São Paulo – “Bombas ecológicas” estão sendo lançadas em Piracaia, interior de São Paulo, com objetivo reflorestar áreas atingidas por incêndios na Serra da Mantiqueira. A conhecida cadeia montanhosa, que se estende também por Minas Gerais e Rio Janeiro, corta a represa de Piracaia, onde trechos verdes são alvos de incêndios criminosos, de acordo com moradores. Como forma de frear o desmatamento na região, a Ecovila Clareando – um condomínio rural formado por defensores do manejo sustentável – vem produzindo de forma coletiva bolas de sementes de árvores nativas da Mata Atlântica, que são jogadas nas áreas degradadas.
Apelidadas de “bombas ecológicas”, as bolotas de sementes são transportadas até as regiões por caiaques e lançadas estrategicamente para que germinem. De acordo com o engenheiro agrônomo Hiroshi Seo, essa é época de semear por conta do período de chuvas, que favorece a plantação. Hiroshi Seo é um dos criadores da ação, realizada em parceria com o analista de sistemas e estudante de Engenharia da Computação, Gabriel Watanabe Mendonça, que é também proprietário da Piracaiaque – a empresa que cede os caiaques para transporte.
Reação coletiva
A jornalista Marilu Cabañas, doJornal Brasil Atual, conversou com os responsáveis pela iniciativa, que estão aproveitando do fim da seca para recuperar o território de Piracaia perdido para os incêndios e sua cobertura vegetal.
“Nós sempre tivemos ação de reflorestamento, porque infelizmente nós também sempre sofremos com o antagonismo de pessoas que queriam explorar de forma ilegal a pecurária na represa, com incêndios criminosos. E nessa relação ‘a gente vai plantar mais árvores, mesmo que vocês tentem destruir’, eu e o Hiroshi conversando, resolvemos criar essa parceria”, comenta Mendonça, o responsável pela logística das “bombas”.
“Eu que defino para onde vamos, quantas sementes e porque jogar em um determinado lugar. A estratégia é ir a locais explorados pela agropecuária, mas onde já existe um pouco de mata e árvores. Como o fogo sempre morre na beira da mata, porque ela é úmida, se nós conseguirmos restabelecer essa floresta e essa mata, a gente também vai acabar com o problema dos incêndios”, explica.
Com apoio da prefeitura de Piracaia, o projeto agora tem como meta preparar 10 mil bolotas para “bombardear” as áreas desmatadas. A grande dificuldade para alcançá-la, contudo, é falta de sementes nativas no estoque da produção, que demanda novas doações. “Estamos recebendo muitas doações de sementes, mas precisamos de muito mais. Com certeza, nossa próxima meta, muito breve, será chegar a 100 mil, e depois a um milhão de sementes”, afirma Mendonça.
Reflorestamento e humanidade
Hiroshi garante que a técnica, embora seja pouco tradicional, vem apresentando resultados promissores. Há também em Piracaia, segundo ele, uma outra área de reflorestamento, feita “como manda o manual”. “Abrimos um buraco, adubamos, compramos e plantamos a muda no espaçamento”, descreve o engenheiro agrônomo. “Mas na outra área em que só jogamos bombas de semente ela está mais fechada (nascendo mais).”
O sucesso, segundo ele, está relacionado a variedade de sementes que compõem uma “bomba”. Na prática, isso permite que, no local em que elas caírem, as mais adaptadas germinem. “A gente possibilita que a própria planta escolha o seu lugar. Não somos nós, homens, dizendo que aqui vai plantar Ingá, aqui um Pau-Jacaré. Com a bolota, elas escolhem.
Da mesma forma, Hiroshi explica o trabalho do projeto de reflorestamento. As sementes que ajudam uma área devastada, garante, “não são só para si, mas para a comunidade”, destaca. As doações de sementes nativas estão sendo realizadas na Casa da Agricultura de Piracaia. E você pode conhecer mais sobre o projeto no instagram da Piracaiaque.