Por Raul Fitipaldi com informações de Rony Martínez desde Tegucigalpa.
O prefeito de Ahuás, no departamento de Gracias a Dios, informou que ao menos dois helicópteros do exército hondurenho tripulados por agentes da DEA, dispararam contra uma lancha tripulada por indígenas agricultores. Seis pessoas teriam falecido, duas mulheres grávidas e uma criança dentre elas. Esta agressão aconteceu em 11 de maio deste ano durante a madrugada. Aparentemente se desenvolvia uma operação antidrogas na região.
Depois disso foi ao local uma comissão com representantes de organizações de Direitos Humanos dos Estados Unidos que colheu testemunhos de familiares das vítimas e constou que, de fato, os que atacaram a embarcação de civis indefesos foram membros da DEA – Drug Enforcement Agency.
Com naturalidade, o Departamento de Estado declarou que sim, que a tripulação dos helicópteros tinha membros da DEA, mas, que eles não dispararam contra a lancha. No entanto, a embaixadora dos Estados Unidos em Honduras, Lisa Kubisky, disse que sim, que eles dispararam, mas… para se defender. Em lugar do Presidente Profirio Lobo Sosa, é Kubisky quem informa que o governo do herdeiro da ditadura, que tem como plataforma de governo o discurso do “humanismo cristão”, está tomando medidas.
Seguindo com a tática discursiva colombiana, o governo de Lobo afirmou que essa região está tomada pelo narcotráfico e que os moradores defendem os narcotraficantes. Como narrou na Colômbia o jornalista retido pelas FARC, Romeo Langlois, é um fato que pessoas e famílias miserabilizadas pelo sistema de exploração medieval e genocida das transnacionais norte-americanas, precisam da produção de droga para sobreviver. Os Estados Unidos usam Honduras, como têm feito com vários países da região, como um galpão de produção escrava nas plantações de banana, cana e palma de azeite. Os miseráveis muitas vezes dependem dos narcotraficantes e se tornam reféns de governo e paramilitares, de corruptos e de assassinos.
Só na região onde aconteceu este assassinato da DEA, conhecida como a Moskitia, tem pelo menos três bases militares imperialistas. O império, depois das mudanças políticas acontecidas na América Latina desde 1999, que fazem com que a influência imperialista tenha diminuído ao seu mais baixo nível na região, tem usado Honduras como um laboratório de práticas militares e experimentos políticos e uma ponte entre Colômbia e América Central. Com essa percepção da conjuntura regional impetraram o último golpe de Estado ao sul do Rio Bravo e o primeiro deste milênio na Pátria de Francisco Morazán.
A delegação de Direitos Humanos dos Estados Unidos que visitou a Moskitia, no departamento de Gracias a Dios, publicou um informe de para a imprensa documentando a participação dos Estados Unidos no massacre da população Miskita. A seguir o informe:
Tegucigalpa, 27 de Maio de 2012
Contatos para mais informação: Karen Spring, 9507 – 3835 em Honduras
Annie Bierd, Contato: 202-680-3002 em Washington, D.C.
Em 22 e 23 de maio, uma delegação de ativistas de direitos humanos dos Estados Unidos organizada por Rights Action e Alliance for Global Justice visitou a comunidade de Ahuás na região da Moskitia em Honduras. A delegação presenciou uma atmosfera de terror sendo gerada no meio da pobreza extrema da zona onde a população indígena agora está perdendo o controle dos recursos naturais que são chave para o desenvolvimento da sua economia.
O grupo investigou sobre o massacre de 11 de maio de 2012 de moradores indígenas miskitos num tiroteio por parte de helicópteros registrados no Departamento de Estado dos Estados Unidos que o governo estadunidense confirma transportavam agentes da DEA e contratantes de empresas de segurança. A lancha e seus passageiros quase tinham completado a viagem de oito horas até Ahuás desde o povo de Barra Patuca. Quatro foram assassinados, incluindo duas mulheres grávidas, uma criança de 14 anos e um homem de 21 anos, e outros quatros foram feridos gravemente.
Depois do massacre pelo menos um helicóptero aterrissou e pelo menos dez homens anglo-falantes, altos e de pele clara e pouca habilidade para falar espanhol, vestindo uniformes militares saíram dos helicópteros para recolher cocaína de um barco próximo ao sítio do massacre. Apontaram suas armas, ameaçaram com matar e algemaram residentes da aldeia quem chegaram para socorrer os feridos. As vítimas permaneceram nas margens do rio e na lancha estragada até que os helicópteros foram embora. Desta forma as forças de segurança retrasaram a assistência médica de emergência por duas ou três horas.
Nem as autoridades dos Estados Unidos nem de Honduras têm entrevistado às testemunhas oculares ou reunidos evidências no local do crime, indicando que não levaram a cabo nenhuma investigação séria depois do massacre. Ainda sem conduzir uma investigação formal os oficiais dos Estados Unidos e Honduras, acusaram as vítimas, à população em geral e as autoridades locais de participar no tráfico de drogas.
Desde o massacre Ahuás tem sido ocupada por várias dúzias de tropas hondurenhas e se reporta que a presença militar estadunidenses nas proximidades de Ahuás está aumentando. As autoridades do governos dos Estados Unidos reconhecem que se estão utilizando táticas de contrainsurgência à na medida que identificam às comunidades indígenas como narcotraficantes. As comunidades indígenas na América Central voltam a ser converter em foco de ações contrainsurgentes dos Estados Unidos.
Muitas pessoas com as que o grupo falou indicaram que a militarização e violência criada por causa da guerra contra as drogas dos Estados Unidos estão focadas onde se localizam valiosos recursos naturais. Sabe-se que em Ahuás há importantes depósitos de petróleo e a companhia texana Texas Oil and Gas Company, uma empresa conjunta com concessões na Moskitia estima que tem de seis a oito milhões de barris em reservas de petróleo na Moskitia.
A delegação exige uma investigação formal e fidedigna incluindo uma audiência do Congresso que identifique a responsabilidade criminal no massacre, o retiro das forças de seguridade dos Estados Unidos de Honduras e a suspensão da assistência militar dos Estados Unidos na América Central.
Imagem tomada de: hondurashumanrights.wordpress.com (Visita da Comissão de Direitos Humanos)