Israel propõe muro ilegal para o futuro Estado palestino

Por Jaisal Noor.

Nas notícias sobre os territórios palestinos ocupados, os negociadores israelenses estão agora exigindo que os palestinos concedam sua futura fronteira de estado junto ao muro de separação na Cisjordânia. Os palestinos dizem que isso é uma apropriação de terras ilegal, já que o muro de separação cruza a Linha Verde internacionalmente reconhecida de 1967. Quase 10%da Cisjordânia continuará no lado ocidental da barreira em Israel quando a construção do muro estiver finalizada, de acordo com o grupo de direitos humanos israelense B’Tselem.

Está aqui conosco para discutir isso Shir Hever. Ele é um pesquisador econômico no Alternative Information Center, uma organização palestino-israelense ativa em Jerusalém e Beit Sahour. Ele também é autor de The Political Economy of Israel’s Occupation: Repression Beyond Exploitation.

Obrigado por estar conosco, Shir.

SHIR HEVER, ECONOMISTA, ALTERNATIVE INFORMATION CENTER: Obrigado por me receber, Jaisal.

NOOR: Então, Shir, queremos saber sua resposta a esta notícia. Já suspeitávamos que Israel quer anexar a maior parte da Cisjordânia. Mas agora eles estão dizendo que querem tomar tudo a oeste do muro. Então queremos sua resposta. E também, o que vai acontecer com a grande quantidade de assentamentos no outro lado do muro?

HEVER: Acho que devemos separar realidade da ficção. E o muro de separação é realidade, é algo que está sendo construído por Israel há 13 anos. E digo isso não porque eles levaram anos construindo o muro, mas porque eles estão constantemente movendo o muro. O muro é parte da política usada por Israel para confiscar terra palestina, para separar as populações. E isso é uma realidade com a qual centenas de milhares de palestinos têm que lidar todo dia quando o muro os impede de chegar às suas escolas, hospitais e seus locais de trabalho ou terras.

muro Israel-Palestina-mapa

E, de fato, o muro, embora Israel o chame ofici almente de barreira de segurança, num encontro em que estive presente, o general de brigada Yair Golan, o ex-comandante das forças israelenses na Cisjordânia, disse às pessoas presentes que de fato o muro não [foi] construído para garantir segurança. Foi—as ordens que recebeu do governo israelense foram de que o primeiro propósito do muro é separar os povos, quer dizer, que a verdadeira intenção do muro é impedir que israelenses e palestinos se encontrem, se tornem amigos, se casem, e seu propósito secundário é garantir segurança. E isso é uma das razões pela qual o muro está sempre sendo movido, porque eles tentam incorporar mais judeus no lado israelense do muro, mas ao mesmo tempo tentam excluir [o máximo] de palestinos no outro lado, no lado oriental do muro. Essa é a realidade.

Mas quando falamos de negociações [inaud.] sobre as demandas pela equipe de negociadores israelenses e as conversas atuais com os palestinos, nós vamos para o [inaud.] porque essas negociações não são negociações de verdade. Não há dois lados aqui que possam negociar. Há um poder, que é Israel, que é o poder de ocupação, o poder soberano na região, e eles têm controle sobre ambos os lados do que acontece em torno do muro de separação. Eles continuam coletando impostos nos dois lados do muro. Então a única razão pela qual a equipe israelense de negociação está fazendo esse tipo de demanda é para perpetuar a ilusão de que é uma negociação entre dois lados.

E a maneira pela qual o governo israelense está tentando vender as negociações, tanto para o público israelense como para o resto do mundo, como se fosse uma barganha. Então eles começam—os palestinos já disseram que há a fronteira internacionalmente reconhecida de 1967, que é a fronteira estabelecida [inaud.] e esta deveria ser a fronteira internacional e o estado palestino deveria ser criado no outro lado. E isto é. Então Israel disse, esse é sua proposta; faremos uma contraproposta. Nós diremos que o muro de separação deveria ser a fronteira, isto é, vamos anexar [inaud.] algumas áreas, de fato, transformando o território palestino em pequenos enclaves. Mas a razão pela qual estou chamando isso de ficção é porque todos sabem que isto não vai acontecer. Todos sabem também que a liderança palestina nunca aceitará isso, e mesmo o governo israelense não vai prosseguir e torná-la uma oferta real. Eles não vão permitir um estado palestino, um estado palestino soberano, mesmo nos pequenos enclaves restarem após o muro ser considerado a fronteira.

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Então a razão pela qual eles estão fazendo essa oferta é para criar a ilusão de que estão barganhando. Mas acho que está claro que as negociações não vão dar certo. Mas acho que todos pensam isso agora. Mas mesmo o governo israelense está tentando ganhar tempo para manter as negociações [inaud.] mais um pouco para eles poderem dizer que estão no meio de um processo de paz, que eles estão tentando fazer o melhor. E isso os ajuda a evitar um pouco da crítica internacional.

NOOR: E em 2004 a Corte Internacional de Justiça considerou que este muro violava a lei internacional. Como exatamente Israel é capaz de exigir que ele seja—ou pedir que seja sua fronteira, como você diz, apenas como postura? Mas fale também como isso é possível.

HEVER: Sim. Devemos entender que Israel não reconhece a validade da lei internacional na prática. Oficialmente, sim. De fato, logo depois que Israel ocupou o território palestino em 1967, eles reconheceram que a Quarta Convenção de Genebra se aplica ao território ocupado. Mas depois mudaram de ideia e decidiram que não se aplicava e não cumprir mais com as leis internacionais, especialmente quando não é conveniente para eles. O muro, dizem, não foi—originalmente o muro foi projetado. Eles dizem que não tem nada a ver com [inaud.] futuras fronteiras. Ele não tem nada a ver com qual área é ocupada ou não. Trata-se apenas de segurança. Mas de alguma maneira aconteceu que a rota do muro não entra em território israelense nem por um centímetro. Toda a rota do muro é dentro do território palestino. Então as considerações sobre segurança são só levadas em conta quando são às custas dos palestinos, nunca quando são às custas de Israel.

Mas a ideia de que o muro pode ser considerado uma fronteira internacional é absurda. Como Israel pode afirmar isso? Eles podem afirmar isso enquanto os EUA quiserem continuar a charade e dizer ao mundo que há negociações, que os EUA estão mediando entre dois lados como se houvesse mesmo dois lados. Enquanto essa charada continuar, Israel pode dizer o que quiser. Eles podem fazer essas ofertas. Eles sabem que elas não serão aceitas. Mas se a liderança da Autoridade Palestina em Ramallah cair nessa armadilha e fazer uma contraproposta e dizer, bem, não, nós não vamos– [inaud.] aceitar o muro de separação como fronteira, queremos insistir nas fronteiras de 1967, isso só vai prolongar as negociações. Isto é o que Israel quer, prolongar as negociações.

NOOR: Shir Hever, muito obrigado pela sua participação.

HEVER: Obrigado, Jaisal, por me receber.

Fonte: Rede Castor (http://redecastorphoto.blogspot.com.br/2013/11/israel-propoe-muro-ilegal-de-separacao.html)

Tradução: João Aroldo

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