Israel, uma ameaça global. Por Francisco Fernandes Ladeira.

Por Francisco Fernandes Ladeira.

Conforme a história nos tem mostrado nas últimas décadas (e recentemente com as imagens e vídeos que nos chegam diretamente da Faixa de Gaza), o Estado de Israel, com seu projeto de limpeza étnica, representa uma séria ameaça para a existência do povo palestino.

Além disso, as práticas genocidas do país de Benjamin Netanyahu estão por trás do surgimento no Oriente Médio, já há algum tempo, de uma onda de repulsa aos judeus, representando também um risco para a própria população israelense. Paradoxalmente, o projeto sionista, que teoricamente visava libertar os judeus das perseguições e preconceitos sofridos na Europa, hoje é maior fonte de antissemitismo.

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No entanto, Israel não é uma ameaça apenas para as populações citadas acima. Trata-se de um perigo para o mundo. Foi o que apontou, em entrevista ao canal do YouTube Cibele Laura, o criador e produtor do projeto “História Islâmica”, Mansur Peixoto, ao abordar o histórico israelense de atentados, vendas de armamentos, treinamentos militares e cooperações com regimes autoritários mundo afora.

Desde que surgiu enquanto Estado independente, em 1948, Israel tem planos de desestabilização do Oriente Médio. Além de conflitos com seus vizinhos árabes, o país está por trás da criação de diversas guerras. “Israel é produtor mundial de tecnologia de espionagem, tecnologia militar e tanques antimotins para conter manifestações e protestos”, pontua Mansur.

No início da década de 1950, Israel, em conluio com Estados Unidos e Reino Unido, apoiou o golpe de Estado no Irã que derrubou o governo nacionalista de Mohammed Mossadegh e instituiu a ditadura submissa ao Ocidente do Xá Reza Pahlevi. Posteriormente, o Mossad – agência de inteligência nacional de Israel – ajudou na criação da SAVAK, a polícia secreta iraniana, conhecida por sua truculência e práticas de tortura. Do mesmo modo, o exército israelense ofereceu o know-how necessário para as práticas de tortura e matança dos opositores à ditadura Pinochet no Chile.

Confirmando o histórico de ingerência em outras nações, em seus primeiros anos de existência, o Estado sionista promoveu atentados a sinagogas e outros templos religiosos no Iraque, buscando incentivar rivalidades entre judeus e muçulmanos naquele país, favorecendo assim a migração de judeus iraquianos para Israel (com objetivo de alcançar a tão almejada maioria demográfica em relação aos palestinos). Tratam-se de casos típicos de “terrorismo estatal”.

Já no contexto da chamada Guerra dos Seis Dias, as forças armadas israelense bombardearam o navio USS Liberty, dos Estados Unidos, para culpar o Egito e forçar um clima de animosidade entre estadunidenses e egípcios.

Como não poderia deixar de ser, por afinidades ideológicas, Tel Aviv foi aliado fundamental do apartheid sul-africano. “Quando a África do Sul estava prestes a cair e a população negra libertada, quem deu sobrevida ao regime [apartheid], enquanto o mundo embargava, era Israel”, destacou Mansur.

Por falar em preconceito racial, a polícia israelense ensinou para a polícia dos Estados Unidos a técnica de estrangulamento que provocou a morte de George Floyd, estopim para o movimento Black Lives Matter (“Vidas Negras Importam”), responsável por manifestações em várias cidades estadunidenses. Desse modo, qualquer movimento antirracista deve ser, inerentemente, antissionista.

Portanto, como conclui Mansur Peixoto, Israel não oprime somente o povo palestino. Diversas populações ao redor do mundo sofreram (e ainda sofrem) por causa do sionismo e pela sobrevida que Israel proporcionou a regimes autoritários. Não há um ditador no mundo, um único autocrata, que não tenha em Israel um grande mercado para suas ações (mercado este que apresenta Gaza e Cisjordânia como “laboratórios” privilegiados para testes de armas e procedimentos militares).

Francisco Fernandes Ladeira é Licenciado em Geografia pela Universidade Presidente Antônio Carlos (Unipac). Especialista em Ciências Humanas: Brasil, Estado e Sociedade pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). Mestre em Geografia pela Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ). Doutorando em Geografia pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

 

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