A contagem de pessoas já infectadas pelo coronavírus na Índia superou os 25 milhões na última terça-feira (18), enquanto um ciclone violento na costa oeste do país coloca ainda mais pressão sobre o sistema de saúde nos estados de Gujarat e Maharashtra, dois dos mais atingidos pela atual onda da pandemia.
Testes de covid-19 foram realizados em cerca de 200 mil pessoas que foram forçadas a deixar as suas casas em Gujarat antes de o ciclone Tauktae chegar à região, na noite de segunda, com rajadas de vento de até 185 quilômetros por hora. E o governo faz o possível para limitar a circulação do vírus nos abrigos temporários.
“Máscaras foram fornecidas para pessoas relocadas para abrigos (…) [e] há esforços para manter o distanciamento social”, disse Sandip Sagale, uma autoridade de Ahmedabad, a principal cidade de Gujarat.
A costa ocidental da Índia é muitas vezes assolada por ciclones devastadores, mas a mudança dos padrões climáticos fez com que estes se tornassem mais intensos, em vez de mais frequentes.
Em maio de 2020, também durante a pandemia, uma centena de pessoas morreu devido ao ciclone Amphan, a tempestade mais poderosa que atingiu o leste da Índia em mais de uma década, que devastou a região e deixou milhões sem energia.
Recorde de mortes
A Índia registrou 263,5 mil novos casos de covid-19 nas últimas 24 horas, elevando o total a 25,23 milhões, e 4.329 novas mortes, um recorde para o país, onde já faleceram 278,7 mil pessoas com a doença. Especialistas afirmam que os números reais devem ser muito superiores, devido à falta de testes e à subnotificação.
Somente os Estados Unidos têm um número de infectados desde o início da pandemia ainda maior e um pior recorde de mortes diárias – em 12 de fevereiro, 5.444 pessoas morreram no país. Mas enquanto a pandemia atingiu seu pico há três meses nos Estados Unidos, ainda não se sabe quando a Índia controlará a situação. O governo local estima que 98% da sua população de 1,3 bilhão ainda está suscetível a ser infectada.
Apesar de o número de novos casos por dia estar desacelerando na Índia como um todo, há receio de que a variante B.1.617, identificada pela primeira vez no país, esteja fora de controle e do radar sanitário do governo devido à falta de testes.
O estado de Gujarat, origem do primeiro-ministro Narendra Modi, registrou um aumento de 30% nas infecções desde 2 de maio, enquanto o número de vacinas aplicadas na última semana ali foi de apenas 1,1 milhão, metade do registrado um mês antes.
Hospitais sem eletricidade
O ciclone provocou grande destruição em Gujarat, onde a vacinação teve que ser interrompida e hospitais aguardam a chegada de geradores de emergência e de fornecimento adicional de oxigênio.
Sunaina Tomar, secretária de energia em Gujarat, disse que 81 hospitais que recebem pacientes de covid-19 enfrentaram falhas no fornecimento de energia elétrica, assim como 19 usinas produtoras de oxigênio.
“A eletricidade já foi restabelecida em 29 hospitais e seis usinas de oxigênio, e estamos trabalhando em ritmo de guerra para restabelecer a eletricidade em outros lugares”, afirmou.
O secretário de saúde de Gujarat, Jayanti Ravi, disse que havia estoques suficientes de oxigênio e que equipes estavam trabalhando para garantir que as estradas permaneçam livres para o transporte de insumos médicos, apesar dos danos provocados pelo ciclone.
No estado vizinho de Maharashtra, onde fica a cidade de Mumbai, também fortemente afetado pelo ciclone, mil mortes por covid-19 foram registradas em um dia, a pior marca em todo o país, e a taxa de infecção cresceu 15% em duas semanas, segundo dados oficiais. Já o ritmo diário de vacinação em Maharashtra caiu 30% desde o no início de abril.
Ritmo de vacinação estagnado
Chandrakant Lahariya, especialista em sistemas públicos de saúde, afirmou ao jornal Hindustan Times que a política de vacinação da Índia precisa urgentemente de uma revisão.
“Por seis semanas, o ritmo de vacinação na Índia vem enfrentando dificuldades”, disse. “Os líderes políticos precisam permitir que os especialistas técnicos decidam e implementem novas estratégias.”
Maior produtor de vacinas do mundo, a Índia proibiu a exportação de doses há um mês, depois de ter doado ou vendido mais de 66 milhões de doses. Fontes governamentais afirmam ser improvável que o país retome as exportações de vacinas antes de outubro, com o objetivo de priorizar as necessidades domésticas.
A Índia é um dos países que deve se beneficiar do anúncio feito pelo presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, nesta segunda, de que sua gestão irá enviar pelo menos 20 milhões de doses de vacinas a outros países até o final de junho.