Uma controversa homenagem a Augusto Pinochet realizada neste domingo (10) em Santiago culminou em violentos confrontos entre simpatizantes do ditador, que governou o Chile com mão de ferro entre 1973 e 1990, e militantes de direitos humanos. Dezenas de pessoas ficaram feridas após a ação da polícia.
As hostilidades começaram logo cedo, bem antes da homenagem, quando militantes de esquerda ocuparam a rua do no Teatro Caupolicán, um dos mais emblemáticos da capital chilena, gritando palavras de ordem contra o ditador e colando, nas ruas e nos postes, panfletos condenando o evento.
Organizado pela Agrupação 11 de Setembro, a cerimônia marcou a estreia do documentário “Pinochet – A Verdade Histórica” e também o anúncio do ressurgimento do partido Avançada Nacional, no qual militava o homenageado e que estava desativado desde 1991.
A polícia rapidamente evacuou o local e manteve massiva presença nos arredores do teatro. “Por volta das 3h, quando já não se escutava mais gritos, começou o barulho das patrulhas que passavam a cada cinco minutos mais ou menos”, contou Fernanda Cifuentes, vendedora que também reclamou que o forte esquema policial atrapalhava sua ida ao trabalho: “tive que passar por três barreiras policiais para chegar até o ponto onde eu pego o meu ônibus, provavelmente chegarei atrasada no serviço”.
Às 9h (horário de Santiago, 11h de Brasília), os primeiros grupos de simpatizantes de Pinochet já se aproximavam do Teatro Caupolicán. Eram cerca de 200 pessoas, que carregavam cartazes com a foto de Pinochet e gritavam frases como “viva Pinochet, o verdadeiro libertador do Chile” e “comunistas maricas, seus parentes foram mortos por serem idiotas”.
Entre as apoiadoras do ato estava Mirtha Raymond, que defendeu o legado do ditador. “Foi o presidente que mais fez coisas boas por este país, tudo o que vocês estão vendo de bom no país hoje agradeçam ao general Pinochet”. Quando perguntada sobre o que achava das violações aos direitos humanos, Mirtha disparou: “O governo de Pinochet nunca fez nada contra pessoas de bem, os que sofreram as consequências de seus erros tiveram seu merecido”.
Contra-homenagem
A quatro quarteirões dali, os manifestantes pelos direitos humanos já formavam uma pequena multidão de aproximadamente 5.000 pessoas. Pequenos grupos se dirigiam a esquinas mais afastadas, buscando encontrar os atalhos por onde os grupos de pinochetistas chegavam.
Os partidários do ex-ditador mostravam retratos de Pinochet e eram hostilizados com gritos, ovos e bexigas com tinta. Um professor, identificado pela Associação de Professores como Tito Quinteros, que trocou empurrões com um pinochetista foi cercado por três policias e sofreu dois golpes na cabeça, que o levaram a perder a consciência. Minutos depois, ainda desmaiado, o professor foi levado a um centro médico em uma ambulância.
Entre os que protestavam contra a homenagem a Pinochet, estavam muitos parentes e amigos de pessoas desaparecidas durante o regime, que traziam as fotos das vítimas e cartazes contra o ex-ditador ou alusivas ao ex-presidente Salvador Allende, morto no golpe de estado que deu início à ditadura. Não faltaram também os cânticos que diziam “pinochetistas hão de esperar, como aos nazis, a história vai lhes condenar” e o tradicional “quem não pula é Pinochet”, gritado entre saltos dos manifestantes.
“Este governo é responsável por isso que vemos hoje. Dizem resguardar o direito de livre manifestação dos pinochetistas, mas para isso está impedindo o mesmo direito dos defensores dos direitos humanos, usando os mesmos abusos repressores da ditadura. Estão protegendo uma apologia à tortura e aos assassinatos políticos com o dinheiro de todos os chilenos”, disse Lorenza Pizarro, porta-voz da Agrupação dos Familiares de Detidos Desaparecidos, enquanto chegavam os primeiros carros de dispersão da polícia (lançadores de água e de gás lacrimogênio).
Governo lava as mãos
Apesar de o próprio presidente Sebastián Piñera ter evitado se pronunciar sobre o evento, o porta-voz do governo, Andrés Chadwick, que foi funcionário do Ministério do Interior durante a ditadura, disse que o governo não respalda a homenagem ao ex-ditador, mas respeita o direito de livre manifestação dos organizadores. Em entrevista para o canal estatal TVN, Chadwick confessou estar arrependido de ter feito parte de um governo que violou os direitos humanos, e sobre o ato deste domingo, disse que “são manifestações que não deveriam acontecer, nem por um lado nem por outro, pois voltam a abrir velhas feridas, mas são legítimas e nós temos que saber respeitar a liberdade de expressão de todos”.
Já o prefeito de Santiago, Pablo Zalaquett afirmou ter sido um “erro” autorizar a homenagem. “Todos sabíamos o que ia acontecer”, disse.
A homenagem ao ex-ditador Augusto Pinochet durou cerca de quatro horas, (entre as 11h30 e as 15h30, hora local) e terminou com mais incidentes entre partidários e opositores da ditadura. O ato contou com a presença de figuras internacionais como o Miguel Pinar (neto de Blas Piñar, que foi conselheiro da ditadura de Franco, na Espanha, e veio junto, ao advogado Jaime Alonso, em representação da Fundação Francisco Franco), e membros da Liga Anticastrista de Miami, que entregou aos realizadores do documentário sobre Pinochet o prêmio Hispania de Ouro, do Festival Internacional do Grande Cinema Hispanoamericano, realizado no último mês de março.
do Opera Mundi
Foto: Diario El Carabobeño via Twitter
Cu8ánta sinrazón. Homenagear a Pinochet. El homenaje debiera ser por el hecho de que ya no exista entre los habitantes de este planeta.No puedo entender lo de rendirle honras, no puedo aún esforzándome.