Por Camila Moreno.*
Vem aí um dia muito difícil para todas as mulheres. Não é fácil se entender como mulher em um mundo que oprime e mata as mulheres, aguentar as piadas machistas, as “homenagens” igualmente machistas de quem não se prontifica a mudar sua postura no mundo.
Então aí vão alguns informações que acho que todos deveriam saber sobre a data:
Sobre a concepção: Feminismo é um movimento anticapitalista, que compreende que a liberdade das mulheres só será alcançada em um outro modelo de sociedade. No capitalismo poderemos ter avanços pontuais, desde que não ameacem a exploração do trabalho e a propriedade privada. Feminismo é, portanto, necessariamente, luta de classe.
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Sobre a história: Você possivelmente já ouviu e ouvirá amanhã que o 8 de março surgiu por causa de um incêndio em uma fábrica têxtil em Nova York que matou mais de cem trabalhadoras. Então, essa história é uma lenda, que inclusive apaga a origem política e socialista do dia Internacional da Mulher, que foi uma proposta de Clara Zetkin (inclusive leiam sobre essa mulher comunista alemã que lutou contra o Nazismo) no II Congresso das Mulheres Socialistas em 1910 como uma data de mobilizações pelos direitos das trabalhadoras (ela não propõe uma data definida). O 8 de março se tornou o Dia Internacional da Mulher porque em 1917 houve uma greve de trabalhadoras russas que contribuiu para o início da Revolução Russa.
Feminismo não é Girl Power: Agora que você já sabe que o 8 de março é uma data socialista, também deve saber que o capitalismo é inteligente e tenta ressignificá-lo para que seja tratado apenas como camisetas empoderadoras e uma suposta irmandade entre mulheres. Pois é, as lojas e as grandes marcas não são nossas amigas, elas querem vender.
Mulheres brancas são privilegiadas: Se feminismo é luta de classe, também é preciso compreendê-lo como um movimento interseccional e que há mulheres que são privilegiadas e mulheres que sofrem uma sobreposição e intercruzamento de opressões. Não, as mulheres não são e não podem ser tratadas como um sujeito universal. É muito importante ler a contribuição que as mulheres negras tem, valorizar o feminismo negro e agir de forma antirracista – e lutar contra o racismo estrutural todos os dias.
Então como agir nesse dia?
Vamos lá!
Parabéns, não. Presentinhos, não (se for pra reforçar o estereótipo de gênero, então…). Não é uma data comemorativa. É uma data de luta.
Quer fazer algo? Leia mulheres, escute mulheres, vá na manifestação do 8 de março da sua cidade ou se prontifique a cuidar do filho para uma mulher poder ir à manifestação ou simplesmente descansar.
Não faça um textão. Abra mão do seu protagonismo pelo menos um dia!
Não romantize o sofrimento das mulheres. O codinome guerreira vem normalmente fruto de acúmulo de tarefas, de uma injusta divisão sexual do trabalho e muito cansaço. Faça com que na sua esfera privada esse cansaço diminua.
Não faça do 8 de março uma data sobre sobre as mulheres da “sua vida”. Sua mãe, sua esposa, sua filha. A data não é sobre você.
Até amanhã! Nos encontramos nas lutas!
*Camila Moreno é feminista, socialista, mestranda em Letras na UnB e da Executiva Nacional do PT
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