No ano de 2004, um pequeno grupo, liderado pelo professor Nildo Domingos Ouriques, do Departamento de Economia da UFSC, com a participação da professora Beatriz Paiva, do Departamento de Serviço Social, e das jornalistas Elaine Tavares e Raquel Moysés, observou que em todo o país eram muito poucas as iniciativas de estudos sistemáticos sobre América Latina. Assim, depois de alguns encontros para discutir essa deficiência na universidade brasileira, decidiu que era preciso criar um espaço institucional para desenvolver os estudos latino-americanos no âmbito da Universidade Federal de Santa Catarina. Foi assim que em 7 de julho daquele ano, nasceu, como um modesto projeto de pesquisa, o Observatório Latino-Americano (OLA). A proposta era produzir semanalmente uma análise sobre os principais fatos que envolvessem a conjuntura da América Latina e criar uma página na Internet, que pudesse dar notícias sobre um espaço geográfico até então, bem distante das preocupações dos brasileiros.
Com esse propósito, o OLA se constituiu em um grupo de pesquisa formal que, com o seu trabalho de investigação, passou a alimentar um portal na rede mundial de computadores. Esse portal passou a ser responsável pela divulgação da produção gerada pelos seus integrantes e teve como princípio básico que todo o trabalho deveria ser criado a partir de uma perspectiva crítica, não eurocêntrica.
Em poucos meses, o OLA logrou ser, então, um espaço coletivo e interdisciplinar de desenvolvimento intelectual na medida em que passaram a integrá-lo estudantes e outros projetos, especialmente de professores que antes atuavam de forma isolada e com objetos de pesquisa pontuais dentro dos estudos latino-americanos na UFSC.
Até aqueles dias a tradição intelectual brasileira se caracterizava por certo distanciamento das influências latino-americanas e a impressão que se tinha era de que o Brasil estava de costas para a América Latina, particularmente no que se referia à criação do conhecimento científico e à adoção de políticas comuns, necessárias à integração entre os países e povos latino-americanos. Mesmo com o interesse do Brasil pelos assuntos da região, especialmente importante quando diz respeito aos temas que envolvem o Mercosul, a verdade é que ainda estava longe de se ver consolidado nas universidades brasileiras um trabalho de reflexão permanente sobre a realidade deste continente e sobre o papel da universidade nessa construção.
Depois, com as novas conformações dos estados latino-americanos, novos governos e renascimento dos movimentos autóctones, pode-se detectar um despertar da América Latina em termos de mobilização política e luta social, que tornou quase obrigatória a elaboração de um conhecimento próprio para os problemas particulares de nossa região. E nesse caminho já andávamos. O Brasil e a América Latina exigiam a criação de um pensamento crítico e original, capaz de apresentar soluções aos grandes problemas econômicos, políticos, culturais e sociais de nosso continente.
Assim, foi nessa conjuntura que o OLA foi crescendo e se consolidando dentro e fora da UFSC, articulando novos pesquisadores, abrindo caminho num terreno até então completamente inexplorado. O trabalho encontrou espaço fértil para fora dos muros da universidade e em menos de dois anos o Observatório já não dava conta de todas as demandas que se apresentavam.
Por isso, grupos de pesquisadores da UFSC, que já desenvolviam esforços na área de estudos latino-americanos, e outros que se interessaram por este campo de estudo, consideraram que era o momento de propor sua reestruturação, criando o Instituto de Estudos Latino-Americanos – IELA . Na proposta, o fundamento básico foi a necessidade de manter certa unidade temática, sempre com respeito ao pluralismo teórico-metodológico, condição indispensável para o bom desenvolvimento dos trabalhos e para o crescimento institucional da UFSC.
Assim, dois anos depois do nascimento do OLA, com a ideia acolhida pelo reitor Lúcio Botelho, o IELA foi criado por meio da Portaria nº. 488, de 19 de julho de 2006, juntamente com a Portaria de nº. 489 (GR/19/07/2006), que designou o Professor Nildo Domingos Ouriques como seu primeiro presidente.
Hoje, passados oito anos da ousada criação do OLA, o Instituto que dessa proposta surgiu, está consolidado como um centro de pesquisa e estudo dos temas latino-americanos, referência no Brasil e fora dele, coordenando inclusive a Rede Brasileira de Estudos Latino-Americanos. Recuperamos assim a memória dessa caminhada, iniciada no 7 de julho de 2004, com a certeza do fortalecimento do pensamento crítico e próprio, razão principal da existência de uma universidade soberana e capaz de dar respostas ao seu tempo.
Parabéns a todos os que ao longo desses oito anos vêm construindo o Iela.
Foto: Primeira edição das Jornadas Bolivarianas – dezembro de 2004