Independentismo catalão: sim ou não?

Manifestação na praça Universidade contra a repressão da polícia espanhola no dia do plebiscito em 1 de outubro. Foto: Sandra Lázaro

Por Elissandro Santana.

Ser ou não ser a favor de movimentos separatistas quando há ventos indicativos de revolução, unidade linguística, cultural e outras questões importantes para a manutenção de uma pátria livre? Sou, e você?

Na verdade, sou a favor, inclusive, do fim das estruturas opressoras de Estado e vejo nessas cisões oportunidades ímpares para reflexões profundas em torno da desconstrução do poder governamental, ainda que, no alvoroço, a coletividade não consiga pensar essa questão a fundo. E se sou a favor do fim do Estado, imagina se não seria favorável à separação no seio de Estados.

Mas e as Constituições que proíbem separações em muitos Estados? Estamos em fronteiras líquidas, em tempos de fluidez, portanto, já não há mais espaço para os moldes geopolíticos estáticos e cristalizadores, ainda que muitos o queiram.

Ah, mas em tempos de globalização, não seria um paradoxo movimentos em torno de comunidades e nações cada vez menores, já que o local, muitas vezes, dá lugar ao global? Li e reli muitos teóricos que versam sobre Globalização, espaço, local e, mesmo com uma gama de pensadores contrários à criação de comunidades, estados e nações cada vez menores no mundo global, não vejo motivo para não acatar o desejo de comunidades que se sentem deslocadas no interior de alguns países na pós-modernidade.

Se há unidade em torno do projeto de separação arvorado em um ato libertário-revolucionário, que as cisões aconteçam, pois é bem mais profícua uma cisão estatal do que guerrilhas e terrorismos no interior das proibições das instâncias do poder governamental opressor que não permite separações, por questões mais econômicas do que culturais.

No caso da Espanha, a Catalunha possui unidade em muitos aspectos, dentre eles, o linguístico, o cultural e o econômico, mas, mesmo com tudo isso, é sempre importante indagarmo-nos se, nesse caso em especial, há um projeto revolucionário, se o desejo de um novo Estado parte das bases sociais ou do topo da pirâmide social catalã e a quem interessa a separação. Ademais, cabe-nos perguntar, ainda que estejamos distantes da realidade catalã (motivo suficiente para deslegitimar meus posicionamentos, para muitos, e que concordo, em parte!), por que o Estado espanhol é contra a saída da Catalunha.

A Espanha sabe que a Catalunha é somente um dos tentáculos separatistas e que outras comunidades autônomas já possuem esboços projetados para a saída do país. Logo após a Catalunha, com certeza, o País Basco se fortalecerá em prol da independência e esse é um dos maiores temores do nacionalismo espanhol.

No Brasil, há o movimento reacionário do Sul que, até agora, não possui unidade, já que não congrega o apoio de toda a população sulista em torno da separação do restante do país, mas no dia em que essa unidade ocorrer, se for algo revolucionário, o que não parece no momento, que a independência aconteça. Não serei eu, um indivíduo qualquer, contra o princípio da unidade em busca de uma “independência”.

Reitero, para que não restem dúvidas, se é que minha posição no facebook seja importante, que só sou a favor dos movimentos de separação quando estes obedecem ao princípio da autodeterminação dos povos com base em uma revolução de fato, pois se a cisão não representa revolução, mas somente o desejo de elites locais para a criação de novos Estados nos mesmos formatos da opressão dos Estados capitalistas atuais dos quais buscam a separação, será mais do mesmo, ou seja, novos redutos de opressão e de dominação de elites.

Se o caso da Catalunha se encaixa nisso a que conhecemos como e por revolução, que viva o Estado Catalão independente da Espanha. Mas será que este é o caso? Pois bem, mais interessante que nós pensarmos sobre estas questões, seria imprescindível e oportuno que a base social catalã refletisse a respeito desta problemática, para que, desta forma, não caia nas armadilhas da tacanhice das elites a partir da imagética reacionária do patriotismo, o último reduto dos covardes, seguindo uma linha argumentativa à maneira Umberto Eco. Ademais, mesmo acreditando na premissa bakhtiniana de que a cultura do outro se revela mais e profundamente a partir do olhar do outro, mesmo eu, como brasileiro, sendo o Outro, em casos como o da Catalunha, bem como o de outros movimentos em ação no Mundo, como o Palestino, o Basco, dentre outros, quem está no interior do caldeirão social-jurídico-econômico-histórico-cultural-estatal é que pode decidir.

Mesmo sendo contra a figura do Estado, em geral, se as respostas para os questionamentos, feitos ao longo dessa tessitura textual, indicarem a revolução com a independência da Catalunha, que viva a Autodeterminação Catalã!

Fonte: Facebook.

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