Quilombo de Manoel Congo
A prisão de Manoel Congo, seu enforcamento e a destruição de seu quilombo nos contrafortes da Serra do Mar foram planejados como uma ação exemplar de ameaça a toda organização popular. O Quilombo de Manoel Congo foi mais um dos episódios da luta dos africanos contra a escravidão que se notabilizaram pela preocupação suscitada nos escravistas.
Por Tales dos Santos Pinto.*
Durante a década de 1830, a economia cafeeira começou a despontar no Brasil Império, principalmente na região fluminense do Vale do rio Paraíba. A afluência de escravos para as fazendas da região aumentou, sendo ainda intensificada a exploração do trabalho. No contexto de início da produção cafeeira, estourou mais uma revolta de escravos, que se consubstanciou na tentativa de formação do que ficou conhecido como Quilombo de Manoel Congo.
É indicado como uma tentativa em decorrência da efemeridade do Quilombo de Manoel Congo, situado no município de Vassouras no Rio de Janeiro. Porém, o medo suscitado nos latifundiários da região manteve viva a memória dessa luta dos escravos, conhecida também como Revolta de Paty dos Alferes.
A revolta ocorreu em novembro de 1838 entre os escravos do capitão-mor Manuel Francisco Xavier, que detinha algumas fazendas na região. O motivo do levante contra o fazendeiro teria tido origem após a morte do escravo Camilo Sapateiro pelo capataz de uma de suas fazendas. Indignados com o assassinato do companheiro de cativeiro, os escravos liderados pelo também escravo e ferreiro Manoel Congoresolveram protestar junto ao latifundiário, que prometeu tomar providências. Porém, essas providências nunca foram colocadas em prática.
O não cumprimento da promessa deixou ainda mais indignados os escravos. O assassinato de Camilo era um excesso brutal dos hábitos disciplinares de trabalho na fazenda. Como o senhor não tomou providências, os escravos mataram o capataz. Após essa ação, os escravos fugiram. A fuga em massa de cerca de 200 escravos ocorreu em duas fazendas do capitão-mor, entre os dias 06 e 10 de novembro de 1838.
Nas matas da região, liderados por Manoel Congo, os escravos iniciaram a constituição de um quilombo. Com as ferramentas e armas saqueadas das fazendas de Manuel Francisco Xavier, os escravos africanos e nascidos no Brasil pretendiam iniciar as lavouras para sua subsistência e garantir sua defesa.
O cordelista Medeiros Braga, em trecho de seu cordel O Quilombo Manoel Congo, a saga de um guerreiro, representou da seguinte forma a ação:
Manoel Congo com cuidado
Muitos escravos juntou,
Recolhidas várias armas
Mantimento e cobertor,
Passaram, seguindo a trilha,
Na Fazenda Maravilha
E já outros libertou.
Entretanto, a experiência não duraria muito tempo. Preocupados com essa ação em massa dos escravos, as autoridades da região resolveram pedir o apoio da Guarda Nacional para caçar os fugitivos. As forças militares foram lideradas por Luís Alves de Lima e Silva, o futuro Duque de Caxias, que em 11 de novembro conseguiu capturar a maioria dos escravos, sendo que alguns foram mortos.
Eles foram julgados pela fuga de 16 escravos. Quase todos foram condenados a 650 chibatadas, sendo aplicadas 50 por dia, para que não morressem durante o castigo. Tal situação poderia causar um prejuízo ainda maior ao proprietário dos escravos. Esses escravos foram ainda obrigados a utilizar um gonzo de ferro no pescoço por três anos.
Porém, era necessária ainda uma punição exemplar para inibir novas fugas em massa. Indicado como liderança da rebelião,
Manoel Congo foi condenado à forca, em 1839. A sentença foi cumprida no Largo da Forca em 6 de setembro de 1839, sendo que Manoel Congo não teria direito a enterro. Receosos de novas fugas, os latifundiários da região criaram ainda uma cartilha para orientar os fazendeiros e evitar que episódios como o ocorrido na freguesia de Paty dos Alferes se repetissem. O Quilombo de Manoel Congo era a evidência de que os escravos continuariam sua luta contra a escravidão.
* Em Período Regencial