Por Carlos Weinman, para Desacato. info.
A primeira queda de Inaiê paralisou seu corpo, seus olhos se fecharam para o mundo por um determinado tempo. Somente o seu subconsciente demonstrava uma intensa atividade, estava lutando e buscando forças para mover suas pálpebras, para que seu corpo deixasse a condição de flacidez. Enquanto isso, sua mente trazia a lembrança das dificuldades apresentadas pelas pessoas receosas pelo despertar do pensamento, pelos perigos de caminhar, de projetar-se para um voo solitário. Contudo, a sua natureza a compelia a viajar, o que para ela era sinônimo de viver.
O caminhar e o ato de lançar-se sempre apresentam riscos. Não existe preparo suficiente que possa dar garantias sobre as possíveis quedas ou perigos. As dores da queda fazem parte do percurso, ampliam as experiências, fortalecem o ânimo. Em geral, o maior obstáculo do viajante é construído na interioridade do seu ser, pois muitos sentimentos tendem impedir a sua jornada. Algumas vezes, podem provocar a ruína do viajante, que tem na sua essência o princípio de lançar-se para o percurso. Nesse sentido, caso o viajante paralise, pelo medo, será como querer viver com o receio de respirar. A vida implica no ato de lançar-se sobre o risco de cair e cometer erros, o que condiz com a condição humana, pois somos todos viajantes. Quando paramos deixamos de ser. Muitos, talvez, ignoram a necessidade de lançar-se, respiram, mas possuem medo de acordar. Nesses casos, a existência e a sobrevivência é tudo, já não é importante ser ou encontrar a essência da vida ou da condição humana.
A queda de Inaiê foi turbulenta, a tempestade obscureceu seu caminho. A sua alma estava atormentada pelas incertezas da sua identidade, pois fazia parte do mundo dos estranhos. Não escolheu essa condição, sua queda foi impulsionada pelas dúvidas e pelo medo. O seu espírito precisava encontrar forças para acordar.
No subconsciente de Inaiê, uma voz a chamava para voltar, parecia ser um pedido para que não deixa-se de lutar, foi despertada por um pensamento em que o humano encontra mais forças se for capaz de projetar-se com seus semelhantes, pois são as relações que marcam a trajetória e a lucidez. Por isso, já estava na hora, de não perceber a si mesma como mais uma no meio dos estranhos, mas entender a sua condição de estranheza e ver nos seus semelhantes a sua identidade, a sua essência.
Inaiê acordou diante de um jovem, que a ajudou. Ela se levantou com dificuldades, mas não queria aceitar a ajuda do rapaz. Porém, o jovem insistiu e lhe disse que não deveria agir solitariamente, não era a única estranha no mundo. Ele era um ser com muitas diferenças e estava qualificado, pela sociedade, como um dos estranhos, mas isso, não deveria significar um caminho individual e solitário. O fato do mundo ser definido, até então, pela estranheza, não deveria significar que não pudesse ser redefinido, pelo despertar do pensamento, como o mundo em que os diferentes não fossem estranhos, mas partes de uma composição de uma grande sinfonia, com notas, tons e formas diferentes que garantem a beleza da música, com a capacidade de despertar o melhor da humanidade, pois a estranheza e as diferenças possuem um sentido estético próprio, com formas e muitas possibilidades para a criação, podendo compor as melodias que se comparam com o própria criação do divino. Diante da fala do Jovem, Inaiê ficou extasiada, não sabia o que dizer, permaneceu em silêncio. Nesse momento, o rapaz se apresentou dizendo que seu nome era Ulisses.
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Carlos Weinman é graduado em Filosofia pela Universidade do Oeste de Santa Catarina (2000) com direito ao magistério em sociologia e mestrado em Filosofia pela Universidade Federal de Santa Maria (2003), pós-graduado Lato Sensu em Gestão da Comunicação pela universidade do Oeste de Santa Catarina. Atualmente é professor da Universidade do Oeste de Santa Catarina. Tem experiência na área de Filosofia e Sociologia com ênfase em Ética, atuando principalmente nos seguintes temas: estado, política, cidadania, ética, moralidade, religião e direito, moralidade e liberdade.
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