Por Isadora Stentzler, para Desacato. info.
Um interno do Centro de Atendimento Socioeducativo (Case) de Passo Fundo foi aprovado no curso de Direito com bolsa integral do Programa Universidade para Todos (Prouni) após realizar o Exame Nacional do Ensino Médio para Pessoas Privadas de Liberdade (Enem PPL), em dezembro de 2019. Com a aprovação, ele encerrou o cumprimento de Medida Socioeducativa após dois anos e sete meses e foi liberado do Case. “Quero deixar para trás os erros do passado, concluir os estudos e ajudar a minha família”, ponderou o estudante.
O jovem tem 19 anos e foi desligado do Case na terça-feira, dia 18 de fevereiro, após audiência. Antes de entrar na unidade ele havia abandonado os estudos, mas precisou voltar às aulas para cumprir a medida socioeducativa. Dentro do Case de Passo Fundo ele encontrou a Escola Estadual de Ensino Médio Paulo Freire e também o curso de Ocupações Administrativas, oferecido pelo Centro de Integração Empresa-Escola (Ciee), o que o motivou a estudar e também a prestar o Enem PPL.
Além dele, outros dois internos dos 15 que realizaram a prova obtiveram notas altas. Um, de 18 anos, foi matriculado no curso de Administração com bolsa de 50% do Prouni e já iniciou as aulas, e outro, de 19, deve entrar na universidade no próximo semestre.
Medidas
Segundo a analista em educação do Case Passo Fundo, Karin Lilian Schappo, além dos três alunos que tiveram médias que garantiram passagem para a Universidade, os demais “se saíram bem”, porém alguns não realizaram a redação (maior dificuldade dos internos) e outros fizeram a prova para testar os conhecimentos.
Foram penas 19,2% dos internos que prestaram o Enem PPL, em um momento em que o Case vive uma superlotação – são 78 internos para a capacidade de 40.
De acordo com Karin, a falta de vagas impede que a equipe desenvolva o plano de atendimento à risca, mesmo assim são oferecidos projetos (Se Liga na Leitura, Xadrez, Banda Liberdade, Origami, Artesanato, Rádio Força Jovem, Escola de Futsal e Voleibol) que incentivem os internos, além da obrigação que os adolescentes têm de frequentar a escola da unidade.
“Acreditamos no nosso trabalho e não se mede esforços para que este seja realmente efetivo e que faça a diferença na vida desses adolescentes. Todos são sabedores que se o guri não estudar na Fase não vai estudar em lugar nenhum. É aqui que ele vai ter acesso a um mundo totalmente diferente do que ele veio. Então é de suma importância ele ter a oportunidade de ir ao cinema, ao teatro, participar de uma competição esportiva, realizar um curso profissionalizante. O intuito é que eles saiam daqui mais preparados do que quando chegaram para enfrentar o mundo lá fora. Precisam perceber que existe uma possibilidade de mudança nas suas vidas”, frisa Karin, sem esconder a preocupação com o preconceito: motivo que fez com que os funcionários da unidade não usassem crachás ou qualquer identificação na hora de matricular os estudantes na universidade.
Para a analista em educação, é preciso criar estas alternativas para que os olhos e a nação que condenam não quitar as novas oportunidades de quem, muitas vezes, não teve nenhuma. “Eles precisam saber que podem dar a volta por cima e escrever uma nova história para suas vidas. Essas conquistas apontam a importância do trabalho desenvolvido na unidade, provando que sim, fazem toda a diferença”.
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