Por José Eustáquio Diniz Alves.*
A Índia caminha para ter a maior população do Planeta (ultrapassando a China até 2030) e ser a terceira maior economia do globo (atrás somente da China e dos Estados Unidos). Mas pode se atolar em uma grande crise ambiental e nos limites da disponibilidade de recursos naturais, como a degradação dos solos e a escassez de água potável.
A pegada ecológica da Índia, em 2008, era de 0,87 hectares globais (gha), bem abaixo da média mundial (2,7 gha) e cerca de 10 vezes menor do que a pegada ecológica do Catar (11,7 gha) ou do Kwait (9,7 gha). Mesmo assim a Índia tinha déficit ambiental crescente, pois de uma lado a pegada ecológica tende a crescer e a biocapacidade tende a diminuir.
Em 2008, a população da Índia era de 1,19 bilhão e a biocapacidade per capita de 0,48. Assim a Índia tinha uma biocapacidade total de 571 milhões de hectares globais (gha), mas estava usando 1,035 gha (0,87 vezes 1,19 bilhão de habitantes) de pegada ecológica total. Assim, o déficit ambiental da Índia era de 464 milhões de hectares globais, em 2008.
Para o ano de 2030, estima-se que a população indiana será de 1,48 bilhão de habitantes e a biocapacidade per capita deve cair para 0,39 gha. Estimando que a pegada ecológica per capita suba para 1,0 gha (muito baixa para os padrões internacionais) a pegada total será de 1,48 bilhão de hectares globais. Neste quadro, o déficit ambiental da Índia será de 909 milhões de gha, o terceiro maior déficit ambiental do mundo, atrás somente da China e dos Estados Unidos.
Para o ano de 2050, estima-se uma população indiana de 1,62 bilhão de habitantes. Supondo a mesma pegada ecológica per capita de 1 hectare global, o déficit ecológico da Índia, de 1,05 bilhão de hectares globais será superior ao déficit dos Estados Unidos atualmente (1 bilhão de gha). Neste nível de pegada ecológica, a população da Índia precisaria ficar em 571 milhões de habitantes para se atingir o equilíbrio ambiental.
Ou seja, para evitar a degradação da natureza não basta apenas controlar o padrão e o nível de consumo. A Índia é um país onde a maioria das pessoas possuem baixo nível de renda e de acesso a bens duráveis. Mas em decorrência de uma enorme população possui um elevado déficit ambiental.
Os resultados das eleições parlamentares na Índia de maio de 2014 deram uma vitória histórica ao partido nacionalista hindu Bharatiya Janata (BJP). O líder da sigla oposicionista, Narendra Modi, será o novo primeiro-ministro do país, encerrando a longa dominância da dinastia Gandhi no poder. Ele promete seguir a receita tradicional para vencer a pobreza na forma do crescimento econômico e no poderio político internacional da Índia. Porém, há de desvendar a fórmula para fazer isto nas condições já precárias do meio ambiente.
Evidentemente a Índia pode reduzir a concentração de renda e distribuir melhor a riqueza de seus cidadãos. Mas o consumo médio já é muito baixo e dificilmente poderia ser reduzido sem provocar uma queda ainda maior na qualidade de vida dos habitantes do país. Sem a redução da pegada ecológica, a única maneira de diminuir o déficit ambiental é através da diminuição da população.
Mas as estimativas da Divisão de População da ONU, apontam para uma população indiana de 1,64 bilhão de habitantes, em 2070, e um declínio para 1,55 bilhão em 2100. Desta forma, o déficit ambiental da Índia deverá ficar acima de 1 bilhão de hectares globais na maior parte do século XXI. O resto do mundo terá que ajudar a cobrir o déficit indiano e contribuir para alimentar a enorme população da Índia.
Contudo, a pegada ecológica do mundo já superou em 50% a biocapacidade do Planeta e a Terra tem, atualmente, um déficit de 6 bilhões de hectares globais. Como a população mundial continua crescendo e cada vez mais pessoas sonham com o “paraíso” do consumo, as perspectivas são de aumento da crise ambiental e perda de biodiversidade. Ou seja, o mundo já está em déficit e o crescimento do déficit ecológico da Índia só agrava a situação internacional. Assim, cresce a cada dia a possibilidade de um colapso ecológico do Planeta, num futuro não muito distante.
*José Eustáquio Diniz Alves, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em demografia e professor titular do mestrado e doutorado em População, Território e Estatísticas Públicas da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE; Apresenta seus pontos de vista em caráter pessoal. E-mail: [email protected]
Fonte: EcoDebate