Homeopatia: O artigo polêmico de Natalia Pasternak e a versão de profissionais adeptos

Prática antiga foi alvo de duras críticas da famosa cientista e despertou uma discussão quanto à sua eficácia. Veja o que dizem os homeopatas em defesa dessas substâncias

Foto: Twitter

Por Lucas Vasques.

A renomada microbiologista Natalia Pasternak, presidente do Instituto Questão de Ciência e pesquisadora da Universidade de São Paulo (USP), causou polêmica. Artigo assinado por ela e publicado em O Globo, nesta segunda-feira (18), traz o título: “Homeopatia é feita de nada!”.

Ela ganhou notoriedade e fama pela luta contra o negacionismo na pandemia da Covid-19.

Entre outras afirmações, ela defende que a homeopatia, terapia tão antiga quanto contestada, é apenas “água ou açúcar, que parece funcionar, porque muitas doenças são cíclicas, têm picos de sintomas e depois voltam naturalmente ao padrão, ou se resolvem sozinhas com o tempo”.

Além disso, ela diz que “falta informação nos consultórios homeopáticos. Apela-se a outras dimensões, energias quânticas ou espirituais, para tentar escapar do fato que a homeopatia foi testada pela ciência e falhou”.

Como era de se esperar, houve reações. “Desqualificar é uma prática de quem tem uma posição formada e não quer fazer uma discussão séria. Pessoas de prestígio tendem a usar seu poder de forma contundente. Os adeptos da ciência hegemônica são dogmáticos, às vezes”, rebate Paulo Angelo Lorandi, farmacêutico, homeopata, professor doutor da Universidade Católica de Santos (UniSantos) e membro do CRF-SP.

Lorandi aponta uma diferença básica entre as concepções homeopáticas e alopáticas. “Na lógica de raciocínio dela, ela tem razão. Quando digo em lógica, digo uma ciência pautada por respostas quantitativas, generalizantes e que seguem uma lei que foi determinada pela ciência. A homeopatia segue uma outra lógica, que busca sua resposta no particular e no qualitativo”.

O homeopata destaca que é preciso ter claro que fazer ciência no Brasil custa muito dinheiro. “Nos dias de hoje, boa parte dessa ciência é patrocinada pelo mercado farmacêutico, ávido por lucro. O lucro, nos dias de hoje, vem da economia de escala e, portanto, de práticas generalizantes, em nível mundial”.

Falta de verba e de interesse em financiamento afeta avanço da homeopatia

O especialista levanta um tema que afeta o avanço da homeopatia: falta de verba e de interesse de financiamento.

Apesar disso, segundo Lorandi, os pesquisadores homeopáticos estão em busca de três grandes respostas: “Como um medicamento diluído pode manter a informação terapêutica? Como o organismo pode ‘ler’ essa informação? Como o organismo reage a ela?”.

Ele explica: “Para a primeira pergunta, há pesquisas que têm demonstrado que, apesar de bastante diluído, o medicamento homeopático gera nanopartículas, o que poderia explicar seu efeito. Para a segunda pergunta, há estudos realizados em células que demonstram alteração de atividade metabólica. Inclusive, esses estudos estão sendo realizados por grupos de cientistas não homeopáticos. A terceira pergunta é a mais difícil de responder, porém há estudos praticados por homeopatas veterinários que aplicam a homeopatia em animais de rebanho, garantindo sucesso. Os estudos em humanos se restringem a relatos de caso, tipo de pesquisa que o pensamento científico dominante reputa pouco valor”, avalia.

“Ela foi muito deselegante, grotesca, no discurso dela”, aponta especialista

 O farmacêutico homeopata Ricardo Murça critica a maneira pela qual a cientista se dirigiu à homeopatia.

“O ceticismo dela é muito grande. O perfil dela é esse. Até ganhou prêmio por essa questão cética. Isso não é errado. O que eu acho é que ela foi muito deselegante, grotesca, no discurso dela. Acho que tem que ser contestado mesmo por gente técnica e que observa no dia a dia”, avalia.

Murça fala com tranquilidade que a terapia em questão não tem comprovação científica. “Mas muita coisa, um século atrás, não tinha comprovação científica, mas foi comprovada ao longo dos anos. Nem por isso deixou de ser utilizada”.

“Você observa dentro das farmácias pessoas que não obtêm resultados médicos favoráveis e que procuram homeopatia como alternativa, obtêm resultados e acabam aderindo. Porém, isso acontece sabendo que, em determinado momento, dependendo da gravidade da patologia, o médico vai fazer uma intervenção alopática, quando isso for necessário”, completa.

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