(Prensa Latina) Os egípcios participam hoje em outra “marcha do milhão”, com epicentro na praça Tahrir, para manter a pressão sobre a Junta Militar que, depois de desculpar-se pela morte de 36 manifestantes, negocia outro governo interino.
O ambiente tenso prevalece em todo o país, ainda que as manifestações de rua – diminuídas nas últimas horas – enfocaram-se na simbólica praça do Cairo, em Ismailia e em Alexandria, onde ontem à noite houveram confrontos perto da Direção de Segurança.
A decisão do Conselho Supremo das Forças Armadas (CSFA) de levantar uma grossa barreira de concreto e arame em uma rua próxima a Tahrir que conduz ao Ministério do Interior reduziu os enfrentamentos entre policiais e manifestantes.
Segundo constatou Prensa Latina, após os choques do sábado e domingo passados, a maioria das vítimas sofreu lesões por pancadas de cassetete e a inalação de gás lacrimogêneo lançados pela polícia contra ativistas que queriam tomar a sede ministerial.
Enquanto isso, centenas de ativistas que por oitavo dia consecutivo protestam em Tahrir preparavam desde cedo o palco para uma marcha massiva convocada pela Coalizão de Jovens da Revolução e outras vinte organizações, incluídas várias islamitas e laicas.
“Sexta-feira pela justiça para os mártires”, em alusão aos falecidos pela repressão policial, é o lema que conduz a mobilização que também encherá ruas da Alexandria, apesar do ambiente volátil na segunda cidade do Egito, na costa do mar Mediterrâneo.
Com o tributo póstumo, o protesto reiterará a exigência ao dirigente Conselho Supremo das Forças Armadas (CSFA) para que ceda de imediato o poder a uma autoridade civil e desista de seu interesse em plasmar prerrogativas para o Exército na futura Constituição.
Em um dos três comunicados que emitiu na quinta-feira, o CSFA pretendeu desencorajar seguidores que, segundo assegurou, planejavam sair às ruas nesta sexta-feira para apoiar às autoridades militares, esgrimindo a necessidade de unidade em um momento tão próximo às eleições parlamentares do dia 28.
A cúpula castrense reconheceu que o Egito vive momentos críticos” e apelou à “autocontenção” dos cidadãos, além de que em outro pronunciamento se declarou “extremamente arrependida pelos mártires (mortos) caídos nos últimos incidentes na praça Tahir”. Além de ordenar uma investigação, o CSFA se ofereceu para visitar hospitais de campanha em Tahrir e prometeu “fazer de tudo” para impedir que se repitam esses choques letais, mas por outro lado ratificou que as eleições se farão segundo o planejado e “sob qualquer circunstância”.
Apesar da situação volátil, os militares reafirmaram que formarão um novo Governo antes das eleições do dia 28, para o qual o chefe do CSFA, marechal de campo Mohamed Hussein Tantawi, se reuniu ontem com o ex-primeiro ministro Kamal Al-Ganzouri (1996-1999).
Al-Ganzouri, que ainda não respondeu à possível oferta, dividiu os manifestantes entre aqueles que o vêem como uma pessoa de consenso e uma maioria que defende uma ruptura total com o passado, rechaçando seus serviços no cargo que ocupou Hosni Mubarak.