Ocorre na Indonésia o maior desastre ecológico do planeta depois do derrame de petróleo da BP na costa do Golfo do México. Ao longo dos últimos dois meses, começaram milhares de incêndios florestais que estão fora de controle, cobrindo toda a região com fumaça densa e tóxica
Os fogos na Indonésia representam um perigo público e obrigaram à evacuação da população, causaram pelo menos 19 mortes. Provocaram doenças respiratórias em mais de meio milhão de pessoas. Além disso, os incêndios estão a ocorrer nas florestas de turfeira de Kalimantan e Sumatra, que são ecossistemas que albergam inúmeras espécies ameaçadas. Por isso, os fogos ameaçam várias espécies animais, que já têm as suas populações muitos reduzidas. Segundo o Instituto Meteorológico da Indonésia, a cidade de Palangkaraya tornou-se uma das mais poluídas do mundo. As populações que continuam nas zonas afetadas têm de usar máscaras e a fumaça não as deixa ver mais de 30 metros. Fumaça e poluição provocados chegaram até à Malásia, a Singapura e às Filipinas e já provocaram perturbações no tráfego aéreo.
Impacto nas alterações climáticas
Estes incêndios terão ainda uma consequência para as alterações climáticas. Normalmente, o dióxido de carbono libertado por incêndios é reabsorvido quando a vegetação volta a crescer, ou seja, têm um impacto mínimo nas alterações climáticas. Mas o caso é outro quando a área ardida é convertida em pasto, o que muitas vezes acontece na Indonésia, ou quando o fogo atinge uma área de turfa. A turfa é uma mistura que se assemelha a terra, mas que na verdade é composta por uma mistura densa de folhas e ramos em decomposição. Incêndios nas turfeiras podem espalhar-se descontroladamente, continuando a arder no subsolo durante semanas. Um incêndio numa turfeira liberta poluentes tóxicos e uma enorme quantidade de carbono e metano que foram armazenados ao longo de muitos anos. Os incêndios nestas áreas só são apagados quando começa a estação das chuvas intensas. Quando este carbono e metano são libertados para a atmosfera, provocam aquecimento climático. O impacto destes incêndios florestais no aquecimento global é tão grave, que será discutido em detalhe nos encontros preparatórios da Cimeira do Clima, que vai ocorrer em dezembro em Paris.
“Ao longo três semanas os incêndios libertaram mais gases de efeito estufa para a atmosfera do que a Alemanha num ano inteiro. Em três semanas entre setembro e outubro, produziram mais emissões do que toda a economia dos Estados Unidos”.
O investigador Guido van der Werf, da Universidade de Amsterdão, calculou que ao longo três semanas os incêndios na Indonésia libertaram mais gases de efeito estufa para a atmosfera do que a Alemanha num ano inteiro. Em três semanas entre setembro e outubro, produziram mais emissões do que toda a economia dos Estados Unidos.
Causas dos incêndios
Os incêndios na Indonésia não são novidade, há várias décadas que os agricultores na Indonésia fazem queimadas para libertarem os terrenos para pasto e para plantarem óleo de palma. As queimadas são um método 75% mais barato que os outros, e por isso continuam a ser muito utilizadas. O óleo de palma é um ingrediente importante para alimentos processados, a indústria cosmética e biodiesel. No entanto, este ano o El Niño provocou uma seca invulgarmente grave na Indonésia. Em consequência, os fogos estão a ser particularmente calamitosos. Até agora, foram detectados 120.000 incêndios ativos.
Os incêndios são uma consequência de anos de má gestão do território. Suharto, ditador que esteve no poder durante 31 anos, cedeu enormes propriedades a fábricas de papel e de óleo de palma. Hoje em dia, a gestão ruinosa dos terrenos e a ausência de ordenamento do território continua.
Os incêndios são uma consequência de anos de má gestão do território. Suharto, ditador que esteve no poder durante 31 anos, cedeu enormes propriedades a fábricas de papel e de óleo de palma. Hoje em dia, a gestão ruinosa dos terrenos e a ausência de ordenamento do território continua. Por exemplo, seria importante transformar as zonas mais ricas de turfeira nas ilhas de Sumatra e Bornéu em reservas naturais, proibindo a agricultura nessa área. No entanto, o que aconteceu foi o inverso e a Indonésia concessionou ao longo dos anos a utilização de 14 milhões de hectares de terreno de turfa para a plantação de palma. A turfa seca incendeia-se muito mais facilmente e, numa altura de secas, numa zona onde frequentemente se fazem queimadas, o resultado é que esse terreno se transformou num barril de pólvora.
O que fazer?
Na Indonésia, o interesse das grandes multinacionais de papel e de palma foram sobrepostas à sobrevivência e à dignidade das pessoas e dos ecossistemas.
Na Indonésia, o interesse das grandes multinacionais de papel e de palma foram sobrepostas à sobrevivência e à dignidade das pessoas e dos ecossistemas. A única forma de impedir o desastre é recuperando o controlo sobre o território, o que tem de ser feito cancelando as concessões nesses terrenos e tentando fazer a “rehumidificação” da turfeiras. Isto poderá ajuda-las a recuperar o seu estado natural, limitando os incêndios e voltando a sequestrar o carbono. Além disso, a indústria do óleo de palma tem de ser limitada e tornada sustentável. Nos últimos anos, os agricultores na Indonésia já desflorestaram uma área equivalente a Taiwan, causando a extinção quase certa dos tigres de Sumatra e dos orangotangos. Esta desflorestação era desnecessária quando havia terrenos já degradados onde as plantações de palma se poderiam fazer sem desflorestar novas áreas. Agora que o começo da estação das chuvas é eminente, é essencial que o problema não seja adiado até uma nova seca e que em todo o mundo se estude este caso para evitar que se repita.
Fonte: Esquerda.net