A organização Human Rights Watch (HRW) divulgou nesta terça-feira (27/04) um relatório em que denuncia o governo de Israel de cometer um “apartheid” contra a população palestina.
Um “apartheid” é definido como um sistema no qual são cometidos “atos desumanos com o propósito de estabelecer e manter o domínio de um grupo racial sobre outro”. Segundo o diretor-executivo da HRW, Kenneth Roth, a hipótese de um apartheid contra palestinos permaneceu “à espreita” durante anos, mas agora as autoridades israelenses “cruzaram uma barreira”.
Segundo a HRW, o governo israelense adota a política de “manter a dominação sobre os palestinos” por meio de “graves abusos contra aqueles que vivem nos territórios ocupados, incluindo Jerusalém Oriental”.
O termo remete ao regime de segregação racial contra negros que vigorou na África do Sul até o início da década de 1990, mas a organização defende que se baseia na definição legal de “apartheid” e não uma relação com o período sul-africano. O relatório tem 213 páginas, com o título Um limite ultrapassado: as autoridades israelenses e os crimes de apartheid e perseguição.
De acordo com o relatório, Israel tem “controle primário sobre uma área que vai do Rio Jordão ao Mar Mediterrâneo, povoada por dois grupos de dimensões mais ou menos iguais, privilegiando metodologicamente os judeus israelenses enquanto oprime os palestinos, e de modo mais severo nos territórios ocupados”.
A ONG cita como exemplos de abusos contra palestinos ações como restrição a deslocamentos, confisco de terras, transferência forçada de pessoas, negação de direitos de residência e suspensão de direitos civis.
O primeiro-ministro da Autoridade Nacional Palestina (ANP), Mohammad Shtayyeh, disse que o relatório da Human Rights Watch define de forma precisa as “políticas e atrocidades israelenses, usando as definições corretas para crimes e criminosos”.
Já o Ministério das Relações Exteriores de Israel chamou o relatório de “panfleto de propaganda” e acusou a HRW de promover há anos uma “agenda anti-israelense”. “O relatório faz parte da constante campanha da organização e não tem relação com fatos ou com a realidade. Os dados fictícios do relatório são absurdos e falsos”, disse a pasta.
Além disso, o governo de Israel acrescentou que a entidade humanitária está ativamente empenhada em promover um “boicote” contra o país. Israel ocupou a Cisjordânia e Jerusalém Oriental em 1967, ações condenadas pela maior parte da comunidade internacional.
Desde então, o país vem expandindo a quantidade de assentamentos judaicos nessas áreas. Recentemente, o Tribunal Penal Internacional de Haia (TPI), que não é reconhecido por Israel, abriu uma investigação formal sobre eventuais crimes de guerra ocorridos na Palestina a partir do conflito de 2014 na Faixa de Gaza.
Segundo a procuradora-geral do TPI, Fatou Bensouda, há “uma base razoável” para acreditar que foram cometidos crimes por parte das forças de Israel, do grupo Hamas e de outras facções armadas palestinas durante os combates.
(*) Com Ansa.