Por André Sampaio.
Dia 21/03/2016, eu estava lá. Alunos de diferentes cursos da PUC-SP marcaram um ato na Rua Ministro Godói a favor do impeachment da presidenta Dilma Rousseff. Até ai, tudo normal, estavam exercendo um direito democrático. Eram cerca de cem pessoas, que se reuniram em frente a um carro de som, enquanto estudantes discursavam sobre a insatisfação com o governo federal.
A polícia militar interditou a rua. Durante o ato, estudantes que se declaravam “contra o golpe”, foram se agrupando na mesma rua até formarem um grupo maior do que os que ali se manifestavam contra o governo.
A Polícia Militar fez um cordão para dividir os manifestantes. Quando o relógio bateu 21h30, os organizadores pró-impeachment colocaram o hino do Brasil para tocar e disseram que o ato acabava ali, pois tinham feito um acordo de horário com a polícia. Não foi bem assim.
Durante a execução do hino, os estudantes a favor do impeachment cantavam calorosamente com as mãos no peito, enquanto, do outro loado, estudantes que defendem a democracia estendiam o pulso esquerdo, ou cruzavam os braços.
Quando o hino acabou, a PM de maneira arbitrária começou a lançar gás pimenta contra os manifestes pró-governo. Foi então que um clima de guerra se instaurou em frente à PUC-SP.
Pessoas começaram a correr buscando abrigo enquanto a polícia disparava gás e balas de borracha contra os estudantes, alcançando, inclusive, o interior do prédio da universidade. Uma nuvem de fumaça ocupou a rua Ministro Godói.
De um lado, estudantes sofriam por conta do abuso do uso da força da PM, já do outro, manifestantes gritavam em alto e bom tom: Viva a PM, corre “petista viado”.
Depois de cerca de 20 minutos de tensão, as vítimas da repressão da Polícia Militar começaram a se agrupar dentro da universidade. A chamada “prainha” foi tomada por estudantes e professores que gritavam palavras de ordem contra o golpe.
A mesma Polícia que invadiu a universidade durante a ditadura militar resolveu reaparecer. Porém, foi literalmente um tiro no pé. A PUC-SP, de Paulo Freire e do Cardeal Dom Paulo Evaristo Arns, que foi palco de um massacre na noite de 22 de setembro de 1977 e que é conhecida por ser uma faculdade de resistência, ressuscitou seu ar de revolução. A maior parte dos estudantes presentes na “prainha” estavam literalmente afetados com a repressão. Seja a repressão física, como do estudante que tomou um tiro de borracha na cabeça, seja psicológica.
Aos poucos, os manifestantes foram deixando a universidade em um clima de tensão. O que aconteceu na PUC-SP na noite do dia 21 de março de 2016, levando em conta as devidas proporções, foi um ato de extrema repressão que lembrou os tempos obscuros da ditadura militar. Ao mesmo tempo, violento ou não, o que se viu ali serviu para despertar um sentimento de revolta nos estudantes agredidos. A PM despertou o gigante sentimento de emoção que existe dentro dos estudantes da PUC e, de agora em diante, terá mais trabalho para dispersar outros atos desses mesmos jovens que frequentam a universidade, que leva em sua história a luta em favor da democracia e que não se curvará diante a repressão da polícia e de um golpe ao estado democrático brasileiro.
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Fonte: Brasileiros.