Por Lígia Apel, Assessoria de Comunicação do CIMI, Regional Norte I.
A Hutukara Associação Yanomami recebeu, no dia 19 de setembro, através do seu Sistema de Alertas ‘Wãnori’, uma denúncia de violência extrema contra crianças e adolescentes Yanomami por parte de garimpeiros que ainda estão instalados ilegalmente no território Yanomami.
De acordo com o Alerta de Invasão de Garimpo e Ameaça, a Associação recebeu dois vídeos que mostram as crianças amarradas em estacas no barracão de garimpeiros. Os criminosos acusam as crianças de terem roubado celulares e, como represália, amarraram e ameaçaram as crianças com mokaua (armas).
Em julho, seis meses depois do decreto de Crise Sanitária e Humanitária, da instalação da Emergência em Saúde Pública de Importância Nacional (Espin) e do envio das forças de segurança para desintrusão do garimpo em território Yanomami, as Associações Hutukara, Wanasseduume Ye’kwana e Urihi emitiram o relatório ““Yamaki ni ohotahi Xoa – ‘Nós ainda estamos sofrendo’: um balanço dos primeiros meses da emergência Yanomami”, descrevendo os resultados assertivos, mas, principalmente, apontando as falhas do Plano de Ação. NO documento, revelam “a ausência de uma coordenação do governo federal e problemas nas áreas de saúde, proteção territorial, desintrusão e segurança alimentar”.
A violência sofrida pelas crianças Yanomami, a denúncia e o apelo da Hutukara mostram que a conclusão do relatório tem pertinência. “Embora as ações de Proteção Territorial iniciadas em fevereiro de 2023, baseadas sobretudo na estratégia de “estrangulamento logístico”, tenham produzido importantes avanços no combate ao garimpo ilegal na Terra Indígena Yanomami, alguns pontos como a flexibilização do controle aéreo por dois meses, a limitação dos esforços de controle territorial a somente duas bases de proteção e a participação limitada das forças armadas, não possibilitaram o real controle da atividade, que ainda persiste em alguns núcleos de resistência na Terra Indígena Yanomami”, conclui o relatório.
O alerta foi encaminhado a vários órgãos federais – de proteção indígena, de segurança e ambientais por meio de vídeos, que foram enviados “por WhatsApp de um Yanomami da região do Papiu, onde há acesso à internet. Segundo o informante, o vídeo foi gravado por outros Yanomami, na proximidade da pista da Bateia, na macro região de Surucucus, e envolve Yanomami da região do Hakoma”, diz outro trecho do documento.
Em decorrência de mais essa atrocidade contra o povo Yanomami que chega aos olhos do mundo, a Hutukara espera dos órgãos oficiados que “articulem-se para a investigação dos fatos [ocorridos às crianças] e realizem operações de resposta rápida e proteção territorial na Terra Indígena Yanomami, em especial na região do Hakoma; e que seja a Associação comunicada sobre as providências tomadas pelos órgãos oficiados, dentro de 30 dias, independentemente da resolução da demanda, para que a Central de Comunicação do Demini possa transmitir uma devolutiva às comunidades”.
“A Hutukara espera dos órgãos oficiados que “articulem-se para a investigação dos fatos e realizem operações de resposta rápida e proteção territorial na Terra Indígena Yanomami”
O Sistema de Alerta “Wãnori” é uma ferramenta qualificada de vigilância com capacidade de comunicação rápida e eficiente entre as comunidades e organizações Yanomami. Através dele, é possível identificar rapidamente e com confiabilidade as situações de vulnerabilidade que persistem no território pela presença dos garimpeiros. O Painel de Vulnerabilidade do Sistema de Alerta está disponibilizado para os órgãos de governo.
O alerta diz, ainda, que a as dificuldades de comunicação na região não permitiram o conhecimento do desfecho da situação. “Como se trata de uma região com dificuldade de comunicação, não foi possível averiguar qual foi o desfecho da situação, tampouco reunir mais detalhes de data e localização. No entanto, a gravidade do incidente exige uma resposta rápida por parte das forças de segurança”, adverte o documento, colocando em evidência a urgência de resolução, pois as crianças correm risco de morte.
O Alerta de Invasão de Garimpo e Ameaça que esclarece os fatos da violência cometido contra as crianças foi encaminhado para a Secretaria de Direitos Ambientais e Territoriais Indígenas (MPI), Frente de Proteção Etnoambiental Yanomami e Ye’kwana da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), Superintendência da Polícia Federal em Roraima (PF/RR), Superintendência do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) em Roraima e para a 1ª Brigada de Infantaria de Selva – Exército Brasileiro e 7º Ofício do Ministério Público Federal em Roraima (MPF/RR).
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