (até bem mais do que eu).
Eu sou de ficar contente pela alegria dos meus amigos. Imagine pelas minhas…!
No mundo, há dois tipos de pessoas, creio eu.
Os que passam pelo mundo e repartem vida. E os que repartem morte. Por opção, por decisão, por escolha própria, deixando bem claro. Há quem chame isso de “livre arbítrio”.
Enfim. Os sentimentos são mesmo muito importantes para mim.
Para ele… não.
Pela honra de todas as mortes que foram, de certa forma, estimuladas, incentivadas, odiadas, pelo que hoje morreu.
Já vai tarde, Ovalo, para mim. (para mim!)
Se eu acreditasse em inferno…
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Flávio Carvalho é sociólogo, escritor e participante da FIBRA e do Coletivo Brasil Catalunya.
@1flaviocarvalho, @quixotemacunaima. Sociólogo e escritor.
A opinião do/a autor/a não necessariamente representa a opinião de Desacato.info.
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