Por Eduardo Nabal.
Quando algúem ouve que determinado produto (neste caso cultural) incita as crianças a serem gays, lhe vem à cabeça um sorriso amargo pela quantidade de poderosos e invisibilizados dispositivos que seguem incitando as crianças a abraçarem a heterossexualidade obrigatória em todos os âmbitos.
De fato, a Ópera Budapeste suspendeu as apresentações de “Billy Eliot” após a publicação do jornal ’Magyar Idök’ contra o musical.
A história de Billy Eliot é a história de um adolescente heterossexual que por sua afeição ao ballet deve se enfrentar com os preconceitos retrógrados que nos rodeiam. Apesar do provincianismo mental que flutua ao seu redor, seu impulso e apoio dos demais farão com que Billy Eliot se torne um grande bailarino.
A história toca de relance a vivência da homofobia e o machismo quando determinadas atividades ou profissões são consideradas próprias de um sexo ou outro.Tudo acompanhado de números de dança em que vemos o espetacular progresso do jovem protagonista.
As autoridades ou quem seja que tenha chegado à feroz posição de censura nos faz temer o avanço da extrema direita e suas manifestações sociopatológicas por parte de governos de alguns países do norte da Europa, nesta caso a Hungria. Uma sombra de racismo, sexismo e homofobia que perecorre a Europa dos poderosos e que se extende até a homofóbica Russia de Putin com suas ridículas leis contra a propaganda homossexual e sua polícia do ódio que converteu a zona em um lugar nada seguro para os LGBTs, tomados pelo silêncio, medo e invisibilidade.
A desculpa da infância tem servido há tempos como saída para a homfobia institucional e para a violência real ou simbólica. Não deve ficar rastro de nostalgia no momento de condenar a homofobia na Russia, os assassinatos seletivos, a ditadura silenciosa, porque isso é servir de bandeja o poder coercitivo à países de extrema direita.
Durante muito tempo o movimento LGBT tomou para si a frase de Emma Goldman “Se não posso dançar, esta não é minha revolução” para chamar atenção de um setor da esquerda cega aos males do fetichismo revolucionário construído como impermeável e masculino.
Tudo isso vai mudando e as lutas vão para a mão de uma forma interseccional como tem mostrado filmes como “Pride” de Andrew Marcus sobre a união dos mineiros e dos ativistas LGBT contra o thatcherismo e suas misérias.