Irmã e filha de vítimas de Rodrigo Marotti protestam diante da decisão do júri

Ato em Nova Friburgo, no dia 10, protestou contra decisão do Tribunal do Juri por não condenar Rodrigo Marotti pelo duplo feminicídio de Daniela e Alessandra

Por Cláudia Motta

São Paulo – “Em três anos teremos um assassino nas nossas ruas.” A denúncia é de Luiza Mousinho, estudante de Veterinária e filha da empresária Daniela Mousinho. Ela e a também empresária e amiga Alessandra Vaz foram queimadas vivas por Rodrigo Marotti, ex-companheiro de Alessandra. O crime ocorreu em outubro de 2019, em Nova Friburgo (RJ), mas o duplo feminicídio só foi julgado no último dia 8. No entanto, depois de mais de 12 horas de sessão, o júri popular decidiu pela pena de 19 anos e 4 meses, por crime de incêndio com resultado de mortes.

Marotti prendeu Alessandra e Daniela no banheiro da casa da ex-companheira e colocou fogo num colchão, bloqueando a saída das duas. Ele fugiu do local no carro de uma das vítimas. As amigas tiveram 80% dos corpos queimados. Chegaram a ser retiradas com vida do local, apontando assim a autoria do crime, mas não resistiram aos ferimentos. A mãe de Luiza morreu no dia seguinte ao crime e Alessandra, dois dias depois.

Como a decisão da Justiça não levou em conta o crime hedionto de duplo feminicídio, e com as atenuantes possíveis, Rodrigo Marotti pode sair em até três anos. Dentro desse período, diz Luiza, o assassino de sua mãe poderá até responder ao processo em liberdade.

O Ministério Público do Rio recorreu logo ao final da sessão do julgamento. O recurso pretende submeter Marotti a um novo julgamento, após a anulação do júri, mantendo a acusação de duplo feminicídio.

“Vamos fazer de tudo para reverter isso. Essa decisão é estapafúrdia, absurda, abismal. Não vamos deixar isso ficar assim”, diz a filha de Daniela Mousinho.

“Perdi a fé”

A cantora Andressa Vaz, irmã de Alessandra, também manifestou via redes sociais sua indignação diante da sentença. Familiares e amigos das vítimas mantêm uma campanha nas redes sociais pela pena máxima a Rodrigo Marotti. “Nós lutamos tanto para ter uma condenação justa e o que recebemos foi uma sentença completamente estapafúrdia e inaceitável”, reforça.

“Rodrigo Marotti ateou fogo mas sem intenção de matar? Eu não tenho palavras para descrever o que sinto e penso sobre isso. É tão surreal ver as mulheres sendo ‘coisificadas’ pela Justiça, um lugar onde deveríamos nos sentir acolhidas para termos cada vez mais coragem de denunciar abusadores. Mas o que vimos (no dia 8) foi um show de horrores. Um filme de terror e um pesadelo que infelizmente vai se arrastar por mais tempo ainda”, lamenta Andressa.

“No momento só consigo me sentir derrotada, devastada e sem forças pra continuar. Perdi a fé nos homens no dia que a minha irmã pegou fogo, perdi a fé na justiça no dia de ontem e até mesmo a fé em Deus. Estou tentando me reerguer para continuar vivendo e voltar a lutar”, completa, agradecendo as mensagens de apoio que tem recebido.

Arquivo pessoal (Rodrigo Marotti matou Alessandra e Daniela)
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Medo de Rodrigo Marotti

Luiza afirma que é impossível não sentir medo. “Estamos lidando com um feminicida. O crime que ele cometeu já demonstrou que não tem o menor respeito pela vida das mulheres”, ressalta. “Alessandra era ex-companheira dele e não se justifica qualquer ação que ele tenha proferido. Mas minha mãe era uma amiga, foi funcionária dele e mesmo assim ele não a respeitou. Não teve consideração pela sua família e a matou da mesma forma.”

A jovem de 21 anos chora a morte precoce e violenta da mãe. “Perder a minha mãe tem sido a coisa mais difícil que vou passar para o resto da minha vida. É muito difícil, muito difícil. Mas eu não vou parar de lutar. Enquanto não tiver justiça por ela, eu não paro.”

Na última quinta-feira (10), amigos e familiares de Alessandra e Daniela realizaram um protesto com caminhada pelo centro de Nova Friburgo, cobrando justiça.

“Foi feminicídio, sim!”, gritavam manifestantes, exibindo cartazes e a nota de repúdio assinada por mais de 20 coletivos e organizações.

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