‘Homofobia é construída no cotidiano, desde a infância’, afirma psicóloga

Para desconstruir o preconceito, que é aprendido na infância, é essencial debater as questões de gênero nas escolas, diz Grazielle Tagliamento, integrante da Comissão de Direitos Humanos do Conselho Federal de Psicologia.

O Brasil lidera o ranking mundial de assassinatos de pessoas homossexuais. Só em 2015 foram registradas 318 mortes de gays, travestis, lésbicas, bissexuais e transexuais, segundo o Grupo Gay da Bahia (GGB). O principal motivo para os crimes é o ódio ao que parece diferente de si, afirma a psicóloga Grazielle Tagliamento, integrante da Comissão de Direitos Humanos do Conselho Federal de Psicologia.

“Justamente por conta dessa padronização da heterossexualidade na sociedade, que é uma construção social, os espaços jurídicos, políticos e religiosos colocam como anormal o desvio desse padrão. A partir do momento que eu considero todas as orientações sexuais parte do padrão, que espaço sobra para o campo de poder? Já que a heterossexualidade faz parte de um campo de poder na sociedade, perdê-lo acaba incomodando as pessoas e traz reações. Dependendo dos discursos na sociedade, isso acaba impulsionando as pessoas a eliminarem esse diferente”, conta a psicóloga em entrevista à repórter Camila Salmazio, para a Rádio Brasil Atual.

Grazielle enfatiza que a construção do preconceito se inicia na infância. A psicóloga destaca a importância de debater as questões de gênero nas escolas. “Da mesma forma que vamos aprendendo a odiar esse diferente [de nós mesmos], nós temos cada vez mais de trabalhar dentro da educação familiar e escolar a desconstrução dessa versão. Nós não aprendemos a nos aproximar do diferente, mas, sim, a sermos aversivos. Temos que discutir isso nas escolas, mas há uma reação contrária para que não haja essa discussão, alimentando mais essas situações de intolerância.”

Leonardo Favre, relações públicas da Editora Boitempo e pesquisador literário, assumiu a homossexualidade ainda na infância. Para ele, a homofobia está implícita em pequenas ações do dia a dia. “A questão voltada aos LGBTs é recordada quando uma pessoa é agredida. Isso é a radicalização de tudo. Mas, se não conseguirmos discutir as outras violências que estão montadas nesse cenário, não vai mudar nada. Isso é a mesma chave da violência contra a mulher, que é radicalizada no estupro, ou no racismo, radicalizado em uma injúria. O cenário que monta essas desigualdades é a maior violência, porque ele permite que as pessoas cometam essas atrocidades diariamente e não enxerguem isso.”

A violência contra a comunidade LGBT se dá também pela falta de representatividade nos espaços de poder, nos veículos de comunicação e na indústria cultural, segundo Leonardo. “A própria indústria cultural colabora muito com isso. Nas novelas e nos programas humorísticos, o espaço concedido ao homossexual é o do humor. A ausência dessas pessoas em literatura ou outros ambientes é uma violência. A ausência é uma violência. Não se cria repertório e quando não se tem isso, não tem uma normalidade.”

Publicado originalmente no site da Rede Brasil Atual.

Foto: Reprodução/Opera Mundi

Fonte: Opera Mundi

 

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