A bilionária e poderosa indústria anti-vacina fatura cerca de US$ 1 bilhão anualmente. Isso apenas considerando apenas a chamada “monetização” em portais como Google, Facebook, YouTube, Twitter e Instagram. A receita – a financeira – chega por meio de 425 sites, páginas e vídeos que somam cerca de 59 milhões de seguidores e apoiadores da “causa”. É o que revela uma publicação do Centro para o Combate ao Ódio Digital (CCDH, da sigla em inglês Center for Countering Digital Hate). Trata-se de uma organização sem fins lucrativos, de origem britânica, que atua contra a propagação do ódio e da desinformação na internet.
Para a CCDH, o novo coronavírus desencadeou duas pandemias paralelas. Uma biológica, a covid-19. E outra social, marcada pela desinformação, que ameaça o êxito no combate à doença e também a sociedade no mundo – acredita-se – pós-pandemia.
Nessa conjuntura francamente desfavorável à população mundial e aos governos, a indústria anti-vacina passou a investir pesado para ampliar seu mercado consumidor. Segundo a publicação do CCDH, desde 2019 as 147 principais contas do “setor” ampliaram em 10 milhões o número de seguidores. Com tamanho público garantindo o retorno, as notícias falsas sobre as vacinas contra a covid-19 podem ser multiplicadas por meio de cursos e seminários online. E com grandes índices de audiência.
‘Curas’ contra a vacina
Conforme o CCDH, 40% das páginas anti-vaxx – como é chamado o movimento contra a vacina –, está associada a “empresários” que vendem curas naturais. E outros 40% a conspiracionistas. É o caso do QAnon, grupo que acredita que pedófilos canibais governam o mundo. Nessa perspectiva, a vacina teria sido desenvolvida para matar ou para controlar as pessoas em sociedades planetárias sem liberdade.
Em outra publicação, de 2020, a entidade alertou que apenas uma em cada 20 postagens denunciadas por conteúdo falso pelos usuários são excluídas pelas plataformas das redes sociais. Isso porque as denúncias são analisadas por robôs que não foram programados para agir com o mesmo rigor científico com que foram desenvolvidos. Apesar de insuficientes, essas poucas exclusões preocupam a indústria anti-vaxx, que direciona seus tentáculos para plataformas menos populares, como Parler, Gab, BitChute.
O Brasil não está entre os centros onde essa indústria opera a todo vapor, como Estados Unidos e Reino Unido. No entanto, a detecção, por pesquisas, do alto índice de disposição da população brasileira para ser imunizada (80%, o maior do mundo) está na mira dos agentes anti-vacina, que nesse caso contam com o auxílio do presidente Jair Bolsonaro.
Aliado da ‘indústria’
Em artigo publicado na Revista Questão de Ciência, Ruth Helena Bellinghini avalia que a fala de Bolsonaro segue à risca a estratégia da indústria anti-vacina. O presidente nega a gravidade da doença ao chamá-la de “gripezinha”, diz que vacinas são perigosas – tanto que chegou a dizer absurdos como “virar jacaré”, que médicos e cientistas não são confiáveis e que o Brasil precisa parar de ser “terra de maricas”.
“Covid-19 é grave e pode matar, vacinas são seguras e eficazes e uma das maiores invenções da Humanidade e cientistas estudam para entender melhor o mundo, inclusive o mundo pandêmico. Ponto”, diz Ruth Helena em trecho do artigo.